Um dos grandes mistérios que surgiram na pandemia do novo coronavírus — e que ainda está sendo investigado por especialistas em doenças infecciosas — é por que algumas pessoas pegam a doença e outras não? E por que isso ocorre mesmo quando estão igualmente expostas ao vírus?
É comum saber de famílias inteiras que pegaram covid e tiveram de se isolar, mas também existem várias histórias de casais, famílias e colegas onde algumas pessoas pegaram o vírus, conviveram com seus parentes, mas não houve contaminação generalizada.
O Imperial College London se debruçou sobre a diversidade de cenários de contaminação e, segundo os estudos recentes da instituição, coordenados pela especialista em infecções respiratórias Rhia Kundu, pessoas com níveis mais altos de células T (um tipo de célula do sistema imunológico) estimuladas pelo coronavírus do resfriado comum eram menos propensas a serem infectadas com SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19.
“Descobrimos que altos níveis de células T pré-existentes, criadas pelo corpo quando infectado com outros coronavírus humanos, como o resfriado comum, podem proteger contra a infecção por covid-19”, disse Kundo, em entrevista à CNBC.
No entanto, ela também alertou que, embora esta seja uma descoberta importante, é apenas uma forma de proteção, e gostaria de enfatizar que ninguém deve confiar apenas nisso. "Em vez disso, a melhor maneira de se proteger contra o covid-19 é ser totalmente vacinado, inclusive recebendo uma terceira dose de reforço", afirma Kundu.
A teoria é apoiada por pesquisadores da Universidade de Warwik, que possuem dados neste mesmo sentido: 'cerca de 20% das infecções por resfriado comum são causadas por coronavírus de resfriado comum, e essa seria uma forma com a qual alguns indivíduos mantêm níveis de imunidade adquirida previamente'.
Outra questão que surgiu durante a pandemia é por que duas pessoas com covid podem responder de forma tão diferente à infecção; uma pode ter sintomas intensos, por exemplo, e o outra pode ser assintomática. A resposta pode estar nos genes.
Um estudo preliminar sobre imunogenética, que é a relação entre genética e sistema imunológico, do Imperial College, descobriu que variações entre os sistemas imunológicos das pessoas "fazem a diferença", pelo menos no que diz respeito a ter a doença sintomática ou não.
A pesquisa é focada em diferentes genes do Sistema de Antígeno Leucocitário humano (HLA, na sigla em inglês), e está analisando como eles podem afetar a resposta à covid, com alguns tipos de HLA mais ou menos propensos a experimentar uma infecção sintomática ou assintomática.
Como por exemplo, a descoberta de que pessoas que possuem o gene 'HLA-DRB1 * 1302' são significativamente mais propensas a ter infecção sintomática do que os que não possuem.
Essa variações também foram experimentadas em outro estudo, onde jovens saudáveis foram intencionalmente expostos ao vírus da covid para entender mais a fundo sobre a resposta do corpo ao SARS-CoV-2.
Os resultados surpreenderam: quase metade dos participantes que receberam uma dose baixa de vírus não foi infectada, enquanto alguns dos que foram infectados não apresentaram sintomas. Os participantes que desenvolveram covid relataram sintomas leves a moderados, já sete tiveram sintomas de covid longa.
Nessas diferentes pesquisas, a resposta de ciência se conecta à diversidade das populações humanas. Pelo todo, lança uma explicação sobre o porque alguns países que possuem níveis semelhantes de vacinação e controle de infecção do vírus podem ter, neste momento onde a ômicron se espalha, cenários tão diferentes na contabilização dos casos.
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