Em abril do ano passado, a professora de educação física Cássia Sayonara da Silva, de 37 anos, encontrou um caroço na axila que achou estranho. Sem plano de saúde, buscou um médico particular, de uma rede voltada a consultas acessíveis, que disse que era apenas uma ‘mastite’, inflamação da mama devido ao aleitamento do pequeno Arthur, então com um aninho. “Continuei com o caroço até outubro. Parei de amamentar e tinha uma pedra no peito. Fui a uma mastologista, que desconfiou e pediu um ultrassom e mamografia. Em novembro pediu biópsia e descobrimos o câncer. O tumor já estava grande, com 5 cm”, conta Silva. A professora é uma das milhares de mulheres no país, com até 40 anos, que fez o exame que detecta o câncer de mama antes da idade recomendada pelo Ministério da Saúde (a partir dos 50). Um levantamento do Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury apontou um aumento de 48% na procura pelo diagnóstico nesta faixa etária, em Minas, só neste ano. Índice maior do que o do país, de 35%.
Nesta quinta-feira (19/10), é celebrado o Dia Internacional de Combate ao Câncer de Mama. A mamografia é considerada o exame mais eficaz para detectar precocemente a doença.
Silva começou seu primeiro tratamento, das 16 quimioterapias previstas, em 29 de dezembro. Em julho realizou uma mastectomia parcial, com a implantação de prótese mamária e ainda enfrentará a radioterapia e a imunoterapia, mas a resposta ao tratamento do câncer está sendo excelente.
Segundo ela, quando a paciente entra no hospital oncológico vê que não é incomum o câncer de mama em mulheres mais jovens. “Tenho duas amigas, uma de 25 e outra de 28, sem histórico familiar, que estão em tratamento”, explica.
A doença, para ela, foi um choque. “Eu sou professora de educação física, além de fazer atividade física quatro vezes por semana, tenho alimentação equilibrada, amamentei por dois anos, não fumo, não bebo, não tenho nenhum histórico na família… Fiz, teoricamente, tudo direitinho e tive tumor. Câncer não tem idade. Não escolhe. O mais importante é a prevenção, fazer exames regularmente”, afirma Silva.
A professora reclama que o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é muito limitado na questão de mamografia e ultrassom. “Não pode fazer ultrassom se tiver menos de 40 anos. Tem indicação somente se tiver paciente [oncológico] na família”, lamenta.
Juliana Barroso Guedes, de 44 anos, gerente médica de RDI, do São Marcos – Saúde e Medicina Diagnóstica, que pertence à Dasa, pondera que, atualmente, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, já recomenda o rastreamento mamográfico anual para as mulheres de risco habitual entre 40 e 74 anos. “Mulheres com risco maior que o habitual, entre elas as com mamas densas, com história pessoal de hiperplasia lobular atípica, carcinoma lobular in situ clássico, hiperplasia ductal atípica, tratamento de câncer de mama ou de irradiação no tórax antes dos 30 anos, ou ainda portadoras de mutação genética ou com forte história familiar, se beneficiam do rastreamento complementar, sendo consideradas de forma individualizada”, explica.
De acordo com um levantamento recente da Dasa, rede de saúde integrada do Brasil que tem mais de mil unidades diagnósticas e 15 hospitais, o número de mamografias no primeiro semestre deste ano cresceu 16,23% em comparação ao mesmo período de 2022. Apesar do dado positivo, a pesquisa também revelou um número significativo de mulheres que procuraram a rede e não fizeram o exame, mesmo com a indicação: cerca de 230 mil.
Na Alliança Saúde, grupo do qual a Axial faz parte, o número de mamografias realizadas passou de 17.473 em 2022 para 18.463 até o momento.
PROCURA POR MAMOGRAFIA
Mulheres com até 40 anos
Fonte: Hermes Pardini/Grupo Fleury
Ivie Braga de Paula, médica radiologista especialista em mama do Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury, conta que a mamografia já existe há mais de 30 anos, mas vem evoluindo. Uma nova técnica que vem sendo difundida, segundo ela, é a tomossíntese, que faz imagens da mama “em fatias”, em 3D, e promete aumentar o diagnóstico do câncer de mama em até 50%.
