Como diretor artístico e regente titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, criada pelo Governo de Minas Gerais, em 2008, o maestro Fabio Mechetti fala dos concertos de abertura da 10ª temporada de apresentações desta quinta-feira e sexta-feira, dias 16 e 17 de fevereiro, às 20h30, na Sala Minas Gerais.
Quais elementos são essenciais no comando de uma Orquestra Filarmônica?
Fabio Mechetti – Um conjunto de elementos são essenciais para a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais revelar uma produção de alta qualidade. A Filarmônica começou em 2008 comigo e foi criada a partir de uma premissa política: toda a base da orquestra foi construída e planejada em busca de excelência. Tudo o que desvia desse caminho tentamos evitar. Acho que os resultados que a Orquestra tem conquistado nestes anos têm mostrado que estamos no caminho certo. O Governo demonstrou compromisso com a gente ao construir uma sala exclusiva para a Filarmônica, onde agora podemos tanto ensaiar quanto realizar as apresentações. Todos os músicos se sentem contemplados por executar as composições em um local que representa um marco na história dos espaços de concerto, por ter uma acústica fiel aos instrumentos orquestrais, e da própria Filarmônica de Minas Gerais.
A que se deve este crescente interesse do público pela orquestra e, consequentemente, pela música clássica?
Fabio Mechetti – Esse interesse começou a se expandir quando a Orquestra Filarmônica obteve uma posição de destaque no cenário cultural e artístico ao longo dos últimos anos, alcançado por apresentar ao público um produto de alta qualidade, com realização de importantes gravações e realizações. Desde o início da trajetória orquestral a Filarmônica já realizou 641 concertos com a apresentação de 835 obras do período barroco ao contemporâneo, que foram assistidos presencialmente por mais de 800 mil de pessoas, isso com 45% de gratuitamente. O objetivo é adicionar culturalmente o estado em uma dinâmica que há dez anos não existia, além dos programas que realizamos, preocupados em levar a Orquestra a todos os territórios de Minas Gerais. Nosso estado tem um público que varia de 8 a 80 anos, chega a todos os públicos, e temos conseguido desmistificar a música clássica como sendo destinada a um público elitizado. Este é o resultado de uma combinação de fatores que vai desde os investimentos feitos pelo Governo do Estado, especialmente por meio das leis de incentivo Estadual e Federal, e também pela iniciativa privada, como a busca pelo primor dos músicos e de todos os envolvidos na Orquestra.
E como é este desafio de democratizar e desmistificar o acesso à música clássica?
Fabio Mechetti – O importante é desmistificar sem comprometer o produto. Levamos um repertório com riquíssimas nuances, legitimo e tradicional. A reação do público é excepcional em quase todos os concertos, pois a música erudita tem essa força com uma qualidade emotiva. A excelência no trabalho vem deste viés: acreditamos no poder de transformação que a música tem na sociedade. Me lembro de um caso que costumo contar para fazer referência sobre a relevância da Orquestra em Minas Gerais. Uma vez, na cidade de Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, um lugar com 10 mil habitantes, cerca de 3 mil pessoas assistiam ao repertório que incluía Beethoven e Techkov. Quando acabou o concerto, centenas delas fizeram uma fila para cumprimentar um a um os músicos, e um senhor veio chorando e apertou nossa mão e disse que nunca tinha ouvido uma orquestra e que aquilo parecia coisa divina, e nos agradeceu. Você vê que apenas um momento de alegria talvez possa mudar a vida de uma pessoa através da sensibilidade, o que justifica a força da cultura da música erudita.
Como são formados novos músicos e há espaço para talentos carentes socialmente?
Fabio Mechetti – O músico da Filarmônica passou por um processo de treinamento em aulas individuais, escolas e igrejas e este é o celeiro onde este talento é reconhecido. A grande maioria foi estudar fora porque no Brasil os conhecimentos para músicos de orquestra são limitados, muitos fizeram mestrado e doutorado para ampliar seus estudos na música erudita e orquestral. O que se observa é que falta uma ponte entre talento e profissionalismo para que estes jovens ingressem nas orquestras. Há um grande desejo de criar uma orquestra jovem para inserir estes jovens carentes para dar oportunidades e reconhecer talentos e também de criar uma academia com músicos, salas, instrumentos com todo apoio necessário para que eles se desenvolvam se tornem músicos orquestrais para que eles sejam integrados às oportunidades no futuro. Esperamos trabalhar nisso para que consigamos executar esse plano nos próximos anos.
Qual a marca das comemorações dos dez anos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais?
Fabio Mechetti – A décima temporada marca o sucesso que a Filarmônica tem tido na sua missão de oferecer música de qualidade a um público cada vez maior, dentro e fora de Belo Horizonte. Nossos assinantes crescem a cada ano, vários de nossos concertos têm estado lotados, obrigando-nos a duplicar apresentações, além da programação estabelecida; nossas séries educacionais, como os Concertos para a Juventude, também têm se esgotado. Isso mostra o interesse da sociedade mineira pela Filarmônica, desde os mais jovens aos mais velhos, e a confiança no trabalho que realizamos.
Agência Minas
Foto: Bruna Brandão
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