Depois de um quase ano e seis meses com restrições impostas pela pandemia de COVID-19, o interior de Minas volta a viver a expectativa de contar com público nos estádios em um jogo oficial. Diante da proibição de torcedores nas partidas em Belo Horizonte, a cidade de Sete Lagoas, na Região Central do estado, será a casa do Cruzeiro nos dois próximos jogos como mandante, pela Série B do Campeonato Brasileiro: diante da Ponte Preta, no sábado, às 11h, e contra o Operário, dia 16, às 19h, ambos transferidos para a Arena do Jacaré. Apesar do maior controle nos índices da doença no município de 240 mil habitantes, a liberação ara a presença de torcida divide os sete-lagoanos.
A prefeitura entende que o protocolo é eficaz e não há risco de uma nova explosão de casos e internações. A cidade recentemente voltou à onda verde do programa Minas Consciente - iniciativa do Estado que estabelece medidas para a retomada gradual das atividades - e adotou uma série de ações que acredita serem suficientes para a segurança, dentro e fora do estádio.
O receio entre os moradores é que a partida cause aglomeração nos bares da cidade e no próprio estádio, entre outros desrespeitos a normas de prevenção à COVID-19 - como ocorreu na capital, no duelo entre Atlético e River Plate, pela Copa Libertadores, e entre Cruzeiro e Confiança, pela Série B, ambos no Mineirão, no mês passado.
Foi justamente por causa do descumprimento dos protocolos que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) voltou a vetar a presença dos torcedores nos estádios de BH.
Boa parte dos moradores e trabalhadores de Sete Lagoas acha prematura a volta do futebol com público. Cruzeirense, a operadora de telemarketing Rhayane Gabriele Matias, de 23 anos, não cogita a possibilidade de ir à Arena do Jacaré: "A cidade não está preparada. Acho que a secretaria de Saúde está colocando a população em risco ao liberar público. Virão muitos torcedores de outras cidades, o que aumenta o perigo de transmissão do vírus. E ainda temos muitos casos na cidade. A doença ainda nos causa muito medo".
O mesmo pensamento tem o engenheiro civil Marcos Antônio da Silva, de 47, que mora em Pedro Leopoldo, mas vai diariamente a Sete Lagoas por motivos de trabalho: "O futebol quer voltar a todo custo. Acho que é momento de concentrarmos forças para vencer definitivamente o vírus. O esporte não é tão importante se comparado às escolas, que ainda não tiveram seu retorno completo. As variantes são perigosas e, enquanto não houver mais estudos e definição sobre seu potencial de contaminação, tudo deveria ser mais cauteloso".
A depiladora Juliene Campos, de 42, teme uma infecção em massa: "Não é momento para aglomerações. Num estádio, as pessoas se descuidam muito, nunca respeitam as regras. Aglomeram e transmitem o vírus".
Já o motoboy Felipe Santos, torcedor da Raposa, tem opinião diferente. Ele concorda com o retorno do público, mas destaca a necessidade de obediência às regras: "Se as pessoas forem ao estádio com máscara, não haveria problema. E tem que haver mais fiscalização para que os torcedores não aglomerem".
Felipe ainda não está certo, contudo, de que vai ao jogo. Mas não por temer a COVID-19: "Já fui a muitos jogos na Arena do Jacaré, mas hoje os ingressos estão muito mais caros. Ainda não decidi se vou. Vai depender de quanto dinheiro terei".
Venda de ingressos
A venda de ingresso do jogo contra Ponte Preta, para o público geral, começa na quarta-feira e vai até sexta-feira, por R$ 60, sendo a meia-entrada ou o ingresso solidário a R$ 30, mediante doação de 1kg de alimento não-perecível. Para os sócios-torcedores, o valor varia entre R$ 30 e R$ 60, dependendo da categoria do associado. Os torcedores deverão portar o ticket impresso ou a versão digital. Para o jogo contra a Ponte, segundo o clube, o cartão de sócio valerá como ingresso.