“Na mamografia, você transforma uma estrutura, que é redonda, num filme impresso. Então, se você tem um nódulo em cima e um tecido glandular embaixo que tem a mesma densidade no raio x, essas imagens se somam e o nódulo pode ficar escondido. Então, a tomossíntese traz esse benefício de tornar os nódulos mais evidentes e, ao mesmo tempo, de desfazer as imagens que são apenas somatórias de tecido mamário e que geram dúvidas no médico radiologista quando está olhando o exame”, detalha.
Ela explica que este método reduz em até 30% a necessidade de incidências adicionais, que seriam quando o médico radiologista tem dúvida sobre uma área e precisa fazer uma compressão maior na região para espalhar o tecido mamário e fazer a investigação se tratasse de um nódulo ou sobreposições de glândulas. “É um método novo que já é a escolha de rastreamento na Europa e nos Estados Unidos e que está vindo com força total para o Brasil”, diz.
A médica conta que, atualmente, ele é feito somente de forma particular e custa pouco mais que a mamografia, em torno de R$ 250. O Hermes Pardini não oferece o procedimento em Minas.
Na Alliança Saúde, responsável pela Axial, há uma mamografia digital, que oferece maior conforto ao utilizar um compressor curvo, que se adapta ao formato da mama. “Se por um lado as técnicas atuais podem mostrar que 40% das mulheres sentem dor ao realizar a mamografia tradicional, essa nova tecnologia aponta que 93% das pacientes que foram examinadas com o compressor curvo não sentiram dor e nenhuma sensação desconfortável”, conta Rafael Canineu, geriatra e diretor médico de Health Analytics da Alliança Saúde. O aparelho está disponível apenas em São Paulo por enquanto.
Atualmente, a tomossíntese já é usada em unidades da Dasa, no Brasil, mas não há previsão do uso dessa tecnologia no Estado, onde as unidades oferecem apenas a mamografia digital.
O Colégio Brasileiro de Radiologia por Imagem e Diagnóstico por Imagem está em campanha para que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) inclua a tomossíntese no rol de procedimentos das operadoras. A ANS abriu uma consulta pública sobre o tema.
Minas tem cerca de 7.670 novos casos de câncer de mama até o momento, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O câncer de mama é o segundo mais incidente entre as mulheres no Brasil, atrás apenas do tumor de pele não melanoma, e deve acometer, até 2025, cerca de 74 mil novas pacientes.
Como parte da campanha ‘Outubro Rosa’, o Instituto Mário Penna, referência no tratamento oncológico em Minas, realiza neste mês um mutirão de mamografias gratuitas. O Instituto informou que todas as 2 mil vagas anunciadas foram agendadas, mas que as mulheres interessadas no procedimento devem ficar atentas para a repescagem do projeto nos próximos dias. Vagas remanescentes devem ser anunciadas no site e perfis oficiais do Instituto. Dúvidas podem ser retiradas no telefone (31) 3349-1212.
A Prefeitura de Belo Horizonte também informou que neste mês 2 mil mamografias extras serão realizadas em relação à média mensal nos prestadores da rede SUS-BH: além do Mário Penna, na Clínica Radiológica Martins e Godoy, no Complexo Hospitalar São Francisco, na Santa Casa e no Unimagem. A ação contempla mulheres que já passaram pela primeira consulta nos centros de saúde e aguardam o procedimento, sendo os casos de maior necessidade sendo agendados de forma prioritária.
O Sesc Centro de Excelência em Saúde também disponibilizou no início do mês 500 mamografias gratuitas. Ainda há cerca de 200 vagas disponíveis. Mulheres entre 50 e 69 anos podem realizar o exame sem a necessidade de pedido médico, enquanto aquelas com idade inferior a 50 e superior a 69 anos precisam apresentar o pedido. A última “rodada” de agendamento será no dia 25/10 e deve ser feito pelo telefone (31) 3270-8100.
Fonte: O Tempo
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