A Campanha Nacional de Vacinação contra o Vírus Influenza começou no país neste mês e a meta do Programa de Imunização da SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) é imunizar 90% da população prioritária – cerca de 8,4 milhões de pessoas em todo o estado. Com a pandemia, no entanto, algumas dúvidas têm surgido sobre a importância dessa imunização e sobre como ela se relaciona com as vacinas contra a Covid-19.
As informações são da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Em entrevista concedida ao programa de rádio Saúde com ciência, o médico e professor da Faculdade de Medicina, Ênio Pietra Pedroso, do Departamento de Clínica Médica, explica sobre a necessidade de vacinação contra a Influenza, as similaridades e diferenças entre os dois vírus e esclarece se a vacina da gripe pode levar a uma menor ocorrência da Covid-19.
A estratégia para vacinação contra a influenza foi integrada ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) em 1999, com o objetivo de reduzir internações por complicações decorrentes da gripe e óbitos. O professor esclarece que a vacina contra o vírus influenza constitui um modelo semelhante ao de imunizantes para outros agentes. Isso porque ele é formulado com vírus inativado, estratégia também usada no desenvolvimento da Coronavac. “Portanto, não há vírus vivo”, acrescenta Ênio.
No entanto, imunizar-se contra o vírus da gripe não significa estar imune também ao coronavírus. A proteção contra o vírus influenza reduz apenas o seu papel como desencadeador de doença respiratória aguda. Isso ajudaria a reduzir internações por causa da gripe, evitando sobrecarrega ainda maior ao sistema de saúde.
A gripe é uma infecção viral do aparelho respiratório provocada pelo vírus influenza, que ataca os pulmões, o nariz e a garganta. A exemplo da infecção causada pelo novo coronavírus, os sintomas incluem febre, calafrios, tosse, dores de cabeça e fadiga. Por isso, as doenças podem ser facilmente confundidas.
O que se sabe até o momento é que a prevenção contra o influenza durante esse período de alto contágio pela Covid-19 ajuda a diferenciar o diagnóstico das duas doenças. Descartando a gripe nas pessoas imunizadas contra a influenza, fica mais fácil diagnosticar as duas doenças, diminuindo assim a pressão sobre as unidades de saúde.
Uma dúvida que tem sido levantada, especialmente após publicação de estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, é sobre a possibilidade do imunizante contra a gripe ter também algum efeito preventivo contra a Covid-19, uma vez que os sintomas das duas doenças são semelhantes.
O estudo observou menos casos de Covid-19 em pacientes imunizados contra a gripe. Em relação a esse resultado, os autores da pesquisa levantaram a hipótese de que os pacientes vacinados contra a influenza tenham cultivado melhores hábitos de prevenção contra a Covid-19 e, por isso, se infectado menos.
Outra explicação possível é que a vacina contra a gripe evita a sobrecarga do sistema respiratório, fortalecendo a primeira linha de defesa do sistema imune.
No entanto, o professor Ênio Pedroso esclarece que ainda é cedo para considerar os resultados obtidos, uma vez que o estudo, de natureza retrospectivo-observacional, não possibilita confirmar essa associação. Ele também considera que todos os dados científicos relacionados à doença exigem mais tempo para serem consolidados.
Para que os resultados da pesquisa realizada em Michigan sejam referenciais e considerados para outras populações ao redor do mundo, é necessário ampliar os estudos para outros países. “Os estudos precisam ser confirmados, criticados e realizados em outras situações étnico-ambientais”, defende Ênio.
A 23ª Campanha Nacional de Vacinação contra o Vírus Influenza se estende até 9 de julho. Neste ano, o programa foi dividido em três fases, que contemplam grupos definidos pelo Ministério da Saúde para evitar aglomerações nas unidades de saúde. Confira mais informações sobre a imunização em Belo Horizonte, Betim e Contagem.
Com Maria Beatriz Aquino, da UFMG
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