Há dois anos, a Covid-19 chegou a Minas Gerais “de avião”: o primeiro caso da doença foi confirmado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) no dia 8 de março de 2020, em uma moradora de Divinópolis que acabara de retornar da Itália. A doença rapidamente se disseminou, como no restante do mundo, e, hoje, o Estado soma 3,2 milhões de casos e quase 60 mil mortes. A pandemia não tem data para acabar, mas com indicadores em queda e 76% da população com pelo menos duas doses de vacina, deixa lições valiosas para a próxima crise sanitária.
Especialistas consideram louvável a adesão da população às medidas preventivas, como uso de máscara, no período e acreditam que poderá ser repetida. Apesar disso, festas com aglomerações interditadas no Estado e 478 multas pelo não uso máscara aplicadas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) também marcam a pandemia.
A professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, Aline Dayrell, pondera que ainda falta educação em saúde para a população. “O ideal seria o governo não precisar ditar se tem que usar máscara hoje ou se amanhã não terá mais. A população deveria se apropriar do conhecimento para saber quando é menos ou mais necessário o uso dela”, pontua. As campanhas do poder público para que as máscaras fossem utilizadas foram insistentes, mas não alertaram com a mesma constância sobre os ambientes em que elas eram mais necessárias e que tipos de máscara são as melhores para cada situação, por exemplo.
O epidemiologista do Laboratório Hermes Pardini José Geraldo Ribeiro considera que a pandemia escancarou a necessidade da vigilância epidemiológica, ou seja, a testagem e o rastreamento de contatos de infectados com determinada doença. “Não tivemos capacidade de testagem em massa. Ficou a lição de que os laboratórios de saúde pública precisam de grande investimento, tanto em tecnologia quanto em capacidade de testagem”. No cenário ideal, argumenta ele, os laboratórios deveriam ter mais capacidade para identificar rapidamente variantes de vírus em grande escala.
Capilaridade
A pandemia também provou que a capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS) e a histórica adesão do brasileiros às vacinas continua trazendo resultado e, mesmo recebendo imunizantes depois dos Estados Unidos e de países da Europa, por exemplo, hoje a população brasileira é uma das que tem maior cobertura vacinal contra a Covid-19 no mundo.
Por outro lado, lembra Ribeiro, a baixa da adesão às vacinas de rotina do calendário brasileiro, que se arrasta desde a década passada, foi acentuada na pandemia. “O Plano Nacional de Imunizações (PNI) precisa se aproximar mais da atenção primária”, diz o epidemiologista.
Pandemia acentuou as desigualdades sociais
A Covid-19 matou quatro vezes mais no Brasil, proporcionalmente, do que na população mundial, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). E afetou as populações mais pobres de forma mais intensa e algumas áreas mais vulneráveis das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda sofrem para avançar com a imunização.
A professora da UFMG e coordenadora do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, Aline Dayrell, argumenta que a pandemia acentuou as desigualdades sociais. A fome atinge 19,1 milhões de brasileiros e 116 milhões sofrem algum tipo de insegurança alimentar, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar.
Desde o início da crise sanitária, a professora relaciona a pobreza, que dificulta o diagnóstico correto de comorbidade em tempo hábil, por exemplo, à saúde da população, que fica ainda mais exposta ao vírus. “A saúde caminha junto com planejamento urbano, mobilidade, saneamento. Quem vive em um ambiente urbano sustentável tem uma vida mais saudável”, conclui.
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