Quase quatro em cada dez mineiros vivem o pior cenário das finanças pessoais: a inadimplência. Conforme a pesquisa DATATEMPO, 35,4% dos moradores do Estado estão com contas em atraso, enquanto outros 64,4% dizem estar com os boletos em dia. Outros 0,2% não souberam ou preferiram não responder.
O percentual de inadimplentes é maior entre as mulheres que entre os homens: 37,8% contra 32,8%, uma diferença de cinco pontos percentuais. No recorte por faixa etária, a maior quantidade de pessoas “enroladas” com as faturas se dá no intervalo entre 25 e 34 anos: 40,7%. O percentual, no entanto, é bem parecido com o dos adultos entre 35 e 44 (39,2%) e entre 45 e 59 anos (39,4%).
O DATATEMPO também pesquisou a inadimplência por renda salarial média. Nesse quesito, como já era de se esperar, os mais pobres são os que têm mais contas em atraso: 41,7% daqueles que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.640) estão nessa situação.
Por região administrativa de Minas, os maiores percentuais de inadimplentes estão no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (39,2%); metropolitana de Belo Horizonte (38,4%); e Norte (36%). Na região Central está o menor – 27,3%.
Para além da inadimplência, a situação econômica também força os mineiros a optar pelo parcelamento das contas, o chamado “endividamento”. Conforme a pesquisa, 58,9% dos entrevistados afirmam ter faturas parceladas, sendo que a maior parte delas (38,7%) será quitada entre quatro meses e um ano. Esse quadro é diferente da inadimplência, que só acontece quando há atraso nos pagamentos.
O parcelamento das contas também é maior entre as mulheres que entre os homens: 64,7% contra 52,4%. Os adultos entre 25 e 34 anos são os que mais optam por esse tipo de pagamento (69,2%), seguidos por aqueles de 35 a 44 anos (68,7%).
No recorte por renda, o parcelamento é maior entre os mais ricos (64,2%), que ganham acima de R$ 6.600. Entre as regiões administrativas, o prolongamento dos pagamentos em parcelas é maior no Vale do Jequitinhonha (62,2% dos entrevistados têm ao menos uma conta nessa condição).
A inadimplência de 35% em Minas, como mostra o DATATEMPO, não é exclusividade do Estado. Conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), mostrou neste mês que 29% dos brasileiros estão com contas em atraso. Houve uma redução em relação a novembro, quando o índice era de 29,7%. Esse é o menor patamar desde junho de 2022.
Imagine viver com apenas R$ 740? Essa é a realidade de Alexandra Sequeira, de 50 anos, moradora do bairro Xangrilá, em Contagem. Há dois anos, ela contraiu um empréstimo bancário no modelo consignado, no qual o desconto se dá diretamente na fonte. O valor de R$ 17 mil seria quitado em cinco anos. Ainda longe de se ver livre do fardo, ela conta à reportagem que abre mão de coisas básicas para conseguir sobreviver diariamente.
“Carne mesmo eu raramente como. Eu dei um passo maior que minhas pernas. Tenho uma deficiência física e muitos problemas de saúde. Preciso comprar medicamentos todos os meses. Se eu receber uma conta de R$ 50 hoje, entro em parafuso. Não tenho como pagar. Tudo que tenho vai para a alimentação básica, água, luz e internet”, diz a mulher, que tem três filhos, mas hoje vive sozinha na região metropolitana de Belo Horizonte.
A presidente nacional da Associação Brasileira de Profissionais em Educação Financeira (Abefin) Mulher, Luscimeia Reis, diz que a inadimplência é o pior cenário financeiro possível para uma família. Ela lembra que os índices costumam crescer consideravelmente após as festas de fim de ano e as férias, justamente pelo aumento dos custos e das compras sem responsabilidade.
“O impacto da inadimplência nas famílias vai além das questões financeiras. Além das possíveis restrições de crédito e do aumento das taxas de juros, é importante destacar os efeitos emocionais desencadeados pelo estresse financeiro. Famílias sob pressão financeira muitas vezes enfrentam desafios psicológicos significativos, como ansiedade e tensão” explica Luscimeia.
Para a especialista, é necessário implementar a educação financeira nas escolas para evitar gastos sem controle e manter o bem-estar das famílias.
Para a educadora financeira, o grande vilão do orçamento das famílias continua sendo o cartão de crédito. “O uso do cartão de crédito no Brasil foi banalizado a partir do momento que se mudou seu real sentido, que era evitar a circulação do dinheiro vivo. Tanto que em vários países não existe o parcelamento do cartão, como ocorre no Brasil. Então, a prioridade no Brasil é educar o brasileiro a ‘usar bem o cartão de crédito a seu favor’”, afirma a especialista.
“Esperançoso”. Esse é o adjetivo mais usado pelos mineiros quando questionados sobre o atual momento do Estado, conforme levantamento do DATATEMPO. Segundo a pesquisa, 36,8% usam essa palavra para definir a situação, enquanto 28,6% estão preocupados, 11,2%, alegres, e 6,6%, indignados.
Outros termos citados pelos entrevistados são medo (5,6%), entusiasmo (5,3%) e tristeza (4,4%). Outros 1,6% não responderam ou não souberam responder.
O DATATEMPO também questionou os entrevistados sobre o problema mais grave de Minas no momento. Para 21,8%, a questão que mais merece cuidados é a saúde. Depois, aparecem o desemprego (15,9%), a falta de segurança (7,4%) e a má qualidade da educação (6,3%).
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