Uma nota técnica do Ministério da Saúde, que aponta suposta eficácia da hidroxicloroquina no tratamento contra a Covid-19 e contesta a segurança da vacina, vem provocando revolta entre especialistas da área da saúde.
O documento, assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE), Helio Angotti, mente ao afirmar que há demonstração de efetividade e de segurança do uso da hidroxicloroquina para tratar a doença. No caso das vacinas contra Covid-19, consta que não há demonstração de segurança.
Nesse sábado (22), a SVB (Sociedade Brasileira de Virologia) publicou uma nota de repúdio ao documento do Ministério da Saúde, defendendo que a posição do secretário é “incompreensível, inapropriada, sem ética, e um acinte”.
Docentes, profissionais de saúde e pesquisadores brasileiros também criaram um abaixo-assinado contra o documento da secretaria. “Nos sentimos perplexos quando lemos a vasta lista de estultices apresentada pela nota técnica”, diz a descrição petição online.
Até a tarde deste domingo (23), 18 horas após a criação do abaixo-assinado, ele já reunia mais de 26.800 assinaturas.
A nota técnica da pasta foi usada para justificar a rejeição de diretrizes de tratamento da Covid-19. As diretrizes, que haviam sido aprovadas pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), contraindicavam o uso de “kit Covid” no SUS (Sistema Único de Saúde).
Em tabela incluída no documento, a secretaria pontua que a hidroxicloroquina tem custo baixo, não tem estudos “predominantemente financiados pela indústria”, mas não é recomendada por sociedades médicas.
Já a vacina contra a Covid-19, segundo a tabela, tem custo alto, tem estudos “predominantemente financiados pela indústria” e é recomendada pelas entidades médicas.
Em nota de repúdio ao documento do Ministério da Saúde, a SVB afirmou que se junta a outra sociedades médicas brasileiras no caso de ações eventualmente ajuizadas contra a nota técnica. Para a entidade, ela se trata de “demonstração de descaso para com a saúde do cidadão brasileiro”.
A sociedade defende que a falta de eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 já foi provada nos últimos anos por especialistas médicos brasileiros que formaram grupo de trabalho, que incluiu a Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e a SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia).
No abaixo-assinado criado pelos docentes, profissionais de saúde e pesquisadores brasileiros, eles solicitam “de forma urgente” que as normas de tratamento hospitalar e ambulatorial da Covid-19, elaboradas pelo grupo representativo de especialistas convocados pelo Ministério da Saúde e aprovadas pela Conitec, sejam adotadas pela pasta.
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