Com gasolina vendida a até R$ 6,90 e etanol a R$5,25 no interior de Minas, moradores diminuem comida no prato para continuar trabalhando

Com o preço de produtos e serviços nas alturas, o consumidor apelou para uma escolha drástica: sem conseguir custear tudo, passou a reduzir nos alimentos para dar conta de pagar o combustível. E não pense que é para encher o tanque não, longe disso. É que a gasolina está tão cara no interior de Minas que não dá para manter as compras de antes e garantir o combustível no carro usado para trabalhar. 

Em Nova Ponte, por exemplo, no Alto Paranaíba, já tem posto cobrando R$ 6,90 pelo litro da gasolina comum. Quem pesquisa e busca outra opção na cidade, não tem muito para onde correr e paga R$ 6,85 no litro. Salgado para o bolso e também para o prato, que passou a ficar mais vazio. 

Rodando pelo interior de Minas, nossa reportagem encontrou muita gente reclamando e teve até relato de quem teve que mudar a alimentação para dar conta de pagar R$ 6,90 no litro da gasolina que mantém o carro que é usado para o trabalho. 

Célio Vicente da Silva, de 58 anos, é eletricista e contou que não tem como encher o tanque com o salário que ele recebe. “Não tem condição, não dou conta de encher o tanque não, pelo o que eu ganho nunca. Eu não tenho como diminuir [andar de carro] porque meu trabalho é o dia inteiro cortando para lá e para cá“, lamentou. 

Já a esposa do eletricista, Márcia Aparecida dos Santos, de 52 anos, contou que o jeito foi cortar as despesas com alimentação. “Tem que reduzir o orçamento doméstico. Da carne você passa para verdura, passa para o ovo e a gente já está enjoado de comer ovo. A verdura não dá para comer porque está R$15 o quilo de jiló, R$19 o de quiabo. É rezar para não adoecer também, porque se adoecer como é que faz? O pobre está lascado! É para de comer e pronto. Vai piorar cada vez mais, nós temos que pegar é com Deus”, desabafou. 

Preço do etanol também está nas alturas:

Além da gasolina e do diesel, o preço do etanol também está nas alturas. Em Nova Ponte, por exemplo, tem posto cobrando R$5,25 no litro do etanol. De acordo com especialistas, a dinâmica do mercado de combustíveis faz com que o álcool pegue carona nos preços exorbitantes da gasolina. 

Segundo o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas do Estado de Minas Gerais (SIAMIG), Mário Campos, os postos de combustíveis já registram perda de consumidores de etanol. “O preço de gasolina tem impactado a formação do preço de etanol no mercado. Preço de gasolina sobe na bomba, o consumidor procura mais o etanol, a gente tem já uma oferta dada, porque já temos uma quantidade de cana que vai ficar etanol, dessa forma os ofertantes já consideram essa informação para a formação de preço e o que a gente tem visto é que o preço do etanol no produtor tem aumentado nos últimos meses em função do aumento da gasolina. E isso tem feito com que o etanol perca a competitividade com relação a gasolina e o consumidor tem migrado para a gasolina”, explicou Campos. 

Para que o etanol seja viável para o consumidor, naturalmente ele precisa ser em média 30% mais barato que o valor da gasolina, quando pensamos no rendimento do carro. Diante dos preços altos, as pessoas têm ficado sem saída na hora que vai abastecer o carro. E as expectativas para os próximos meses não são boas. 

“Realmente nessa safra 2021/2022 eu não vejo nenhuma forma da gente vislumbrar preços menores do que temos. O que pode ocorrer no mercado é uma redução do preço do petróleo, o real mais valorizado, ou seja, o dólar mais desvalorizado de forma que o câmbio no Brasil caia e dessa forma essa redução possível do preço da gasolina, se tiver, pode mudar a dinâmica do mercado do etanol. Mas considerando as restrições em função de clima, hídrica e geada para a oferta de etanol, eu não vislumbro um movimento diferente do que esse que já temos”, finalizou o presidente da SIAMIG.