A produção da Coronavac está em risco, justamente no momento em que milhares de brasileiros aguardam a segunda dose para completar o esquema vacinal contra a Covid.
O Instituto Butantan (SP) deve entregar, nesta semana, o último lote das 46 milhões de doses referentes ao primeiro contrato com o Ministério da Saúde, mas será difícil cumprir os próximos prazos, já que está atrasada a chegada de um carregamento de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), necessário para a fabricação do imunizante.
A produção em junho já está sob risco, segundo o presidente da instituição, Dimas Covas. O segundo acordo com o Ministério da Saúde prevê a entrega de 54 milhões de doses até setembro.
Há uma expectativa de liberação de 4.000 L do produto, fabricado pela empresa Sinovac, mas o governo chinês ainda não permitiu a exportação da carga.
O problema nos atrasos não seria técnico, mas político e diplomático, segundo Covas. As falas do presidente Jair Bolsonaro, dos filhos dele e de ministros do governo contrários à China seriam o motivo para o entrave na liberação do IFA. “Isso é o que causa o atraso, não há nenhum problema com a produção da matéria-prima”, afirmou Covas em coletiva nesta segunda-feira (10).
A embaixada da China no Brasil, no entanto, nega que as falas do presidente tenham interferência nas relações comerciais dos dois países ou na importação de IFA. De acordo com Dorival Guimarães Pereira Jr., professor de direito internacional do Ibmec, não há elementos sólidos para afirmar que realmente exista uma interferência do governo chinês na exportação do produto farmacêutico, mas é certo que o governo federal comete muitos equívocos no âmbito das relações exteriores com seu maior parceiro comercial.
“O governo federal tem uma atitude que destoa da diplomacia brasileira, que é do consenso e do diálogo. Alguns equívocos foram reduzidos com a saída de Ernesto Araújo e a chegada de Carlos Alberto França no Ministério (das Relações Exteriores), mas todos esperam uma mudança de postura do presidente”, explica o professor, reforçando que outros atores políticos têm tentado resolver os problemas, intercedendo junto a representantes da China.
Infectologista e professor da UFMG, Unaí Tupinambás confirma que o atraso na produção da Coronavac interfere profundamente na imunização dos brasileiros. “Nossa vacinação já era lenta, a conta-gotas. Agora, com a redução da produção de doses, vai atrasar ainda mais nossa campanha de vacinação e impactar o enfrentamento da pandemia”, diz o professor, que estima uma terceira onda de Covid no Brasil entre junho e julho.
Desde o início da vacinação, o Ministério da Saúde tem revisto as suas previsões de vacinas para cada mês por conta dos atrasos, especialmente da vacina AstraZeneca, fabricada pela Fundação Oswaldo Cruz no Brasil.
Em fevereiro, a pasta estimava receber 27 milhões de doses dessa vacina, mas teve só 19 milhões. Naquela data, a previsão era ter 138,8 milhões de imunizantes de Astrazeneca e Coronavac até o fim de maio. Agora, o último planejamento da pasta, de 5 de maio, estima 105 milhões de imunizantes para o período.
Até o momento, o Ministério da Saúde enviou 75 milhões de vacinas aos Estados.
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