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Violência no futebol: o temor da morte após a marcação de um pênalti

Depois da vitória do Atlético sobre o Cruzeiro, há 15 dias, o árbitro Igor Junio Benevenuto foi ameaçado e ainda não voltou para casa, por receio de ser assassinado

21/03/2022 às 10h15
Por: Redação Fonte: Mega Cidade com O Tempo
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Passaram-se 15 dias da vitória do Atlético sobre o Cruzeiro por 2 a 1. Até esta segunda-feira (21), porém, o árbitro Igor Junio Benevenuto não se sentiu seguro para regressar à sua residência, no bairro Industrial, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, e retomar a rotina ao lado do avô e da tia, com quem divide moradia. Desde que soprou o apito às 19h59 daquele 6 de março, no Mineirão, a vida dele foi tomada por temor e medo, em função das ameaças de morte sofridas em casa e por meio das redes sociais.

A “justificativa” para os atos criminosos seria o pênalti marcado em Hulk aos 38 minutos do segundo tempo, que garantiu o empate ao Galo e abriu o caminho para a virada alvinegra no clássico.

“Fui em casa na terça-feira (dois dias após o jogo) escoltado por viaturas da Polícia Militar. Quando cheguei lá, foi algo muito constrangedor. Meus vizinhos observaram a movimentação, mas não puderam se aproximar de mim por questão de segurança. Ficaram me olhando, com semblante de tristeza. Quando meu avô e minha tia me viram, começaram a chorar. Estamos todos abalados, desnorteados e com muito medo. Nunca pensei que fosse passar por isso. Ainda não voltei para casa porque tenho receio”, revela Benevenuto, de 41 anos.

O árbitro conta que, na noite daquele domingo após a partida, um veículo passou em frente à sua casa, e os ocupantes gritaram que iriam matá-lo junto com sua família. Nos dias seguintes, o automóvel continuou circulando pelo local, levando pânico também a vizinhos.

Na semana passada, o Fiat Palio de cor prata foi novamente flagrado próximo à residência de Benevenuto. Contudo, quem viu não teve tempo de anotar a placa. “Os vizinhos não conseguiram porque ficaram desesperados e entraram em suas casas rapidamente”, explica.

Familiares do árbitro mudaram a rotina. Têm evitado a rua. Viajaram no fim de semana após o clássico e, desde que voltaram, estão reclusos. “Meu avô tem 83 anos e está com medo de sair de casa. Estão vivendo com insegurança porque não sabem quem são essas pessoas e o que podem fazer contra eles”, desabafa.

Ameaças serão levadas à Justiça

As ameaças sofridas por Igor Junio Benevenuto vão parar na Justiça, conforme informa o árbitro.

“As pessoas envolvidas nesses episódios de ofensas e agressões verbais serão processadas. Meus advogados já estão fazendo todo o levantamento do que foi dito em minhas redes sociais, e vou levar à Justiça”, garante.

“As pessoas precisam entender que tudo na vida tem limite. Discordar de mim, dizer que não sou um bom árbitro, que minha decisão foi equivocada, faz parte, é natural. Mas, quando as pessoas passam do limite, precisam ser responsabilizadas”, argumenta o juiz.

Benevenuto estende suas críticas para além dos gramados. “As pessoas não respeitam ninguém, autoridades, nada. Acham que podem fazer o que quiserem. Não há limites, e a tendência é piorar. Muita gente vai dizer que sou um babaca, estou fazendo graça e estou de mi-mi-mi”, acrescenta Igor.

“Estou com medo”, admite o árbitro

Após o clássico, Igor Junio Benevenuto passou em casa apenas uma vez e não ficou. Com o apoio da CBF, viajou para um curso do VAR. A primeira turma encerrou a formação na última quinta-feira, mas ele pediu para seguir em Águas de Lindoia (SP), no treinamento.

“Foi muito importante para me afastar e esquecer as situações que estão acontecendo em BH. Tentar me tranquilizar e melhorar um pouco psicologicamente. Apesar disso, estou com medo. Essas pessoas podem dar uma sumida, mas, de forma inesperada, voltar e fazer alguma coisa”, pondera.

No último sábado (19), ele apitou a vitória do Pouso Alegre sobre o Uberlândia por 2 a 1, no estádio Manduzão, e retornou à cidade paulista depois da partida.

“Pedi para ficar em Águas de Linodia, criar mais coragem e montar uma estratégia para voltar para casa”, revela.

Duas semanas após a marcação polêmica que transformou a vida de Igor Junio Benevenuto em um caos, ele mantém a opinião sobre o lance.

“Se existisse imagem esclarecedora, não teria nenhum problema em assumir o possível equívoco. Sigo com minha visão de penal”, reafirma.

Além disso, explica o porquê de ter trazido à tona as ameaças. “Hoje sou eu. Amanhã pode ser um atleta, um dirigente, um repórter. Não quero ser lembrado com uma sala ou um troféu em homenagem a mim após ser morto ou agredido”, desabafa.

A Comissão de Arbitragem da Federação Mineira de Futebol (FMF) foi procurada para comentar a situação vivida por Igor Junio Benevenuto, mas optou pelo silêncio. Juliano Lopes Lobato, ex-árbitro, vereador em BH e chefe da arbitragem estadual disse que não comentaria os episódios. Antônio Márcio Teixeira, presidente do Sindicato dos Árbitros de MG, alegou estar em um curso (o mesmo do qual participou Igor) e, por isso, não teria tempo para se manifestar.

Ameaça é crime

Ameaçar alguém verbalmente por escrito ou por gesto é crime, com pena prevista de um a seis meses de detenção ou multa. A lei ainda trata sobre perseguição, que significa importunar alguém, reiteradamente por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade, invadindo ou perturbando a liberdade ou a privacidade. A pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção ou multa.

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