Com o preço dos combustíveis nas alturas, com uma previsão de mais aumentos pela frente, o consumidor se sente cada vez mais perdido. A única certeza é que o motorista é quem vai pagar a conta. Há quem fale em mudança de processos pela Petrobras, outros defendem a privatização e se fala ainda em quebra de monopólio. Será que isso ajudaria? Mudaria os preços nas bombas? A reportagem foi ouvir um especialista no assunto.
De acordo com o professor de gestão do curso de Administração do Centro Universitário Newton Paiva, Leandro César Diniz da Silva, a composição do preço dos combustíveis é complexa e depende de uma série de fatores, como o preço do petróleo e dos impostos.
A alta de agora se deve a um momento complicado, tanto internamente quanto externamente. O poder público não abre mão da arrecadação e o valor do dólar afeta diretamente os preços. Na avaliação do professor, a Petrobras não precisaria controlar todos os combustíveis, mas nenhum governo abre mão desse controle, já que a empresa precisa gerar lucro e parte desse lucro vai para o governo.
Diante desse cenário, surge a pergunta: uma mudança na composição de preços e forma de repasse pode ser feita? Quais seriam as consequências?
“Entendo que a Petrobras é uma empresa que cresceu e o Brasil é dependente excessivamente dela. A Petrobras deveria apenas comandar as situações originárias do petróleo. Ou seja, gasolina e diesel. Mas tudo aquilo que a gente fala de etanol, do biodiesel, até do gás natural, deveria estar, de repente, em uma outra prumada. Se nós tivéssemos, por exemplo, hoje, a Petrobras trabalhando só com gasolina e com diesel cru, poderíamos, em certos momentos, estarmos exportando e deixarmos outros combustíveis alternativos sendo vendidos com um preço mais interessante para o nosso consumidor final”, analisa.
O professor reforça que nenhum governo, independentemente do partido, abre mão do lucro da estatal, porque o tem participação. “É inevitável. Todo lugar onde você tem a mão do governo e essa mão é monopolista, ela vai sofrer algumas ações ou vai gerar algumas ações que são nocivas para o consumidor”, diz Leandro César.
“Todo mundo sabe que o monopólio é ruim. E pior do que o monopólio é o monopólio que é garantido pelo Estado, onde ele pode, a bel-prazer, alterar as regras do jogo de acordo com seus interesses políticos partidários naquele determinado momento”.
O professor avalia que a privatização pode ser a solução, mas destaca que ainda não foram apresentadas ‘todas as consequências que poderiam vir dessa possível privatização. Mas é inevitável que também deixar todo um setor, que é extremamente sensível e que afeta toda a estrutura e cadeia de suprimentos e produtos e até de serviços, na mão de apenas uma empresa vem se provando que não é positivo”.
Leandro César diz também que o consumidor banca os ganhos da estatal. “Ter lucros excessivos utilizando e seguindo os padrões internacionais é ruim porque nós pagamos na hora que a gente tá lá abastecendo nossos veículos. Então, monopólio não é bom, nunca foi bom. Em especial monopólio que é regido pelo próprio Estado e pelo próprio governo”.
Diante desses cenários, surge a pergunta: uma mudança na composição de preços e forma de repasse pode ser feita? Quais seriam as consequências? O professor responde.
“Muitos me perguntam isso e eu sempre digo que, enquanto nós tivermos um Estado, seja ele município, estado ou federal, com o governo federal gastando mais do que arrecada, nós nunca conseguiremos falar em redução. Inevitável, se você analisa a composição dos combustíveis, nós temos os impostos e é o melhor imposto pro governo, porque quanto mais se arrecada, quanto mais caro fica, maiores são as entradas. Então, em momentos recessivos, dificilmente o governo vai a abrir mão de um do imposto”, aponta.
Para o professor, a mudança do cenário atual ocorrerá quando o Estado deixar de ser gastador. “Enquanto nós tivermos um Estado gastador, que não consegue diminuir seus gastos, essa discussão, invariavelmente, vai voltar no futuro”, destaca, reforçando que governo nenhum quer abrir mão de imposto.
“A pergunta é: será que adianta eu diminuir os impostos de um combustível e aumentar em outro setor? Porque todas as vezes em que nós temos algum tipo de subsídio dado é tirado de um ponto, você elimina esse imposto de um ponto e acrescenta ele em outros. Ou seja, em todas as vezes que isso acontece, a população paga direta ou indiretamente”, concluiu.
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