O cruzeirense morto durante uma emboscada a um ônibus de torcedores em São Paulo, neste domingo (27), era visto como um homem alegre e querido por muitas pessoas. Uma das principais características de José Victor Miranda, então com 30 anos, era o amor pela Raposa.
“Ele era muito alegre e fanático pelo Cruzeiro. Ele era doente com esse clube, inclusive, já foi saiu do Brasil para assistir a um jogo”, contou a artesã Telma Lopes, tia da vítima.
Quando criança, Miranda foi pajem na cerimônia de casamento de Telma. Ele foi um dos escolhidos para dançar valsa no baile de debutante da prima.
“Sempre quando ele passava aqui perto de casa, fazia questão de vir aqui para me pedir a bênção, mas agora não vou mais ouvi-lo falar isso”, lamenta.
O cruzeirense vivia na cidade de Sete Lagoas, a 70 km de Belo Horizonte. Ele era membro da torcida organizada Máfia Azul no município de aproximadamente 227 mil habitantes.
De acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), Miranda ficou ferido com o incêndio que destruiu o ônibus que transportava os torcedores do Cruzeiro. O veículo foi alvo de uma emboscada na rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, na região metropolitana de São Paulo. A suspeita é que membros da torcida Mancha Verde do Palmeiras estejam envolvidos com o ataque. Ao menos outras 17 pessoas também ficaram feridas.
Um tio e a irmã de Miranda foram para São Paulo na manhã deste domingo para liberar o corpo.
O ônibus que transportava torcedores do Cruzeiro saiu de Curitiba, no Paraná, onde o grupo acompanhou a partida contra o Athletico Paranaense, pelo Campeonato Brasileiro, nesse sábado (26). O veículo tinha como destino Minas Gerais. Por volta das 05h, o coletivo foi interceptado enquanto passava pelo quilômetro 66 da rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, na Grande São Paulo.
De acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), os criminosos espalharam, na rodovia, pregos conhecidos popularmente como miguelitos, para furar os pneus do ônibus, que foi incendiado. O grupo também usou bombas a rojões caseiros no ataque. Vídeos mostram o grupo disparando uma série de rojões contra o veículo.
Cruzeirenses foram torturados pelos agressores. Vídeos gravados no local mostram homens caídos pela rodovia, enquanto os criminosos os espancavam com barras de ferro e de madeira. Pelas gravações, também é possível ver vítimas implorando por socorro. Algumas delas estavam ensanguentadas e seminuas. Fotos mostram as camisas dos torcedores celeste sob posse dos agressores.
Até às 13h, a PRF havia identificado 18 feridos no ataque. Um deles, José Victor Miranda (foto), de 30 anos, morreu após ser levado para o hospital. Ele teve ferimentos pelo graves causados pelo incêndio. O cruzeirense morava em Sete Lagoas, a 70 km de Belo Horizonte e fazia parte da torcida organizada Máfia Azul. Ele deixa um filho ainda criança. Um tio e uma irmã da vítima foram para São Paulo providenciar a liberação do corpo.
O balanço da Polícia Rodoviária Federal aponta que 15 pessoas, incluindo José Victor, foram levadas para o Hospital Anjo Gabriel, em Mairiporã. A unidade de saúde ainda não se manifestou sobre o quadro clínico dos pacientes. Outras três foram encaminhadas para o Pronto Socorro de Franco da Rocha. A reportagem tenta contato com o hospital.
Ainda segundo o PRF, dentre os feridos, há um homem baleado no abdômen. Sete pessoas teriam tido traumatismo craniano.
O contexto do crime ainda é investigado, mas testemunhas relataram à polícia que suspeitam de possível reação em relação a um confronto entre membros da Mancha Verde do Palmeiras e da Máfia Azul em setembro de 2022, em Carmópolis de Minas, cidade a 125 km de Belo Horizonte. Na ocasião, o presidente da torcida alviverde, Jorge Luis foi espancado. A versão ainda não foi confirmada pelas autoridades.
A PRF estima que cerca de 120 pessoas atuaram no ataque deste domingo. Todas elas fugiram antes da chegada da polícia. Ninguém foi preso até o momento.
Vídeos mostram homens encapuzados e usando capacetes, espancando torcedores. Em uma das gravações, é possível ouvir um agressor anunciar: “é a Mancha Verde do Palmeiras”.
A reportagem tenta contato com as torcidas envolvidas.
“O Cruzeiro lamenta profundamente mais um episódio de violência entre torcedores, desta vez durante a madrugada, na rodovia Fernão Dias, que culminou com a morte de um cruzeirense e vários feridos. Não há mais espaço para violência no futebol, um esporte que une paixões e multidões. Precisamos dar um basta a esses atos criminosos”, declarou o Cruzeiro.
“A Sociedade Esportiva Palmeiras repudia as cenas de violência protagonizadas na Rodovia Fernão Dias, na manhã deste domingo. O futebol não pode servir como pano de fundo para brigas e mortes. Que os fatos sejam devidamente apurados pelas autoridades competentes e os criminosos, punidos com rigor”, declarou o Palmeiras.
No início da tarde de hoje, a Federação Mineira de Futebol emitiu nota de repúdio ao ataque. “Acreditamos que o futebol deve promover a união, a celebração do esporte e o respeito entre adversários, nunca a violência. Reiteramos nossa esperança por um ambiente de segurança para todos os torcedores, dentro e fora dos estádios, e esperamos que os responsáveis sejam identificados e responsabilizados” disse a entidade.
“Desejamos boa recuperação para os cerca de 20 feridos e lamentamos profundamente a morte de um torcedor do Cruzeiro. Esperamos que essas cenas de crime e guerra parem de ocorrer no futebol brasileiro”, concluiu a federação.
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