As crianças são muito mais inteligentes do que costumamos culturalmente supor. Em épocas não tão distantes, elas não eram sequer consideradas. Sua opinião não era levada em consideração nem tampouco seus sentimentos.
Os assuntos eram discutidos pelos adultos e às crianças cabia a função – e a diretriz – de seguir passivamente pela vida, atendo-se apenas às conversas a elas direcionadas.
Atualmente, temos mais acesso ao conhecimento. Compreendemos com bastante clareza a importância da infância na estruturação do psiquismo e nos seus desdobramentos. Centenas de milhares de estudos são produzidos em relação a essa faixa etária e a sua capacidade de absorção de informações. Elas chegam a ser comparadas com esponjas, tamanha sua absorção e captam elementos inclusive que nem precisam ser verbalizados.
Isso significa que ainda que as tentemos privar ou poupar de algum modo da realidade, algo de irregular se deixa mostrar. E essa estranheza percebida por elas, quando não confirmada, pode ser, inclusive, bastante prejudicial. De algum modo, os sinais que lhes são passados resultam na ideia de que aquilo que sentem ou entendem não é verdadeiro ou legítimo. E inegavelmente, desse modo, invalidamos suas percepções.
Ignorar ou esconder nunca é a melhor saída. Diante do cenário atual, uma conversa franca, permeada de esperança futura e transmitida com segurança pode fazer a diferença na compreensão do tema. Em um momento em que o acesso às notícias é tão veloz e abrangente, faz-se imperativo que sejamos verdadeiros com os pequenos. Isso é um sinal não apenas de empatia, mas também, de respeito.
Portanto, é urgente que falemos com as crianças. E isso inclui até mesmo assuntos áridos como a guerra. Claramente, precisamos fazê-lo com uma linguagem adequada e de acordo com as próprias demandas que delas emerjam. E é necessário, principalmente, ao fazer isso que sejamos acolhedores. Quaisquer afetos ou dúvidas que surjam devem ser validados. Dessa forma, o cuidado com sua saúde mental continua preservado.
Sobre Bruna Richter
Psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Também é formada em Artes Cênicas pelo SATED do Rio Janeiro, o que a ajudou a desenvolver o Grupo Grão, projeto voluntário que atende pessoas socialmente vulneráveis, onde através de eventos lúdicos, busca-se a livre expressão de sentimentos por meio da arte.
Seus livros infantis “A noite de Nina – Sobre a solidão”, “A música de dentro – Sobre a tristeza” e “A dúvida de Luca – Sobre o medo” fazem parte de uma trilogia que versa sobre sentimentos por vezes vistos como negativos, mas que trazem algo positivo se olharmos para eles mais atentamente. Estes dois últimos inclusive entraram para a lista paradidática de uma tradicional escola montessoriana na cidade do Rio de Janeiro.
A ideia de escrever sobre o tema surgiu, após o nascimento de seu filho, como uma tentativa de facilitar o diálogo sobre emoções que frequentemente temos dificuldades para nomear, buscando assim acolher as descobertas que a criança experimenta psiquicamente.
A paixão pelo universo dos sentimentos infantil contribuiu também para a criação do “De Carona no Corona”, folheto educativo para crianças, relacionado à pandemia.
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