Um ventilador ou ar-condicionado, um recurso comum para muitos brasileiros, mas negligenciado em inúmeras escolas públicas do país. Com isso, a pergunta é: como isso afeta o cérebro dos estudantes e, consequentemente, seu aprendizado?
Segundo o Censo Escolar 2022, sete em cada dez salas de aula de escolas públicas (municipais e estaduais), não possuem qualquer tipo de climatização. Entende-se como climatização, segundo o Censo, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado.
Em estados com temperaturas mais elevadas ao longo do ano, como Maranhão, Rio Grande do Norte, Ceará, Mato Grosso, Pará e Goiás esta situação é ainda mais preocupante, o que impacta diretamente na assimilação de informações por estes estudantes, como explica a neurocientista parceira do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci.
Modo sobrevivência X aprendizagem
Segundo a especialista, toda função cognitiva e comportamento humano é regido pelas emoções e, antes das emoções, pelo estado de viabilidade do corpo, ou seja: pela sobrevivência.
Quesitos como hidratação e temperatura corporal são fundamentais para que o corpo consiga focar em uma nova informação ou não.
“No nosso corpo é como se fosse uma escada de importância: primeiro vêm as necessidades fisiológicas de homeostase, que é o que mantem o corpo viável, vivo, saudável e, com isso, o corpo é monitorado a partir de dados que vão chegando dos órgãos: a quantidade de água disponível, o nível de hidratação, se eu tenho glicose disponível no sangue, se a temperatura está regulada e se o sono está em dia. Todas essas informações mostram para o cérebro que o corpo está viável, em termos de homeostase, que é o equilíbrio necessário para a vida”, detalhou.
No país*, 225 cidades têm pelo menos 95% das salas com ar-condicionado, enquanto 764 cidades não têm ar-condicionado em nenhuma escola. Entre as sete maiores cidades brasileiras que já vivem em estresse térmico (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Belém e Goiânia), somente três — as capitais fluminense, pernambucana e amazonense — possuem mais da metade das salas climatizadas.
É possível aprender em meio a altas temperaturas?
Seja para um adulto ou mesmo uma criança em idade escolar: qualquer condição que alerte o cérebro para a sobrevivência terá sempre prioridade na atenção do indivíduo.
“Uma vez que o corpo está em equilíbrio, com tudo necessário para sobreviver, é como se eu sinalizasse para o cérebro que está tudo certo e, aí sim, as emoções, a partir do que acontece no meio, vão influenciando o cérebro a tomar decisões, a cognição, e o nosso funcionamento mais consciente. Todo pensamento consciente é influenciado pela emoção que por trás é influenciado pelo estado do corpo. Por isso que pessoas saudáveis vão ter funcionamentos mentais melhores, este é um ponto”, alertou a especialista.
Ela completa: “qualquer ameaça do ambiente a esse estado de viabilidade do corpo é uma barreira ao aprendizado. Podemos pensar outros exemplos nesta mesma direção: o barulho de uma britadeira, o frio extremo ou mesmo a fome. Tudo isso sinaliza ao corpo sobre a sobrevivência e neste estado ele não está aberto a prestar atenção, memorizar e, consequentemente, aprender. O estresse térmico provocado por altas temperaturas facilita a desidratação, e o cérebro é altamente sensível a qualquer nível de falta de água no corpo, além disso, o calor no corpo resulta em fadiga, irritabilidade, dores de cabeça e até confusão mental”, concluiu.
*Com informações do Jornal O Globo – Censo Escolar 2022
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