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Quando a alegria reinante nesta época do ano não contagia a todos

O sentimento conhecido como “Christmas’ Blue”, ou melancolia de Natal, precisa ser bem avaliado para que a pessoa receba a orientação correta

22/12/2021 às 14h50
Por: Redação Fonte: Mega Cidade com O Tempo
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A perda de um ente querido, as tormentas financeiras, a dissolução de uma relação amorosa ou mesmo o fato de, por contingências da vida, estar absolutamente sozinho (numa cidade ou mesmo no mundo, por que não?) são algumas das situações que fazem o ânimo ir em direção diametralmente oposta ao estado de alegria e fraternidade esperado nesta época do ano. Certo, há também aqueles que nutrem uma aversão confessa (e, de tão ferrenha, até divertida) à data, como Drauzio Varella: o canal do YouTube do médico abriga um vídeo no qual ele usa adjetivos como “cafona” para definir o que pensa da parafernália que caracteriza o mês de dezembro, quando casas, ruas e praças das cidades se enchem de luzes e enfeites temáticos.  

Mas, se nesses exemplos listados há um motivo detectável para justificar até mesmo a opção radical por um recolhimento, há outra situação na qual a ausência de entusiasmo neste período é vaga, não tangível. E esse status tem até nome: Christmas’ Blue, ou, em bom português, a melancolia de Natal. Não há estatísticas precisas quanto a esse quadro, mesmo porque seus “sintomas” dão margem a duas situações bem distintas, como alerta Simone Miranda Felipe, especialista em terapia cognitivo-comportamental. “Hoje, a gente entende a melancolia (na acepção do termo) como um subtipo de depressão. No entanto, o senso comum faz com que ainda seja empregada para descrever uma tristeza passageira”, explica. 

Neste segundo caso, prossegue Simone, essa dita “melancolia” teria, no caso do Natal, mais a ver com o desfecho de um ano, quando muitas pessoas costumam colocar a vida em repasse e observar como as coisas se passaram nestes 12 meses. “O sujeito se põe a refletir se atingiu ou não determinadas metas a que se propôs”, exemplifica ela, salientando que se entristecer diante de determinadas situações da vida é um fenômeno absolutamente natural. E não necessariamente de todo ruim. “A tristeza é uma emoção que faz a gente refletir sobre a própria vida e até mesmo efetivar mudanças, já que, na alegria, habitualmente não procedemos assim. Provavelmente, as maiores mudanças que uma pessoa fez na sua vida se deram a partir da emoção tristeza, quando ela começa a questionar coisas como ‘meu trabalho não está legal’, a forma como está condicionando a vida com a família, se está abrindo mão de algo que considera importante...”, exemplifica. 

No caso da definição científica, grosso modo, nota-se, na pessoa, uma perda total do prazer, a falta de reatividade a estímulos em geral prazerosos, entre outras características e por um período mais extenso, não atrelado apenas a uma efeméride, como o Natal. “No caso da palavra ‘melancolia’, usada como sinônimo de ‘tristeza’, a expectativa é que ela passe após o período natalino. Seria um entristecimento em função do momento que se estava vivendo”, diz. O que fazer, pois, para diferenciar um estado do outro? De acordo com Simone, caso características como a tristeza, o desânimo, a apatia ou a falta de motivação venham a ser notados por um período mais prolongado, é aconselhável que seja feita uma avaliação por um profissional qualificado. “Só ele vai poder determinar se é necessário iniciar um tratamento psicoterápico e, inclusive, medicamentoso”. 

No caso da tristeza, por seu turno, Simone diz que é interessante que a pessoa que está invadida por ela tente identificar o que de fato está acontecendo, o motivo de estar assim, naquele momento, a raiz. “E tentar fazer alguma coisa que seja interessante para ela. Não precisa, por exemplo, participar da ceia de Natal com a família. Se preferir ficar em casa assistindo a uma série ou mesmo dormindo, tudo bem. Não é um problema, se isso for satisfazer a pessoa. Mas vale investigar o porquê, do contrário todo ano isso fica de alguma forma se repetindo”, relata. 

Respeito ao sentimento do outro 
Quanto a quem está no entorno, ela salienta a importância de que o sentimento da pessoa que está se sentindo triste seja respeitado: “Partindo do princípio de que o que é bom para mim não necessariamente é bom para o outro. Não adianta o:  ‘Ah, se fosse eu, faria de determinada forma...’. Ou, ainda, o ‘por que você não põe uma roupa legal e não vai a uma festa, encontrar com os amigos?’. Porque isso, para aquela pessoa, não tem sentido naquele momento, e tudo bem. A gente tem que respeitar o momento do outro”. 

Há, ainda, uma terceira variável envolvida neste desalento com o período natalino: o condicionamento. “Noto, na própria prática do consultório, que, quando o mês de dezembro está se aproximando, algumas pessoas já começam a dizer frases como: ‘Nossa, o Natal está chegando, não gosto desta época, é um período no qual eu fico mais para baixo’. Como se só o fato de o Natal estar chegando fosse um sinal para ficar triste, porque a pessoa não gosta disso. Muitas pessoas estão influenciadas pelo que acabei de relatar, outras por causa de alguma questão na infância, uma família mais agressiva ou desunida, ou tóxica. Ou essa dificuldade de se relacionar mesmo. Há vários fatores em cena e, como mencionei, vale a pena investigar”, conclui.

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