Os registros de dengue aumentaram 85% este ano no país, ante o mesmo período do ano passado. Até o dia 15, foram notificados 323,9 mil casos prováveis da doença, incidência de 151,8 por 100 mil habitantes, diz o Ministério da Saúde. E foram 85 mortes, 73% a mais do que em 2021. Especialistas alertam para o avanço do mosquito Aedes aegypti pelo Sul do país, onde a frequência do vírus costumava ser menor por causa das temperaturas mais baixas.
Santa Catarina teve recorde de mortes confirmadas (11), atrás neste ano só de São Paulo (30) e junto de Goiás (11). Há mais 159 óbitos em investigação no Brasil. Até agora, 26 cidades catarinenses já declararam epidemia e três - incluindo Florianópolis -, emergência. Prefeituras têm convocado voluntários para reforçar o combate ao Aedes. Rio Grande do Sul e Paraná também estão entre os dez Estados com mais casos.
"O número de casos no Sul é muito alto para essa época do ano. É inusitado ter dengue quando começa a esfriar", diz o epidemiologista Jair Ferreira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Para ele, provavelmente a proliferação do mosquito foi no momento em que a temperatura era mais favorável a ele. Outra hipótese é a de que as pessoas, preocupadas com a covid-19, negligenciaram focos domésticos de dengue.
Para o epidemiologista André Ribas Freitas, da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas, a alta recente de temperaturas favorece o espalhamento do Aedes onde antes ele não tinha tanto espaço, como o Sul.
Em São Paulo, a doença avança principalmente no norte do Estado. Cidade dessa região, Votuporanga tem a maior incidência de dengue do País, com 4.971 casos por 100 mil habitantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define transmissão epidêmica quando a taxa supera 300 casos por 100 mil.
A Secretaria de Saúde paulista informou que as principais medidas preventivas são retirar objetos que acumulam água. Conforme diretriz do SUS, o trabalho de campo para combate ao mosquito compete sobretudo aos municípios.
"Em São Paulo, há mais casos que no ano passado, mas não é uma situação tão complicada como as de 2014, 2017 e 2018", afirma André Ribas Freitas.
Goiás iniciou semana passada parceria com o Distrito Federal. Em Valparaíso de Goiás, no entorno de Brasília, foram usados lançadores de inseticidas e drones. "Escolhemos a região por concentrar níveis elevados de concentração do vetor (mosquito) e de casos. Como a pandemia ainda não acabou, o surgimento de novas doenças pode sobrecarregar a saúde", diz a superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim.
O Ministério da Saúde diz ter enviado aos Estados, até o dia 5 de abril, 22,5 milhões de pastilhas larvicidas para recipientes com água e 2,8 mil quilos de inseticida para o tratamento residual em pontos estratégicos, como borracharias e ferros-velhos, além de 97 mil litros de solução inseticida para uso via fumacê ou pulverização.
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