Se sua casa tem água tratada e coleta de esgoto, é bem provável que saneamento básico não esteja entre suas preocupações. Mas deveria estar. Além de atingir diretamente a vida de milhões de pessoas que não têm acesso a esses serviços, é tema crucial para o desenvolvimento do país. Os investimentos em saneamento têm reflexo na saúde das pessoas, no meio ambiente, nos gastos públicos, na economia, na educação e até no turismo. Sim, os dejetos que chegam à natureza sem tratamento influenciam a vida de tudo mundo, inclusive a sua.
Um estudo do Instituto Trata Brasil em parceria com a Sabesp mostra que a universalização do saneamento básico em 20 anos traria ao país benefícios econômicos e sociais de R$ 537 bilhões. Esse dinheiro viria, por exemplo, da redução dos custos com internações hospitalares, da diminuição de tempo de afastamento dos trabalhadores por doenças, da melhora na educação e na geração de empregos. Pelos cálculos do estudo, a cada R$ 1 mil que se investe na expansão da infraestrutura de saneamento, a sociedade brasileira obtém R$ 1,7 mil de retorno social no longo prazo.
Nos últimos anos, é verdade, o Brasil deu um salto enorme. Segundo os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), entre 2005 e 2015 a população atendida por coleta de esgoto passou de 39,5% para 50,3%, o que beneficiou 35,2 milhões de pessoas. O total de brasileiros atendidos por abastecimento de água tratada passou de 80,9% para 83,3%. Mesmo assim, quase metade da população, mais de 100 milhões de pessoas, utilizam medidas alternativas para lidar com os dejetos, muitas vezes jogando o esgoto diretamente em rios. E 34 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada.
“Se você tem água e esgoto, não parece mais uma necessidade. Mas as pessoas não se dão conta que o esgoto dos lugares onde não há coleta e tratamento vai chegar aos mananciais que, em última instância, é a água que você vai beber. Sem falar no custo maior para tratar essa água poluída” diz Caio Portugal, presidente da Associação das Empresas de Loteamentos e Desenvolvimento Urbano (AELO).
Uma mudança no quadro atual não é uma tarefa impossível. Até 2022, o Brasil precisaria de R$ 78 bilhões em investimentos para a ampliação do número de moradias com coleta de esgoto e acesso à água tratada, média de R$ 13 bilhões por ano. É um valor enorme, mas representa só 0,2% do PIB do país. Isso elevaria para 95% as moradias com água encanada e para 80% com coleta de esgoto.
Mas o saneamento básico é bem mais do que coleta de esgoto e água encanada. Incluiu o tratamento desse esgoto, o aproveitamento correto da água tratada, a preservação das nascentes, o descarte correto do lixo e uma série de outras coisas que todas as pessoas podem fazer no dia a dia. Veja abaixo sete motivos para você começar a pensar em saneamento básico.
O maior ganho para o país é na saúde. Investir em saneamento é diminuir a incidência de doenças como dengue, diarreia, infecções gastrointestinais e leptospirose, por exemplo. Um estudo do BNDES estima que 65% das internações de crianças com menos de 10 anos em hospitais sejam provocadas por deficiência ou inexistência de esgoto e água limpa. Outro dado impressionante é a estimativa que 10% de todas as doenças registradas no mundo poderiam ser evitadas com acesso ao saneamento básico. Basta investir, já que a cada R$ 1 em saneamento reverte em R$ 4 de economia com saúde para o setor público.
Redes de saneamento geram empregos. Entre 2005 e 2015, os novos investimentos em saneamento sustentaram 142 mil postos de trabalho anuais, que geraram mais de R$ 11 bilhões por ano de renda na economia do país. E para manter as operações em saneamento foram mais 340 mil empregos no período, com uma renda anual de R$ 43,9 bilhões. Esse dinheiro todo movimenta a economia das cidades pelo Brasil inteiro.
Os reflexos também aparecem na educação, diretamente no rendimento escolar. Crianças que vivem em áreas sem saneamento básico apresentam 18% a menos de rendimento escolar, segundo o mesmo estudo do BNDES.
Um estudo feito pelo Instituto Trata Brasil mostra ainda que o Brasil poderia economizar uma fortuna se melhorasse o saneamento básico. Conforme o levantamento, se houver avanço gradativo em saneamento entre 2015 e 2035, o país teria redução de mortalidade infantil, menos pessoas doentes, menos pessoas afastadas do trabalho e menos despesas com internações do SUS. Isso resultaria em economia de R$ 7,2 bilhões em 20 anos.
Até o turismo ganha com investimentos em saneamento, já que cidades perdem turistas por falta de infraestrutura adequada. Em 20 anos, entre 2015 a 2035, os ganhos com a valorização ambiental para o turismo brasileiro poderiam atingir R$ 24,5 bilhões, um dinheiro que movimenta toda a cadeia turística, da pousada ao vendedor ambulante. A falta de investimentos, porém, gera prejuízos. Em 2015, o país perdeu R$ 9,4 bilhões pela falta de saneamento básico (R$ 5,8 bilhões de renda do trabalho que deixou de ser gerada e R$ 3,6 bilhões de lucros e impostos que deixaram de ser arrecadados).
Investir em saneamento básico é investir diretamente no meio ambiente e numa vida melhor para as próximas gerações. Os dejetos jogados nos córregos e afluentes chegam aos rios. E isso tem reflexo direto no tratamento de água. Ou seja, se os rios estivessem mais limpos, se gastaria menos dinheiro para tratar a água que as pessoas consomem. Isso poderia ter reflexo, inclusive, na tarifa que você paga.
Uma população com saneamento básico produz mais porque falta menos ao trabalho. Em 2013, o Brasil teve mais de 14 milhões de afastamentos por diarreia ou vômito, segundo o Ministério da Saúde. Em cada afastamento, as pessoas ficaram 3,32 dias em média longe de suas atividades. Em 2015, o custo com horas não trabalhadas chegou a R$ 872 milhões.
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