As plataformas de streaming já são uma realidade no Brasil há alguns anos. Quando o assunto é cinema e TV, são várias as opções que o telespectador tem para assistir a filmes, séries, desenhos, documentários e novelas. Na música, entretanto, há uma lacuna. Para ocupar esse espaço, a WePlay Music TV chegou ao mercado para ser o primeiro streaming de shows dedicado exclusivamente à música brasileira.
Como um esquenta para o Rock in Rio, que acontece em setembro, e uma estratégia de divulgação e popularização da marca, a plataforma passou, em parceria com a MZA Music, a disponibilizar, desde julho, shows nacionais que marcaram a história do festival. Estamos falando de apresentações de Frejat, Titãs e a banda portuguesa Xutos e Pontapés, Ira!, Sepultura e o grupo francês de percussão Les Tambours Du Bronx, Martinho da Vila com Cidade Negra e Emicida.
Um dos primeiros a chegar à plataforma foi “Rock in Rio: Cássia Eller ao Vivo”, show de janeiro de 2001, na terceira edição do festival no Brasil, e um clássico lançado em CD e DVD cinco anos depois. Cássia, que nos deixou em dezembro de 2001, estava no auge. No palco da Cidade do Rock, ela apresentou os sucessos da carreira, alavancada pelo “Acústico MTV”, e tocou covers de Nirvana (“Smells Like Teen Spirit”), com o filho Chico, então com 7 anos, na percussão, e Beatles (“Come Together”). Além do show, há cenas de bastidores e entrevistas exclusivas.
“Está sendo muito interessante essa experiência. A ideia é fazer com que as pessoas conheçam a plataforma, naveguem, descubram os shows. É um projeto que nos orgulha muito”, diz Maria Rita Lunardelli, idealizadora e CEO da WePlay Music TV, que funciona no formato de assinatura: a individual custa R$ 23,90, enquanto o plano família, com acesso disponível para quatro telas, sai a R$ 43,90. O consumidor também pode fazer um período de teste gratuito por 30 dias.
A WePlay aposta na diversidade da música brasileira. No catálogo, há shows de rock, samba, pagode, MPB, rap, sertanejo, jazz e música instrumental. Ira!, Chico Buarque, Erasmo Carlos, Pitty, Cauby Peixoto, Maria Bethânia, Luedji Luna, Lobão, Frejat, Elza Soares, Lô Borges, Toninho Horta, Gian & Giovani e Alcione são alguns dos artistas cujas apresentações já estão a um clique dos fãs. Também há espaço para documentários de música brasileira, como uma série de 14 episódios sobre o compositor Villa-Lobos. Ao todo, são 200 shows no catálogo.
Outros 200 serão lançados paulatinamente na WePlay. São performances de Detonautas, Tribo de Jah, Bicho de Pé, Rincon Sapiência, Luiz Tatit e Zeca Baleiro. “A cada semana é um show novo que entra na programação”, conta Maria Rita. “Ainda temos muitos conteúdos inéditos para disponibilizar na plataforma. Estamos negociando também com gravadoras internacionais, como Universal, Sony e Warner. Isso leva um tempo. Artistas como Skank, Jota Quest, Marília Mendonça e Ney Matogrosso estão com essas gravadoras, mas estamos negociando para poder ter os shows deles o mais rápido possível”, completa. Biscoito Fino, Tratore e Deck são três das 17 gravadoras nacionais com as quais a WePlay já fechou acordo.
Atualmente, a plataforma tem 1.200 assinantes, mas a expectativa é chegar a 10 mil nos próximos meses. Para isso, um estudo para entender o público-alvo e saber onde está a audiência está sendo realizado. Campanhas com bandas e artistas também devem ser feitas para impulsionar o nome da WePlay.
“Temos de fazer com que as pessoas consumam a plataforma agora para podermos passar para um segundo momento. Queremos começar a produzir conteúdos com as gravadoras que são parceiras. Nossa ideia é criar pontes entre diferentes gerações da música brasileira, com alguém da velha guarda apadrinhando um nome da nova cena”, explica Maria Rita Lunardelli.
Como tudo começou
As operações da WePlay Music TV começaram em março, mas a história da WePlay começa há alguns anos. Em 2014, Maria Rita, que na infância frequentou estúdios e gravações com a mãe, cantora profissional, sentiu que precisava unir a carreira de advogada com a música “para não perder nem um, nem outro”. Ela começou a fazer aulas de canto e voltou a estudar piano.
Ao entrar como sócia da escola de música, estúdio e produtora Voice, passou a conviver com músicos e percebeu que eles precisavam de orientação. “A maioria não sabe sobre direitos autorais, isso começou a me incomodar e me especializei na área. Começamos a dar um curso de music business”, ela pontua.
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Aí veio a pandemia. Nos meses seguintes a março de 2020, o cenário era arrasador. Com shows cancelados e receitas em queda, toda a cadeia da música se viu num terreno de repleto de incerteza, mas vazio de cachês. Consumidora voraz de DVDs de shows, quando o aparelho que reproduz essa mídia ainda era popular nos lares brasileiros e não havia caído em desuso, Maria Rita decidiu levar a música para o streaming na TV. Sim, alguns shows podem ser encontrados no YouTube, mas há propagandas, e raramente as apresentações estão completas.
Segundo a idealizadora, a plataforma está em diálogo com o que há de mais moderno e contemporâneo do mercado do streaming, ao mesmo tempo em que disponibiliza, na íntegra, DVDs históricos da música brasileira. “As gravadoras têm um acervo maravilhoso”, ressalta Maria Rita Lunardelli. Outro aspecto que ela destaca é a proposta de pagamento dos direitos dos artistas, remunerados a cada play na plataforma. De ponta a ponta, desde o autor da letra até o percussionista, os envolvidos nos espetáculos recebem o que lhes cabe.
“Esse é um ponto que nos diferencia das demais plataformas, porque, além dos direitos autorais, pedimos também para incluir os direitos conexos. O músico, enquanto estiver na nossa plataforma, recebe a cada play. É importante remunerar toda a cadeia da música”, observa a CEO da WePlay Music TV.
Na plataforma, cada show é acompanhado por uma ficha técnica que informa o local e a duração do concerto, ano de lançamento do DVD, repertório (faixa a faixa com os respectivos compositores) e músicos que participaram da gravação do espetáculo: “É importante dar esse protagonismo a cada um deles”.
Mais que um modelo de negócio, a empresária ressalta que a WePlay Music TV nasce como um modelo de negócio que tem na manutenção da cultura musical brasileira um de seus pilares fundamentais. Ao reunir vozes de diversas gerações, de artistas de 20 e poucos anos aos veteranos de 80, a plataforma acena para capítulos importantes e bonitos da nossa história recente e mantém viva a arte dos que já se foram.
“É um dos principais papéis que a gente exerce. Analisei muito, fiz pesquisas de mercado para saber como os artistas mais antigos estão sendo ouvidos. Não podemos ficar focados só nas novidades. Queremos manter viva nossa memória musical e trazer isso à tona para as novas gerações”, pondera Maria Rita Lunardelli.
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