Estabilidade, melhor remuneração, horários que variam pouco, segurança, garantia de feriados... Desejos de muitos trabalhadores que podem ser alcançados com um cargo público via concurso. Carreira atrativa para alguns, mas que não agrada a todos. No entanto, diante de um cenário de 14 milhões de desempregados e com a reforma trabalhista aprovada, um emprego estável passa a ser a melhor saída para grande parte dos brasileiros. Para quem traçou esse caminho, há muitas oportunidades com inscrições abertas e provas neste segundo semestre. Além das dicas e orientações de especialistas e concurseiros que descobrirão em seguida, fiquem de olho ao longo da semana no www.megacidade.com, que publicará as melhores oportunidades de vagas públicas disponíveis.
Tribunal Superior do Trabalho (TST), Hospital Metropolitano Odilon Behrens, Marinha, Copasa, Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Pré-Sal Petróleo, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Copanor-Copasa Serviços de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas Gerais S/A, Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte S/A – Prodabel, Advocacia-Geral da União (AGU)... a lista é bem maior e atraente, com salários que partem de R$ 1.100 e chegam a R$ 22 mil, dependendo da área, formação e cargo pretendidos. As oportunidades estão aí e, agora, é com você. Para se candidatar e ter chance de aprovação, saiba que é necessário fazer sacrifícios e estudar pra valer.
A especialista em carreira Elma Santiago, professora da Faculdade IBS/Fundação Getúlio Vargas, antes de mais nada avisa que “há muitos concursos abertos, mas com a contratação suspensa. Liberam o edital, mas para convocar, com a crise em que vivemos, é mais complicado ainda. Mas quem quer um emprego público nunca deixa de se preparar. Tendo ou não abertura de vagas, não tem como parar de estudar. O conhecimento é cumulativo.”
PREPARAÇÃO
Elma Santiago enfatiza que quem pretende ser aprovado tem regras a seguir. E elas são inegociáveis diante de uma missão difícil. “Primeiro, tem de ter foco. E, depois, saber de fato o que quer. A disciplina é fundamental, assim como a vontade de estudar. Nada de atirar para todo lado. É necessário saber o resultado que se pretende alcançar. A preparação pode ser sozinha ou em um cursinho. Em casa, exige-se autodisciplina para ter melhor chance de aprovação. E todos precisam ter dedicação, força de vontade, persistência, ser perseverante e acreditar, porque o concurso passa a ser um objetivo de vida. Se estiver certo do que quer, seguramente você vai traçar caminhos para atingir o objetivo”, já que o concurseiro também vai lidar com a sensação da derrota, caso seja reprovado, e não pode desanimar.
Além dos ganhos já badalados, estabilidade, vários benefícios, remuneração diferenciada e mais alta, a professora chama a atenção para outro ponto positivo: “O concurso pode mudar a direção da carreira, mesmo sem a especialização ou graduação da área (exceção para áreas específicas, como promotores e juízes, que têm a obrigatoriedade da formação em direito). Aliás, o fato de escolher o concurso público já significa mudança de carreira”, enfatiza a professora.
Por outro lado, nada é tão perfeito assim. “A carreira pública traz estagnação. É possível até aperfeiçoar, mas dentro daquela carreira, em linha reta. A ascensão é mais demorada se comparada com a iniciativa privada. Muitas vezes, a promoção depende da aposentadoria de um colega, de dar baixa ou pedir exoneração. É preciso, dependendo da vaga, estar disposto a mudar de cidade. E tem ainda o risco do tempo de homologação. O prazo pode correr, o candidato não ser chamado e voltar à estaca zero, começar tudo de novo. Mas tudo vale a pena para quem sabe onde se encontra e é possível fazer uma bela carreira com concurso público”, alerta Elma Santiago.
Não é para desanimar, mas um alerta de Elma Santiago quanto à concorrência cada vez pior nos concursos. Para ela, a disputa candidato/vaga tende a aumentar por três motivos: “Falta de emprego, remuneração e uma percepção particular e ainda vaga, pela reforma trabalhista. No setor privado, é trabalhar mais e ganhar menos. No público, é trabalhar o suficiente e ganhar mais”.
RAROS EDITAIS
Rodrigo Borges, coordenador pedagógico e professor do Pro Labore, explica que de 2016 até o primeiro semestre deste ano os concurseiros enfrentaram “um deserto de concursos, com raros editais por causa da situação econômica dos estados e municípios e pela política de austeridade do governo federal para conter gastos, principalmente para respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto dos gastos. Agora, neste segundo semestre, perspectivas se abrem porque há órgãos e instituições em processo de espera, fazendo suas comissões e podendo autorizar concursos, essencialmente, para efeito de reposição dos quadros. Seja por aposentadoria, morte ou troca de oportunidades, o que gera vacância, e a máquina começa a ser prejudicada. É preciso repor o quadro”.
Notícia animadora depois de tanta espera, é que Rodrigo Borges acredita que mais aberturas ocorrerão à medida que as carências pontuais forem identificadas. “A tendência é reabrir e a expectativa é de ampliar. Não teremos concursos com volume de vagas pequeno, mais o cadastro de reserva.” Aliás, o professor alerta que é comum os candidatos desanimarem com ofertas só de cadastro, o que é um erro. “Às vezes, ficam desinteressados e desmotivados. No entanto, na vigência de concursos de dois a quatro anos muitos são chamados. Para o TRF-1, que contempla Minas Gerais, por exemplo, eram 25 vagas, mas nomearam mais de 300 no último concurso. Logo, é um mito. Vale muito investir, estudar e aguardar”.
