Uma das principais consequências do espalhamento da ômicron pelo país foi o aumento significativo de crianças atendidas e hospitalizadas por causa da Covid. Somente no Hospital Infantil João Paulo II, referência do SUS no atendimento pediátrico em Belo Horizonte, houve um aumento de 255% nos atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios em janeiro em relação ao mês do ano anterior. Já em comparação a janeiro de 2020, antes da pandemia, o crescimento é de 150%.
Não foi somente no Brasil em que a chegada da variante ômicron provocou um aumento no número de crianças internadas por Covid. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 2022 elas representam cerca de 5% de todas as hospitalizações pela doença, uma proporção até quatro vezes maior do que as ondas anteriores de coronavírus. Pesquisadores de todo o mundo buscam entender por que a ômicron atingiu mais a faixa etária infantil do que as cepas anteriores, segundo uma reportagem publicada pela revista científica Nature.
De acordo com Gabriela Araújo, infectologista pediátrica e diretora de comunicação da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), a principal hipótese é que, uma vez em que quase toda população adulta está imunizada, o vírus procura hospedeiros mais vulneráveis para a replicação. Como boa parte do público infantil ainda não está vacinada, as crianças acabam ficando mais propensas à infecção.
Além disso, as crianças passaram a ficar mais expostas à circulação do vírus. “As crianças foram as que mais fizeram isolamento social durante a pandemia. Os adultos foram se infectando por outras variantes e as crianças se contaminaram menos. Elas agora ficaram mais vulneráveis por não terem sido vacinadas ou por não terem tido uma infecção prévia”, explica a médica.
Há ainda uma hipótese referente à estrutura corporal das crianças e ao fato de a ômicron atingir mais o trato respiratório superior do que os pulmões. “A via aérea da criança tem um diâmetro menor do que do adulto e qualquer secreção a mais ou inchaço das mucosas podem estreitar as vias aéreas, provocando dificuldade na respiração”, argumenta Gabriela, reforçando que a Covid tem provocado sintomas mais graves em crianças menores de 5 anos, que ainda não podem ser vacinadas.
O aumento de casos da doença no público infantil também acaba provocando um crescimento no número de notificações de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIMP), um conjunto de sintomas em decorrência da infecção por Covid. De acordo com boletim da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), foram 14 notificações em janeiro de 2022, o dobro do registrado em dezembro de 2021. Desde o início da pandemia, foram 176 casos e três mortes confirmadas por SIMP em Minas.
A melhor forma de manter as crianças seguras contra a Covid, segundo Gabriela, é com a vacina. “Os imunizantes são os mesmos que foram aplicados nos adultos. A Pfizer tem apenas um ajuste de dose para fase pediátrica. São seguras e eficazes para proteger de casos graves da Covid”, argumenta.
Menos ventiladores
O tema foi abordado em uma reportagem da revista “Nature” neste mês. O texto mostrou que o aumento de internações pediátricas tem sido abordado por cientistas de todo o mundo. Mas segundo o texto, até o momento verificou-se que, embora tenha havido um aumento na proporção de crianças hospitalizadas com Covid, os pacientes pediátricos precisaram de menos intervenções médicas, como ventiladores e oxigênio suplementar.
“Ômicron é menos provável de causar doenças graves em todas as faixas etárias. Mas outra explicação possível para os dados é que a multiplicidade de mutações da ômicron tornou a doença diferente e talvez um pouco mais grave em crianças pequenas do que em populações adultas”, disse Andrew Pavia, chefe da divisão de doenças infecciosas pediátricas da Universidade de Utah Health em Salt Lake City, à reportagem da ‘Nature”.
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