A ação da Polícia Federal no câmpus da UFMG gerou indignação e protestos entre a comunidade universitária. Durante a manhã, poucas horas após a deflagração da operação Esperança Equilibrista, um grupo foi até a sede da PF para cobrar informações e protestar contra a condução coercitiva de professores. À tarde, representantes de sindicatos e movimentos sociais criticaram o que classificaram como “espetáculo midiático”.
Na operação, Jaime Arturo Ramirez e Sandra Regina Goulart de Almeida, respectivamente reitor e vice-reitora da UFMG, foram alvo de condução coercitiva. Também foram conduzidos outros professores da universidade, como a ex-vice-reitora Heloísa Starling e o presidente da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira.
Durante ato de protesto contra a operação da PF, diante da reitoria, no câmpus da UFMG, o reitor Jaime Arturo Ramírez afirmou que não teria problemas em prestar depoimento para esclarecer os fatos, caso fosse chamado a fazê-lo. “Queria dizer que a professora Sandra (Regina Goulart de Almeida, vice-reitora), eu e outras autoridades da universidade fomos conduzidos de forma coercitiva e abusiva pela Polícia Federal. Se tivéssemos sido intimados antes, nós evidentemente iríamos de livre e espontânea vontade, como a universidade sempre fez. Temos o maior interesse em esclarecer todos os fatos. A UFMG nunca se curvou e jamais se curvará ao arbítrio”.
Para sindicalistas, a operação da PF na UFMG teve tom político, com objetivo de intimidar docentes da instituição que têm se manifestado contra decisões do governo federal sobre políticas públicas para as universidades. Ontem à noite, em assembleia que reuniu professores, alunos e funcionários da UFMG, foram discutidas ações de protesto contra a ação policial.
“A UFMG tem sido muito combativa desde o ano passado contra o corte de recursos e contra as ações para desvalorizar o ensino público. Estive na entrevista do delegado da PF e ele não apresentou qualquer prova. Não soube informar nada sobre as investigações. Uma situação assustadora. Chegou a afirmar que uma das provas era um livro que foi produzido e que não estava no escopo do projeto”, questionou a professora do Departamento de Medicina da UFMG Eli Iola Gurgel Andrade.
A presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas, Beatriz Cerqueira, afirmou que os investigadores condenam os investigados “antes de finalizar o processo e sem dar chance de defesa”. “Não podemos aceitar que essa operação se torne um caso de uma versão só. Que os envolvidos sejam condenados sem sequer ter acesso ao processo e direito de defesa. A UFMG se posicionou contra o sucateamento da universidade pública e acho que o objetivo é desqualificar seus integrantes.”
MÚSICA E POLÊMICA Os professores que participaram dos protestos contra a operação da PF questionaram o próprio nome da Operação Esperança Equilibrista, inspirado no trecho da música O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc. A música é considerada um hino da luta pela anistia durante a ditadura militar, no fim dos anos 1970.
“O caráter político dessa operação aparece já no nome. Uma provocação clara aos que lutaram pela anistia no período militar. Uma ironia lamentável. O que eles querem dizer com isso?”, questionou Eli Iola Gurgel. Procurada para se posicionar diante das críticas à operação, a assessoria de imprensa da Polícia Federal não se manifestou.
NAS REDES A operação ganhou destaque nas redes sociais ao longo do dia e foi um dos temas mais comentados na internet. Vários órgãos ligados ao ensino superior e sindicatos declararam apoio aos professores e à UFMG. Por meio de nota, a Comissão da Verdade de Minas Gerais criticou a “criminalização” do ensino público. “Há um evidente ataque de setores conservadores e autoritários contra universidades brasileiras e tudo que essas instituições representam para o Brasil”, diz a nota.
Durante os protestos contra a operação da Polícia Federal na UFMG, um dos nomes mais citados foi o do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina Luis Carlos Cancellier Olivo. Alvo de uma operação da PF e afastado do cargo na instituição, ele se matou no início de outubro.
O dirigente foi acusado de tentar desviar recursos que deveriam ser investidos em programas de educação a distância, mas sempre negou as acusações. Em carta que escreveu pouco antes de se matar, ele citou o “vexame e a humilhação” a que foi submetido junto com outros colegas.
ENQUANTO ISSO...
...PUC MANIFESTA PREOCUPAÇÃO
A Reitoria da PUC Minas divulgou nota informando acompanhar com preocupação a ação policial envolvendo a UFMG. O texto destaca a competência dos órgãos de controle e da PPF para apuração de denúncias, ao mesmo tempo em que defende “que tais ações se deem dentro do amplo respeito à dignidade e aos direitos individuais e que as autoridades responsáveis não cedam à tentação da espetacularização midiática”.
Da Redação com o Estado de Minas
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