O feriado de Corpus Christi faz parte do calendário católico. Contudo, mesmo quem não segue os preceitos da religião, se beneficia, já que é um ponto facultativo normalmente transformado em feriado e que sempre cai na quinta-feira.
Mas por que o Corpus Christi não tem uma data certa e por que só os católicos consideram o feriado uma festividade religiosa? Conheça mais sobre a data abaixo.
“Corpus Christi” é uma expressão em latim, idioma até hoje em voga nos ritos católicos, que significa “corpo de Cristo”. A data também é conhecida como “Corpus Domini” (“corpo do Senhor”, em português). A festividade tem o objetivo de celebrar, publicamente, a eucaristia —sacramento católico que relembra a Última Ceia.
“A palavra eucaristia, antes de tudo, significa Ação de Graças. É a celebração do sacrifício de Cristo na cruz. Costumamos dizer que a celebração da eucaristia é a memória da paixão, morte e ressurreição de Cristo”, explica Dayvid da Silva, padre, professor e coordenador do curso de teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Durante a eucaristia, que é feita em todas as missas católicas, são distribuídas aos fiéis a hóstia, uma espécie de pão sagrado que representa o corpo de Cristo. Aqui, uma curiosidade: como alguns acreditam, morder a hóstia não é pecado, afirma o padre.
O Corpus Christi foi instituído como uma nova data comemorativa e não adaptada de uma tradição anterior, como acontece com a Páscoa, por exemplo. A festa surgiu por iniciativa do papa Urbano 4º, que instituiu o Corpus Christi oficialmente por meio da bula Transiturus, em 8 de setembro de 1264.
O pontífice não inventou a festa da cabeça dele. Quando ainda era um padre, conheceu na Bélgica uma freira chamada Juliana de Mont Cornillon —mais tarde conhecida como Santa Juliana—, que teria visões. Ela afirmara que o próprio Cristo lhe dizia para que a eucaristia fosse celebrada com honra. Isso teria ficado na cabeça do futuro papa. Além disso, houve outro episódio decisivo: o chamado Milagre de Bolsena.
“Diz a história que um padre tinha dúvidas quanto à presença de Cristo na eucaristia e aí ele peregrinou a Roma. Na cidade de Bolsena, resolveu celebrar a missa e, quando ele partiu a hóstia, começou a escorrer sangue”, conta Silva.
O sangue teria sido tanto que não apenas encharcou o corporal, um pano quadrado que fica no altar, mas manchou o chão da igreja. Então Urbano 4º, agora papa, ordenou que os objetos sagrados do evento fossem levados à cidade de Orvieto em procissão.
Juntado o episódio de Bolsena com a lembrança da freira Juliana, o pontífice decretou que o Corpus Christi passasse a ser considerado uma festividade oficial da Igreja Católica. A festividade chegou ao Brasil pelos portugueses que povoaram o Brasil Colônia.
Boa parte dos eventos religiosos possuem relação com a Páscoa. Logo, se a data da Páscoa é alterada a cada ano, o mesmo acontece com o Corpus Christi. O cálculo é o seguinte: a festa acontece na quinta-feira imediatamente depois do domingo da Santíssima Trindade —que, por sua vez, ocorre no domingo seguinte ao Pentecostes.
O Pentecostes acontece 50 dias após a Páscoa. Portanto, o Corpus Christi acontece 60 dias após a Páscoa. Em 2021, o Domingo de Páscoa foi em 4 de abril, então o Corpus Christi ocorre em 3 de junho.
Uma das tradições mais presentes no Corpus Christi é a confecção de tapetes. Em diversas cidades do Brasil, fiéis produzem imagens com sal, serragem, borra de café e outros materiais. O significado é preparar o caminho por onde o corpo de Cristo vai passar.
“É a preparação da via onde o sacramento vai passar. Normalmente, é feita com antecedência, na madrugada”, explica o frei Lisaneos Prates, também professor da PUC-SP.
A tradição teria se iniciado no arquipélago dos Açores, pertencente a Portugal, no século 13. Daí, foi “importada” para o Brasil com a chegada dos portugueses, a partir de 1500. Na quinta-feira de manhã, acontece a missa solene e então a procissão.
“A procissão é na rua, com a hóstia grande, que se coloca na custódia, que passa a ser chamada de ostensório. E aí o povo, para prestar devoção, vai percorrer as ruas para abençoar a cidade. O terceiro momento é a adoração do sacramento, quando o padre ou diácono estende o ostensório ao povo, abençoando”, completa Prates.
Para muitos evangélicos e cristãos da linha protestante, o Corpus Christi é somente um feriado “comum”, sem contornos religiosos. O motivo é simples: diferenças interpretativas em relação ao sentido da eucaristia.
Para os católicos, durante a cerimônia, acontece um fenômeno chamado transubstanciação —basicamente, a transformação real e literal da hóstia e do vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo.
Para os protestantes, em linhas gerais, o que acontece é a consubstanciação. Ou seja: o pão e vinho continuam sendo alimento, sem a transformação entendida pelos católicos.
“Os protestantes compartilham com os católicos os sacramentos da eucaristia e o batismo. Mas não se comemora o Corpus Christi por causa da discordância em relação à eucaristia, à Santa Ceia”, explica Gerson Leite de Moraes, coordenador do curso de teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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