O governo deve anunciar nesta terça-feira (31) o novo valor da bandeira tarifária cobrada na conta de luz para bancar a operação de usinas térmicas. A expectativa é que o valor seja elevado em ao menos 50%.
A proposta de cobertura adicional dos custos das térmicas foi discutida apresentada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) ao CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) nesta segunda (30). O governo, porém, não confirmou o novo valor.
Atualmente, os consumidores pagam R$ 9,49 a cada 100 kWh (quilowatt-horas) consumidos. Se confirmado o aumento nesta terça, será a segunda elevação do valor desde o fim de junho, quando a bandeira mais cara foi reajustada em 52%.
A alta no preço da energia é um dos principais fatores de pressão na inflação, que deve superar os 7% em 2021, segundo projeções de instituições financeiras compiladas pelo relatório Focus, do Banco Central.
Com a maior crise hídrica dos últimos 91 anos, as hidrelétricas perderam espaço na oferta, enquanto o governo se viu obrigado a acionar térmicas, que são mais poluentes e mais caras.
Na reunião desta segunda, o CMSE aprovou a operação de três novas térmicas, como reforço à capacidade de geração para evitar apagões em horários de maior demanda enquanto as chuvas não chegam para reforçar os reservatórios das hidrelétricas.
A lista inclui as usinas Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, e Cuiabá, no Mato Grosso, que poderão ser acionadas entre outubro e março de 2022. Já a usina Termonorte 1 poderá ser acionada por um período de seis meses a partir de setembro de 2021.
“Os cenários apresentados pelo Operador [Nacional do Sistema Elétrico] reforçam a criticidade do momento”, disse, em nota, o MME (Ministério de Minas e Energia). O texto afirma, porém, que as medidas já tomadas garantem o atendimento do mercado nos cenários analisados.
Especialistas do setor dizem que, para absorver o elevado custo das térmicas, a bandeira vermelha nível dois, mais cara e vigente atualmente, deveria dobrar. Para a TR Soluções, o valor ideal chegaria a R$ 19 a cada 100 kWh.
A crise levou o presidente Jair Bolsonaro a admitir, na semana passada, que hidrelétricas podem parar de operar por falta de água. “Estamos no limite do limite. Algumas [hidrelétricas] vão deixar de funcionar se essa crise hidrológica continuar existindo”, disse.
Segundo a consultoria Volt Robotics, o Brasil tem hoje 30 hidrelétricas já sofrendo perda de potência por causa dos baixos níveis dos reservatórios. O impacto na geração de energia soma 7 GW (gigawatts), o equivalente à metade da capacidade de Itaipu, a segunda maior hidrelétrica do mundo.
A perda de potência ocorre em usinas que hoje operam com menos de 25% de sua capacidade de armazenamento de água. Elas somam uma potência instalada de 23,5 GW, o equivalente a um quinto da capacidade hidrelétrica brasileira, e as perdas tendem a se acentuar na medida em que os rios continuem baixando.
Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), algumas dessas usinas podem chegar a novembro com menos de 10% de sua capacidade de armazenamento de energia, caso o país não consiga novas fontes de geração e não tenha sucesso no incentivo à economia de luz.
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