Os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia chegam ao café da manhã dos mineiros. O preço do tradicional pãozinho está com alta acumulada de 18%, em 2021 e 2022, e o quilo já chega a R$19, conforme a Amipão - associação que reúne panificadoras e padarias de Minas Gerais. Um dos motivos é a elevação da saca de farinha de trigo em 16% com as restrições de exportações no leste europeu, centro produtor mundial do cereal.
O problema, entretanto, pode se agravar com a possibilidade de falta do insumo no Brasil, caso o conflito se estenda por muito tempo. De acordo com o presidente da Amipão, Vinicius Dantas, alguns estabelecimentos que realizam as compras de trigo em grandes redes de atado e varejo e na indústria enfrentam mais dificuldade para obter as sacas, do que os que negociam diretamente com moinhos.
Até o início da guerra, o valor pago em 25kg de farinha era R$95, mas já chega a R$110. “Falta de matéria-prima se perdurar a guerra a gente tem certeza que é algo iminente”, disse. Dantas explicou que a alta do trigo ocorre porque os países que importavam da Rússia e Ucrânia estão, agora, negociando com outros mercados como Estados Unidos, Canadá e Argentina, este último sendo a origem de grande parte do grão utilizado no Brasil.
“Consequentemente quando você tem uma demanda maior que a oferta, sabemos o que acontece. O preço do trigo é balizado na bolsa de Chicago. Subiu lá em dólar e aqui acompanha”, acrescenta. O empresário lembra que o trigo, para a indústria de pães, não pode ser substituído por outros produtos à base de milho e soja, por exemplo. “Seria muito bom para nós da panificação poder substituir e ter um produto totalmente nacionalizado. Mas infelizmente, o milho e a soja não são qualificáveis”.
Com o preço do quilo do tradicional pão francês chegando a R$19, Vinícius diz que orientou um equilíbrio nos reajustes das panificadoras, em função da indefinição do momento. “Ao término da guerra teremos muitas consequências ainda. Boicotes comerciais, plantações dilaceradas”, analisou. Em nota publicada na última terça-feira (15), a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi) já havia alertado para a alta nos preços e que os estoques de trigo na indústria são baixos, devido ao início da entressafra.
A instituição afirmou que, juntos, Rússia e Ucrânia são responsáveis por 30% das exportações mundiais do cereal. “Além da queda na oferta do cereal, fator da alta dos preços, o desabastecimento tem a ver com dificuldades logísticas – a guerra fechou portos, interrompeu o transporte – e com a queda da produção ucraniana da commodity”, destacou a associação.
Outro fator apresentado no documento é a previsão de aumentos ainda mais intensos nos derivados do trigo. “Haverá reajustes de preços nas próximas semanas, mas com o horizonte indefinido. O consumidor brasileiro deve começar a sentir os efeitos em breve, quando as indústrias comprarão as novas safras”, estima a Abimapi.
Apesar do cenário indefinido, a Associação Brasileira Indústria Trigo (Abitrigo) informou, em nota, que análises feitas na entidade indicam que o Brasil não deve ter problemas de abastecimento em curto prazo, pois houve sinalização positiva da Argentina com estoque suficiente para atender as demandas do Brasil. O órgão ainda justifica que as importações com a Rússia são em pequena escala “e não temos registro de compras do trigo da Ucrânia”.
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