Para tirar esclarecer dúvidas sobre a variante Deltacron, a reportagem conversou com o professor de genética da UFMG, Renan Pedra.
Onde foi identificado o primeiro caso?
O professor conta que, em janeiro deste ano, cientistas do Chipre, país situado ao Sudoeste do continente Europeu identificaram, pela primeira vez, a combinação entre as duas variantes Delta e Ômicron. Entretanto, ela foi reportada como erro de laboratório.
Na última semana, ao fazer a análise de um sequenciamento genético, um grupo de franceses detectou uma configuração diferente. E, nesta segunda (14), foi confirmado que trata-se mesmo de uma nova variante.
Segundo o professor, a Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, considera os casos como recombinação viral, já que a classificação de variante depende de algumas regras e conceitos pré-determinados pela comunidade científica. A recombinação viral ocorre quando dois vírus geneticamente diferentes infectam uma mesma célula ao mesmo tempo.
“Essa recombinação é comum em outros vírus, como no da Influenza, por exemplo. Mas não era algo que a gente estava esperando para o coronavírus. Depois de dois anos de pandemia. Ainda não sabemos como aconteceu, o que levou a este resultado. É uma surpresa pra todos”, explica o geneticista.
Essa variante é mais transmissível?
Para o professor da UFMG, ainda é cedo para avaliar o contágio da nova variante, já que a frequência dela parece rara. “Temos que ver qual vai ser a incidência da variante. Ela tem que ser mais frequente que a Ômicron que, até então, é 100% predominante nas amostras positivas para a Covid-19, no Brasil”, esclarece.
Pedra explica que a variante Delta, por exemplo, levou meses para superar a Gama. Mas a Ômicron levou apenas três semanas para superar a Delta. Segundo ele, nesse caso, isso se torna um problema de saúde pública. Mas só será possível esclarecer essa dúvida ao longo das próximas semanas.
Ela é mais grave? Quais são os sintomas mais comuns?
Para associar um conjunto de sintomas comuns a uma determinada variante, explica o especialista, é necessário que se tenha um maior número de casos, mais informações e mais dados que comprovem a frequência de cada sintoma.
As vacinas são eficientes contra a Deltacron?
A maior arma contra a Covid-19, definitivamente é a vacina, que se mostrou eficaz na redução de internações e de mortes, afirma o especialista. Apesar disso, segundo ele, toda vez que surge uma nova variante há uma preocupação, entre os cientistas, para saber qual será a capacidade de resposta às vacinas.
“Pode ser que a Deltacron seja mais sensível ao imunizante e não vingue, como pode ser menos sensível e será necessária uma atualização das vacinas”. O geneticista explica que as vacinas disponíveis atualmente foram produzidas a partir de informações das variantes que eram incidentes na época e que a chance de rever a composição dos imunizantes nunca é descartada.
Podemos ter uma nova onda de infecções, como foi com a Ômicron?
O especialista explica que as informações disponíveis hoje não são suficiente pra responder a essa questão. No entanto, ele relata que os gráficos de novos casos de Covid-19 na Europa começam a apresentar uma certa estabilidade, depois de registrar queda por semanas.
“Para acontecer essa estabilidade algo está acontecendo, ainda não sabemos o quê. É preciso ficar de olho nos indicadores epidemiológicos dos países europeus. A Deltacron ainda não foi detectada em Minas, mas espera-se que as autoridades e os órgãos sanitários monitorem a chegada e a frequência dessa variante”, conclui.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que, até esta terça-feira (15) não foi notificada sobre a identificação de Deltacron no estado de Minas Gerais.
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