As cirurgias de catarata no Brasil tiveram uma redução de 47,2% no país durante o primeiro ano da pandemia, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Penido Burnier – hospital especializado em doenças dos olhos desde 1920.
O levantamento, feito com base nos relatórios do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), mostra que 202,9 mil cirurgias para eliminar a catarata foram realizadas de janeiro a agosto de 2020, contra 384,4 mil procedimentos no mesmo período de 2019. Em 2021, 314,6 mil cirurgias foram feitas pelo SUS, de janeiro a agosto deste ano, uma recuperação de 55% se comparado com 2020, mas 18,15% inferior à quantidade de procedimentos realizados em 2019, antes da pandemia.
A catarata é uma lesão ocular que atinge e torna opaco o cristalino (lente natural do olho, localizada atrás da íris) e impede a imagem de chegar nitidamente à retina e, segundo o último censo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), é responsável por 49% dos casos de perda de visão no Brasil.
De acordo com o oftalmologista Leoncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, já era esperado que a pandemia tivesse um impacto maior sobre a visão dos idosos, uma vez que o envelhecimento aumenta os problemas de visão e a maior causa da catarata é o envelhecimento.
Ele afirma que muitos têm medo de operar por falta de informação, e esta é uma das causas do alto índice de cegueira por catarata, já que a cirurgia é o único tratamento para a doença. “O procedimento é rápido, dura 15 minutos, a anestesia é local, com aplicação de colírio no olho e sedação para o paciente relaxar. Consiste no implante de uma lente que substitui o cristalino, lente interna do olho que se torna opaca como um vidro embaçado”, diz.
Estado. Em Minas Gerais, dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) mostram que, de janeiro a agosto de 2020, foram realizadas 15.594 cirurgias de catarata, uma queda de 53,43% em relação aos 33.492 procedimentos feitos no mesmo período de 2019. Entretanto, em 2021, a procura dos mineiros pelo procedimento já sinaliza uma retomada, pois até o mês de agosto foram feitas 17.503 cirurgias, sendo 4.222 delas (24%) em Belo Horizonte.
Para o oftalmologista da Unimed-BH Rodrigo Versiani, o avanço da vacinação contra a Covid-19 e a queda das internações hospitalares são alguns dos fatores que têm contribuído para essa recuperação no número de cirurgias.
“A vacinação em massa e, consequentemente, a queda dos índices de transmissão e das internações hospitalares trouxeram uma maior segurança para os pacientes, acima de 60 anos, voltarem a procurar seus médicos e os tratamentos interrompidos pela pandemia. Houve, sim, uma recuperação dos índices de cirurgias de catarata, ainda abaixo da normalidade, mas com uma recuperação mais forte no último mês. Acreditamos que no início de 2022 devemos atingir os números habituais”, afirma o médico.
O grupo com maior risco de desenvolver a catarata são as pessoas acima de 60 anos. Os primeiros sinais da catarata são visão embaçada, troca frequente de óculos e dificuldade para dirigir à noite.
“Os principais sintomas da catarata são a perda da qualidade visual e o embaçamento. Então, pacientes acima de 60 anos com queixa da piora da qualidade e também da quantidade de visão devem procurar o oftalmologista. No exame do consultório, quando constatada a catarata, o paciente tem, sim, indicação para a cirurgia para recuperação da qualidade e quantidade de visão e, consequentemente, melhora da qualidade de vida”, explica o oftalmologista Rodrigo Versiani.
O médico ressalta que a visão embaçada pela catarata impacta diretamente o uso de tablets, computadores, celulares, televisão, além do aumento de queda entre os idosos e de acidentes no trânsito. “O índice de queda no paciente idoso portador de catarata é maior. E não podemos nos esquecer da direção (de veículos). O paciente portador de catarata piora sua qualidade de visão, então dirigir aumenta o risco de acidentes”, destaca.
Apesar de ser mais comum entre os idosos, o oftalmologista Leoncio Queiroz pontua que a catarata pode atingir os jovens. “A doença também pode surgir em jovens quando há casos na família, resultar de um trauma no olho, falta de proteção contra a radiação ultravioleta do sol ou uso contínuo de corticoide”, ressalta.
Depois de uma consulta de rotina, a aposentada Zenaide Fonseca Santos, 61, foi aconselhada pela médica oftalmologista a fazer a cirurgia de catarata nos dois olhos. O procedimento foi realizado pelo plano de saúde nos dias 23 de setembro e 14 de outubro.
“A médica fez os exames e disse que eu estava com catarata bem avançada no olho esquerdo e um pouco no olho direito. Fiz a cirurgia, e foi muito tranquila. Estou ótima e enxergando muito bem de longe, graças a Deus”, comemora.
Apesar de não ser comum, há casos de catarata congênita, que pode ser hereditária. “Minha mãe tinha glaucoma, catarata, doença na retina e morreu praticamente cega. Se a gente não cuidar, a cegueira é certa”, conta, ao ressaltar que, antes da cirurgia, usava óculos de grau forte e enxergava só vultos.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, atualmente não há fila de espera significativa para a cirurgia de catarata na capital. “Neste momento, há 40 pacientes aguardando avaliação para o procedimento com espera inferior a uma semana. É importante destacar que a oferta é superior à demanda para esse procedimento na capital”, disse, em nota.
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