Abastecer o carro tornou tarefa das mais caras e difíceis para o bolso do consumidor. A disparada dos preços tem feito com que a ida ao posto de combustível se torne motivo de pesadelo. E o pior de tudo é que a tendência é de continuidade no aumento. Em Belo Horizonte, o litro da gasolina tende a chegar a R$ 7 a partir de setembro, conforme especialistas entrevistados pela reportagem.
Impostos estaduais e federais, dólar nas alturas além do aumento do valor do preço do barril do petróleo são algumas das razões para o alto preço pago pelo consumidor. A economista Vaniria Ferrari conta que nos últimos 12 meses houve aumento de 37%. “É praticamente impossível abastecer. O aumento já vem desde 2020. Subiu muito mais que a inflação”, diz.
Muito se fala sobre o valor do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e de que ele seria o “vilão” do preço encontrado pelos consumidores nas bombas. A economista, que também é professora, conta o que, de fato, tem causado o aumento. “O preço é controlado pelo valor do barril de petróleo e ele é cotado em dólar. Como a moeda americana está em alta para nós, mais caro o combustível fica”.
A previsão do mercado, segundo Vaniria, é de que o dólar feche o ano “na casa dos R$ 5,20”. “A expectativa é de que não haja diminuição no valor do combustível. O consumidor vai ter que lidar com o valor alto”, alerta.
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Se a situação já não está boa, infelizmente ela pode piorar. Um levantamento do Mercado Mineiro, com 145 postos de combustível de BH e região metropolitana, apontou que o maior valor encontrado no litro da gasolina foi R$ 6,499 e o menor R$ 5,899. A previsão é de que o litro chegue a R$ 7 brevemente, assim como já acontece em algumas cidades do Brasil.
“Acho que agora em setembro já vamos ver postos vendendo gasolina a R$ 7 o litro. Já tem postos vendendo a R$ 6,90. Há expectativa do valor subir ainda mais. O barril do petróleo vai ter reajuste e deverá custar até 80 dólares no final do ano”, diz a economista.
Feliciano Abreu é o diretor do Mercado Mineiro e opta por não realizar tal previsão. “É muito difícil fazer este tipo de projeção [de quando vai chegar a R$ 7], mas o preço deve continuar subindo. A perspectiva para o consumidor é péssima. Não vejo melhora. Só neste ano já tivemos nove aumentos. É surreal. O povo não vai aguentar”.
O valor encontrado na bomba de combustível é um somatório de vários fatores, conforme explica Vaniria.
“O preço da gasolina na bomba depende do preço que sai nas refinarias e isso corresponde a 30,5% do valor final. O ICMS corresponde a 28%, os tributos federais 16% e ainda tem o custo de transporte, que fica entre 2,5% a 3%. O valor que sai da refinaria já está caro. Se pegar a porcentagem dele e somar com os impostos, já são quase 60% e ainda tem a margem de lucro dos postos”.
O valor médio dos combustíveis nas refinarias, segundo a economista, é “em torno de R$ 2”. “Somente lá já subiu 13% em 2021. No preço final já deve ter dado mais de 27,5% de aumento, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)”.
O impacto na alta do preço dos combustíveis já é perceptível em diversos aspectos. “O motorista está rodando menos. Estamos observando redução drástica de consumo tanto no setor de alimentos como no de combustível. Ambos são itens que movimentam a economia. O consumidor acaba não tendo opção. O momento vivido é de pressão em todos os segmentos”, diz Feliciano.
“A alta nos preços é uma realidade que não dá para fugir, infelizmente. O combustível está caro no mundo inteiro. Imagina quem trabalha com aplicativos de mobilidade”, destaca a economista. O BHAZ mostrou na última semana o impacto na vida desses profissionais citados por Vaniria. Muitos já desistiram da função devido ao baixo lucro.
Mesmo com os altos valores praticados, pesquisar segue sendo uma dica para os consumidores antes de abastecer. “Apesar de tudo, temos que tomar cuidados com as variações de preços. Pesquisar é necessário, pois o preço pode mudar em cada região. Já vi gasolina de R$ 6,40 a R$ 6,90 em BH”, alerta Vaniria.
A quantia necessária para abastecer o carro tem causado a iria e provocado reações nos consumidores. Uma mulher, por exemplo, viralizou após pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), devido ao alto preço da gasolina. O caso aconteceu durante uma entrevista ao vivo no “Rio Grande Record” na última quarta-feira (25).
“O que você está achando do preço da gasolina?”, começou a repórter da emissora afiliada da Record TV. “Está cara, graças ao Bolsonaro”, disse a entrevistada dentro de um carro em um posto de gasolina. O telejornal informava que o preço do litro da gasolina chegou a R$ 7 na cidade.
A repórter continua e pergunta: “E o que faz nesse momento? Enche o tanque igual?”. Sem pensar duas vezes, a mulher responde: “Faz o impeachment do Bolsonaro”. Com uma risada e visivelmente sem graça, a profissional agradeceu a participação e disse que “a solução neste momento é andar de bicicleta”.
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