"Cenários turbulentos, mudanças velozes" foi o tema da palestra proferida pelo filósofo Mário Sérgio Cortella, promovida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), por meio da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef). A palestra foi realizada nessa quarta-feira (24/8), com transmissão ao vivo pelo Canal da Ejef TJMG no Youtube.
Participaram o 3º vice-presidente do TJMG, desembargador Newton Teixeira Carvalho, o 1º vice-presidente do TJMG, desembargador José Flávio de Almeida, a superintendente adjunta da Ejef, desembargadora Mariangela Meyer, representando o 2º vice-presidente do TJMG, desembargador Tiago Pinto.
Também assistiram a palestra, os desembargadores Edison Feital Leite, Jaubert Carneiro Jaques, José Marcos Rodrigues Vieira e Moacyr Lobato; o juiz auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça, Eduardo Gomes dos Reis; o juiz auxiliar da 3ª Vice-Presidência, José Ricardo Véras; e o juiz do TJMG e do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), Luiz Carlos Rezende Santos.
O desembargador Newton Teixeira Carvalho disse que a 3ª Vice-Presidência é responsável pela política de autocomposição do TJMG. "Convidamos o filósofo humanista, Mário Sérgio Cortella, para a palestra, considerando que queremos difundir, fora do Judiciário, a cultura da conciliação".
O 3º vice-presidente do TJMG falou sobre a importância de difundir a cultura da conciliação para o público em geral (Foto: Divulgação/TJMG)
O magistrado disse que o tema da palestra é pertinente com a política autocompositiva. "Essa palestra será um marco no TJMG, para incentivar todos os participantes a tomarem o protagonismo de seus conflitos, para a qualificação e o aprimoramento das relações sociais. As pessoas devem saber buscar as soluções por elas mesmas com a comunicação não violenta, de maneira harmônica. Para cada conflito é possível encontrar um método de solução", afirmou.
O desembargador Newton Teixeira Carvalho chamou a atenção para o Congresso Internacional de Políticas Autocompositivas do TJMG, para qualificar quem atua nas políticas autocompositivas que será realizado de 30/11 a 3/12, e que está com inscrições abertas (https://ejef.tjmg.jus.br/i-
A desembargadora Mariângela Meyer apresentou o currículo do filósofo Mário Sérgio Cortella. Ele é bacharel em Filosofia, tem mestrado e doutorado pela Universidade Católica de São Paulo, onde se aposentou depois de ter sido professor por 35 anos. É professor convidado da Fundação Dom Cabral e da Fundação Getúlio Vargas, comentarista e colunista de rádio e TV, atuante nas redes sociais com milhões de seguidores. Também foi secretário Municipal de Educação de São Paulo e tem 47 livros publicados.
A desembargadora Mariangela Meyer representou o 1º vice-presidente do TJMG, desembargador Tiago Pinto (Foto: Divulgação/TJMG)
O filósofo e os pensadores
"Honrar o que fazemos e proteger o futuro junto a pessoas que ganham a vida cuidando de vidas, fazendo com que possa haver harmonia nas relações", assim Cortella deu início à sua palestra e citou um salmo do judaísmo que, segundo ele, é usado também no cristianismo e no islamismo: "Justiça e paz se abraçarão". Este é um dos salmos mais belos do judaísmo, segundo o palestrante.
Para ele, é importante defender a justiça e a paz de forma pacífica, mas não passiva, "porque os ausentes nunca têm razão, é preciso protagonismo".
Ao fazer uma analogia das relações sociais com o protagonismo dos músicos, em uma orquestra sinfônica, tocando diferentes instrumentos em harmonia, o filósofo busca a palavra espanhola "concertación", para dizer desses arranjos que a vida evoca.
O filósofo "dialogou" com autores mineiros para abordar a importância da conciliação (Foto: Divulgação/TJMG)
Entre vários filósofos, músicos, escritores e poetas citados, Mário Sérgio Cortella destacou os mineiros Rubem Alves, Pedro Nava, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade.
Segundo ele, Rubem Alves escreveu sobre a esperança e chamou a atenção para a diferença entre otimismo e esperança. "Otimismo é quando sendo primavera do lado de fora da gente, também é primavera dentro, enquanto esperança é quando não tem flores do lado de fora, mas tem que fazer nascer flor do lado de dentro".
Pedro Nava, autor do livro Baú de Ossos, o primeiro volume das suas memórias, afirmou: "não tenho ódio, tenho memória". A partir desta afirmação, Cortella lembrou que para a prática de uma cultura de paz é preciso relevar o desnecessário. "Há coisas que não esqueço, mas abro mão do litígio quando não é essencial", disse.
Neste diálogo, com os autores que elegeu para sua palestra, Cortella lembrou da famosa frase do personagem de Riobaldo, no romance Grande Sertão Veredas: viver é muito perigoso. "De fato a vida é grande sertão, mas tem veredas que marcam a nossa não desistência. Não basta que a gente queira, temos que nos preparar com atitudes e valores que entendemos serem necessários porque a vida sempre acaba em morte como disse Guimarães Rosa".
"Somos finitos, para mim a morte não é uma ameaça, é uma advertência: cuidado para não desperdiçar sua vida. Eu não quero gastar minha existência com confrontos e tolices, mas para isso tenho que fazer um esforço cotidiano. Não basta que a gente queira, temos que nos preparar com atitudes e valores que entendemos serem necessários", afirmou Mário Sérgio Cortella.
Para concluir, o palestrante citou Drummond: "Pois há coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão".
O desembargador Newton Teixeira elogiou a palestra. "Sua fala nos motiva a continuarmos com a cultura da paz. Temos que ser competentes, dinâmicos e proativos. As veredas para nós são os métodos autocompositivos", finalizou.
Assista a palestra na íntegra .
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