Pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, descobriram que o fogão ou forno a gás emite altos níveis de benzeno nas residências. A substância está associada a um maior risco de leucemia e outros tipos de câncer de células sanguíneas.
De acordo com o estudo, publicado recentemente na revista científica Environmental Science & Technology, apenas uma boca de fogão a gás acesa no alto ou um forno ligado a cerca de 180ºC pode elevar os níveis internos de benzeno a um nível superior ao do fumo passivo. A boa notícia é que uma boa ventilação ajuda a reduzir as concentrações de poluentes.
"O benzeno se forma em chamas e outros ambientes de alta temperatura, como as chamas encontradas em campos de petróleo e refinarias. Agora sabemos que o benzeno também se forma nas chamas de fogões a gás em nossas casas", disse o autor sênior do estudo Rob Jackson, professor do Kevin Douglas Provostial da Stanford Doerr School of Sustainability.
Essa não é a primeira vez que especialistas alertam para os riscos à saúde do uso de fogões e fornos a gás. No início do ano, a Comissão de Segurança de Produtos para Consumo dos EUA decidiu analisar a possibilidade de regulamentar esses eletrodomésticos devido ao aumento no número de evidências científicas sobre seus potenciais riscos à saúde.
Na época, especialistas ouvidos pelo GLOBO e pelo The New York Times afirmaram que o risco existe, mas ele pode ser substancialmente minimizado com medidas simples como o uso de coifa, uma boa ventilação no local e ter o eletrodoméstico em boas condições de uso.
— Não dá para dizer que o risco é zero, mas ele certamente não é grande se todas as operações que envolvem gás forem feitas em ambientes bom ventilados e com boa exaustão — avaliou o pneumologista Eduardo Algranti, coordenador da Comissão Científica de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
De acordo com os pesquisadores de Stanford, o novo estudo é o primeiro a analisar as emissões de benzeno quando um fogão ou forno está em uso. Trabalhos anteriores focaram em vazamentos quando esses eletrodomésticos estavam desligados e não mediram diretamente as concentrações de benzeno resultantes da queima do gás de cozinha, por exemplo.
No geral, os resultados da nova análise mostraram que as concentrações internas de benzeno formadas pelas chamas dos fogões a gás podem ser piores do que as concentrações médias do fumo passivo. Além disso, esse gás se espalha pela casa, chegando a níveis que podem exceder as concentrações nacionais e internacionais recomendadas para a saúde, e permanece por horas no ar.
Também houve emissão de benzeno por fogões elétricos, mas os fogões e fornos a gás e propano emitiam uma quantidade 10 a 50 vezes maior do gás do que os elétricos. Já os cooktops de indução não emitem benzeno detectável, de acordo com o estudo.
Os pesquisadores também testaram se os alimentos podem emitir benzeno. Os resultados mostraram que todas as emissões do gás vieram do combustível usado e não do alimento em preparo.
Em relação às formas de reduzir a exposição ao gás tóxico, a equipe descobriu que os exaustores nem sempre são eficazes na redução das concentrações de benzeno e outros poluentes.
Um estudo anterior liderado por Stanford mostrou que fogões a gás em residências dos EUA vazam metano com um impacto climático comparável às emissões de dióxido de carbono de cerca de 500 mil carros movidos a gasolina. Eles também expõem os usuários a poluentes, como o dióxido de nitrogênio, que podem desencadear doenças respiratórias.
Uma meta-análise de 2013 concluiu que as crianças que vivem em casas com fogão a gás tinham um risco 42% maior de asma do que as crianças que vivem em casas sem fogão a gás, e uma análise de 2022 calculou que 12,7% da asma infantil nos EUA é atribuível a fogões a gás.
Mín. 16° Máx. 23°