Por outro lado, Rodrigo Borges confirma que a competitividade terá alta considerável. Ele lembra que o do INSS nível médio na virada de 2015/2016, um dos concursos mais esperados para técnico de seguro social, bateu recorde em número de inscritos. “Foram 1,1 milhão e, como as vagas eram fracionadas, teve lugar com mais de 20 mil candidatos/vaga. Isso ocorreu porque demorou a sair e, quando foi liberado, houve um prazo de seis meses para preparação”.
Para os concurseiros, a dica é estar atento aos editais e nunca parar de estudar. Já para quem é marinheiro de primeira viagem ou, forçado pelo desemprego, acredita que a carreira pública é a saída, o professor dá dicas preciosas. “Primeiro, mesmo sem saber o que escolher, fazer ou por onde ir, prepare-se para as matérias básicas: português, direito constitucional e administrativo. Elas são a base de quase todos os concursos. Se for para o ensino médio, invista no raciocínio lógico. Tem ainda noções de informática. E no superior, na área administrativa, como a financeira e pública. Depois, já decidido, foque nas matérias do segmento do concurso que deseja, como direito penal para a Polícia Federal, por exemplo”.
Outro alerta de Rodrigo Borges para o candidato é ter cuidado com o material didático. “Tenha direcionamento, fique atento ao material disponível porque nem tudo é confiável. E se informe sobre a editora e o elaborador. Quanto à forma de estudo, on-line ou presencial, digo sempre que a escola, o cursinho, dá a bússola, é o guia, e vai nortear o candidato para aproveitar melhor o tempo, que é sempre relativo. Aliás, ele não é quantitativo, mas qualitativo. Muitos estudam errado e a sequência correta é: teoria e, em seguida, prática (exercícios). Perto da prova, inclua os aulões da escola, que oferecem uma síntese da matéria com tópicos que, a princípio, são os mais cobrados. É possível também matricular-se em disciplinas isoladas, onde terá mais foco na matéria específica, o que otimizará tempo. No on-line é para quem consegue se adaptar, porque exige disciplina. Se tem uma dúvida, não irá saná-la na hora. Pode até ter fóruns ou chat, e-mail do professor, mas terá de entrar numa fila de espera para solucioná-la”.
Dica surperimportante de Rodrigo Borges é para aqueles sem dinheiro para investir num curso. “Pesquisei e a nossa Biblioteca Pública Luiz de Bessa tem um acervo rico para estudar e alunos antigos doam os livros que não precisam mais. No Pro Labore há uma mesa no saguão, logo na entrada, em que edições são compartilhadas periodicamente e todos os livros são gratuitos. Dividir conhecimento.” Por fim, o coordenador pedagógico lembra a todos os candidatos: “Acreditem”. Ele dá a receita: “Um verbo, acreditar; um princípio, disciplina; um objetivo, o nome na lista de aprovados”.
Uma questão de perfil
Os três pilares da carreira pública – estabilidade, remuneração e horário – são sedutores, mas Fernanda Schröder, gerente nacional de carreiras do Ibmec, lembra que a competitividade pela busca da primeira conquista vai aumentar diante de um país com 14 milhões de desempregados. No entanto, ela destaca que o profissional precisa ter em mente que “o concurso não é resultado imediato, mas a médio prazo, já que tem várias etapas que passam pela escolha adequada, liberação de edital, estudo, aprovação e até o cadastro reserva. Portanto, tudo é questão de planejamento”.
Apesar do cenário desanimador, Fernanda Schröder não vê o concurso como a única saída, mas sim como mais uma possibilidade de carreira. Para ela, qualquer um pode encarar a carreira pública, mas a especialista recomenda que o candidato se identifique. “É uma carreira mais burocrática, até pelo fato de lidar com estruturas grandes, além de o setor lidar com uma imagem, que não é só preconceito, mas uma realidade diante de trabalhadores estagnados, acomodados, ainda que não sejam todos. Diferentemente do setor privado, o processo inovador e criativo não acontece na mesma velocidade por causa da rotina e até por não terem medido a produtividade. Não é generalizar porque seria perigoso. Mas há diferenças discrepantes.”
FRUSTRAÇÕES
O alerta de Fernanda Schröder é pertinente para que a escolha do cargo e instituição seja adequada. “Os pilares são fortes, é possível escolher uma carreira dentro da carreira pública, mas é importante ter consciência de que ela também pode gerar frustrações.”
Em análise particular e interessante, ainda que alerte não ter coleta de dados, Fernanda Schröder acredita que o setor público terá de ser transformado em função da nova geração que chega como mão de obra. “Esses jovens querem propósito, trabalhar com projetos e querem dar uma contribuição. Por isso, penso que o status quo terá de mudar. Vejo que os profissionais de meia-idade buscam o concurso porque estão sem perspectiva de carreira; já os jovens querem salário vantajoso, estabilidade, mas são impacientes. Assim, acredito que o problema do sistema público será como trabalhar a retenção desta força de trabalho.”
Mas Fernanda Schröder destaca que são escolhas. “A reflexão é: qual é o seu propósito, visão, missão e valores para sua carreira?”.
Os mais procurados
Cargos mais desejados e concursos cobiçados de acordo com Rodrigo Borges, coordenador pedagógico do Pro Labore, já com autorização e comissão formada, mas ainda sem edital:
1) Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ)
2) Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT-RJ)
3) Superior Tribunal Militar (STM)
4) Tribunal Superior do Trabalho (TST)
5) Ministério Público da União (MPU)
6) Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
7) Advocacia-Geral da União (AGU)
8) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
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