Com um aumento de 75% na procura por consultas nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte entre o final de dezembro e início de janeiro, a prefeitura da capital enfrenta dificuldades na abertura de novos leitos de enfermaria para ampliar a assistência à população. Além da complicação para contratar de profissionais de saúde, os que já atuam na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) estão sendo afastados dos postos após contaminação pela Covid-19 e pela gripe.
Em entrevista, a subsecretária de Atenção à Saúde de BH, Taciana Malheiros, falou sobre o assunto. Sem dizer quantos profissionais precisaram se licenciar até o momento, ela afirmou que o problema vem ocorrendo junto ao aumento de casos de doenças respiratórias na cidade. “Assim como toda a população, os nossos profissionais de saúde também estão adoecendo”, alertou Malheiros.
O cenário foi confirmado pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), que tem recebido comunicados das equipes de saúde sobre os adoecimentos. Nesta quarta-feira, a PBH informou que 70 novos leitos de enfermaria serão abertos até o final da semana, para absorver a alta na demanda. Além disso, o Executivo diz que pode desmobilizar leitos e profissionais que estão no atendimento a outras doenças para receber quem foi infectado com doenças respiratórias.
Na semana passada, a prefeitura já havia estendido o funcionamento de nove centros de saúde, em cada regional da capital, para desafogar o atendimento das UPAs. Habitualmente, duas mil pessoas eram atendidas por dia nas unidades, mas nas últimas semanas a média é de 3,5 mil cidadãos. Atualmente, segundo o boletim epidemiológico da Covid-19, BH tem 258 pessoas internadas em enfermarias com Covid-19 ou gripe.
No entanto, a capacidade atual é 240 leitos clínicos. “Nós temos observado que as pessoas que procuram atendimento, tanto para Covid ou gripe, cerca de 75% são casos leves”, observou. Enquanto a prefeitura, encontra dificuldades para garantir o atendimento da população, a espera nos centros de saúde e nas UPAs é longa. Ao procurar por atendimento na UPA Leste, a operadora de atendimento Talita Oliveira, de 24 anos, esperou por mais de duas horas.
Com a unidade cheia, só restou a calçada da rua para se acomodar enquanto esperava por uma consulta. "Estou com muita febre e dor de garganta, esta é a unidade mais perto da minha casa, não vou aguentar procurar uma unidade menos cheia, então o jeito é esperar como dá," avaliou.
O problema também é vivenciado na rede particular. De acordo com a Unimed-BH, que tem ampla cobertura em BH, houve alta superior a 44% na procura por atendimentos presenciais nas unidades da cooperativa e em hospitais credenciados. “A Unimed-BH vem percebendo um aumento dos casos positivos de COVID-19 e de casos respiratórios causados por outros vírus”, disse, em nota.
Com a demanda intensa de atendimentos por doenças respiratórias, quem precisa de consulta por outras enfermidades também enfrenta problemas. O motoboy Jhonny Patrício, de 34 anos, foi à UPA Odilon Behrens na noite de terça-feira, mas só conseguiu ser atendido por volta das 7h de ontem. O homem retornou de uma viagem de férias com dores renais e foi ao pronto-atendimento.
"A UPA está cheia e os médicos estão demorando mais de uma hora em cada atendimento. Fiz uma reclamação na ouvidoria porque achei um absurdo. Além disso, vou ter que pagar do meu bolso um exame que custa R$200 para detectar as pedras nos meus rins, porque o local não está fazendo esse procedimento," desabafou.
A prefeitura informou que já foram contratados 173 profissionais para atuarem nas UPAs, sendo que deste total 84 são médicos. O Executivo também garante que tem ajustado escalas de plantão das equipes para garantir atendimento. “Estamos com chamamento para médicos que querem trabalhar na rede, com cadastro no site da PBH”, disse Taciana Malheiros.
Em momento de dificuldade para conseguir atendimento médico, a receita é básica: vacinação contra a Covid-19 e gripe, uso correto de máscara e distanciamento social, segundo o professor emérito da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco. Ele alerta que os sintomas mais leves apresentados por pacientes infectados pela variante ômicron, e que se parecem com quem foi contaminado pela gripe do Influenza A H3N2, podem representar uma falsa sensação de segurança.
“Ela parece menos agressiva, mas não se sabe ainda até porque não é a variante com transmissão principal ainda. Vamos pensar em um cenário de que ela consegue infectar 15 vezes mais que as outras, mas com mortalidade 10 vezes menor, muita gente ainda estará morrendo e não dá para ter segurança”, alerta.
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