O Brasil é o quinto mercado consumidor mundial de jogos eletrônicos, mas só o 13º produtor de games do mundo. Com a pandemia, 46% dos gamers brasileiros jogaram mais, segundo a Pesquisa Games Brasil, e a efervescência da demanda deu impulso à produção nacional. A importação de jogos nacionais aumentou 600% e, em 2020, o país também assistiu ao crescimento da primeira empresa nacional do ramo com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão. Agora, os números se refletem no aumento da busca por mão de obra qualificada e retenção de talentos no país.
“Em 2020, no primeiro ano da pandemia, o consumo quase dobrou. Só no Brasil, estamos falando em 95 milhões de jogadores, desde quem joga pelo celular no ônibus a quem gasta 250 horas em jogos de computador. De 2020 para cá, vemos um crescimento acima de dois dígitos do mercado”, detalha o presidente da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames), Rodrigo Terra. A estimativa do setor é de um faturamento de US$ 2,3 bilhões no último ano.
O mercado de games brasileiro é relativamente jovem, explica Terra. Com 20 anos de experiência, apenas no final da última década surgiu o primeiro “unicórnio” no setor – nome dado às empresas com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão. Após um aporte internacional, a Wildlife, sediada em São Paulo, passou a valer US$ 3 bilhões e, hoje, conta com 800 funcionários, inclusive fora do país. Mas o perfil da maioria das empresas brasileiras está mais próximo do das startups do que das grandes corporações, com poucos funcionários.
Levantamento da Associação Mineira de Jogos (Gaming) junto a 13 empresas mostra que, em 2021, o mercado gerou 165 empregos diretos no Estado e teve faturamento de cerca de R$ 3 milhões. Um crescimento de 272% em relação ao ano anterior, mas ainda incipiente se comparado aos Estados que lideram o desenvolvimento de jogos, como São Paulo e Rio Grande do Sul. O presidente da Abragames, Rodrigo Terra, cobra políticas públicas para o desenvolvimento do setor, como uma Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) própria, o que facilitaria o mapeamento do volume de empresas e de trabalhadores da área.
Segundo ele, há uma década, a associação e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) mantêm o projeto Brazil Games, de capacitação de empresas para exportação. Só em 2020, esse mercado faturou US$ 53 milhões.
Tendência é a de prestação de serviço
A pandemia acelerou a tendência de a produção de jogos originais ceder espaço à prestação de serviços para a indústria internacional, contribuindo para o desenvolvimento de games estrangeiros. “Com os funcionários em home office e o dólar disparando, as empresas estrangeiras começaram a terceirizar mais. Essa é uma oportunidade de amadurecimento para o nosso mercado”, avalia o presidente da Associação Mineira de Jogos (Gaming), Gabriel Coutinho.
A mineira Gamecraft Studios começou com apenas dois integrantes, o empresário Tiago Zaidan e o irmão. Com o boom de demanda por serviços, foram contratados 22 funcionários no último ano, todos em trabalho presencial em um escritório no bairro Funcionários, região Centro-Sul de Belo Horizonte. “Agora, nossa dificuldade é a contratação de mão de obra. Muitos profissionais saíam do país. Vamos começar a retê-los”, afirma Zaidan.
Na contramão desse movimento, a mineira Onrizon focou ainda mais o conteúdo autoral no período. A empresa criou o jogo Gartic, uma febre nos primeiros meses da crise sanitária, por permitir que amigos jogassem, à distância, uma espécie de “Imagem & Ação” online e gratuitamente. Os downloads dispararam 1.500% no primeiro mês de isolamento social, revela a diretora Helena Raísa.
Profissionais vêm de áreas distintas
A presidente da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames), Rodrigo Terra, afirma que os profissionais do mercado de games têm formações distintas e vêm de cursos específicos de jogos digitais até graduação em belas artes ou computação.
O curso de tecnólogo em jogos digitais da PUC Minas, fundado em 2006, tornou-se bacharelado em 202. O coordenador da graduação na unidade São Gabriel, professor Artur Martins Mol, informa que há cerca de 30 cargos possíveis na indústria de games: “Temos quem cuida dos diálogos, quem faz a modelagem do jogo, o especialista nos ambientes do jogo e os especialistas em inteligência artificial, por exemplo”.
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