A cadeia de produção do etanol garante que o derivado da cana-de-açúcar deve ser mais competitivo com relação à gasolina neste ano. Apesar disso, o preço que chega ao consumidor depende de dois fatores: a provável alta da gasolina por conta da elevação do barril de petróleo no mercado internacional; e quais serão as políticas públicas do governo com relação aos combustíveis.
A maior competividade do etanol é puxada pela safra da cana-de-açúcar, que será iniciada em abril. A estimativa dos produtores é que a colheita seja superior à do ano passado, bastante prejudicada por conta de problemas ambientais e temporais.
“As chuvas foram adequadas em Minas Gerais. No ano passado, a moagem de cana atingiu 64 milhões de toneladas de cana. No ano anterior, nós tivemos nosso recorde de produção que foi 70,8 milhões de toneladas. Nós não vamos conseguir moer os 70,8, porque é um ano de recuperação de tudo que aconteceu no ano passado. Mas, nossa produção ficará entre a safra do ano passado e nosso recorde de 2020”, explica Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig).
De acordo com Mário Campos, em Minas, 55% da produção de cana segue para a produção de etanol. O restante vai para a venda de açúcar. Do combustível, quase tudo permanece no Estado para abastecimento, justamente pela dificuldade de logística para exportação do produto.
Pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já mostrou essa queda no preço do etanol nos postos de Minas Gerais. O etanol hidratado sofreu a maior queda no preço do litro entre os combustíveis levantados: de R$ 4,75 para R$ 4,71.
Na avaliação do especialista em mercado de combustíveis Eduardo Melo, da Raion Consultoria, a competividade do etanol vai depender também do preço da gasolina. Como a Petrobras ainda não repassou ao consumidor a alta do barril de petróleo no mercado externo, diante da guerra entre Rússia e Ucrânia, há um aumento gradual dos derivados de petróleo no País.
“O mercado está numa volatilidade enorme. A Petrobras, não repassando essa diferença, temos duas questões: as distribuidoras se veem obrigadas a trazer o produto importado para abastecer seus clientes, com preços bastantes superiores aos nacionais. E isso causa um repasse secundário aos postos, depois aos consumidores”, afirma Eduardo Melo.
Com isso, Eduardo diz que os preços da gasolina e do diesel vão aumentar aos poucos na bomba, o que puxa também o cobrado pelo etanol (a procura pelo derivado de cana aumenta, e com ela o preço do produto). Portanto, vale o consumidor ficar atento quanto à gasolina e diesel, já que o litro pode variar de acordo com a bandeira e a cidade.
Na prática, Petrobras é responsável por 80% da oferta de combustível derivado de petróleo no Brasil. Os outros 20% vêm de fora. Diante da alta procura pelo produto nacional, bem mais barato que o externo no momento, a estatal se vê obrigada a diminuir suas cotas para garantir a oferta do produto a seus clientes.
Portanto, na avaliação do especialista, a política de segurar os preços adotada pelo governo federal é falha. “Se por um lado a Petrobras está segurando os preços para não repassar essa alta, por outro, por ela não conseguir atender o mercado em sua plenitude, as distribuidoras vão ter que trazer o produto de fora e vai elevar o preço do mesmo jeito”, explica.
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