A pandemia de coronavírus tem feito com que a função dos fisioterapeutas respiratórios seja mais conhecida. Esses profissionais atuam no tratamento de pacientes com Covid-19 desde a chegada ao hospital, passando pela internação, até na recuperação da capacidade pulmonar. Segunda dados do site de classificados de empregos Catho, a procura por esses especialistas cresceu cerca de 720% em 2020 no Brasil, se comparado com 2019.
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) tem pouco mais de 200 fisioterapeutas respiratórios atuando em suas 21 unidades assistenciais. Destes, 70 foram contratados desde o início da pandemia para atuar em hospitais da fundação.
Atuando como fisioterapeuta respiratório desde 2014, Bruno Brandão di Vita, 34, começou a trabalhar na linha de frente do combate à pandemia no ano passado, no Centro Especializado em Covid-19 de Betim (Cecovid Betim 2). Bruno conta que seu trabalho se inicia logo quando o paciente chega na unidade.
"A função do fisioterapeuta respiratório é de extrema importância, primeiro na admissão do paciente. A maioria dos pacientes com Covid-19 chegam com insuficiência respiratória, e quem o avalia e prescreve o melhor instrumento ou a melhor terapia é o fisioterapeuta", explica.
A partir daí, com a evolução do quadro do paciente, o especialista em fisioterapia respiratória começa a atuar nas diferentes fases do tratamento, orientando, por exemplo, a posição que o enfermo deve ficar no leito para otimizar o funcionamento dos pulmões.
"Só o fato de o paciente estar de barriga para cima, a forma que o pulmão troca o oxigênio é diferente de quando ele está sentado. Muitas vezes o colocamos de prona, ou seja, de barriga para baixo, para melhorar a troca gasosa do pulmão, onde é preciso o trabalho de toda a equipe do CTI: enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas. E quem vai avaliar a necessidade dessa mudança de posição também é o fisioterapeuta", relata.
O momento mais tenso da internação é quando o paciente precisa ser intubado para receber a respiração mecânica. Este processo exige muita habilidade do fisioterapeuta respiratório, como explica Bruno Brandão.
"Logo depois que o médico introduz o tubo na garganta do paciente, quem vai verificar se o tubo está na posição correta é o fisioterapeuta. Mas, antes disso, o fisioterapeuta monta todo o equipamento, o respirador mecânico e coloca todos os dados necessários do paciente. Assim que o médico introduz o tubo, o fisioterapeuta acopla o ventilador mecânico no tubo que está na boca do paciente. É um momento muito crítico tanto para a equipe quanto para o paciente, que está em franca insuficiência respiratória", detalha.
O trabalho segue com o monitoramento da respiração do paciente e do funcionamento da aparelhagem. E o processo de aprendizagem é contínuo para socorrer os que sofrem com o coronavírus.
"A gente teve que recorrer à literatura, se especializar, fazer cursos e aprender porque a pandemia pegou o mundo de surpresa. Corremos atrás para atender os pacientes de forma correta", diz Bruno.
Desvalorização.
O presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Minas Gerais (Crefito-4 MG), Dr. Anderson Coelho, avalia que todo esse trabalho faz com que esses profissionais sejam peças fundamentais nos hospitais no combate à pandemia, aumentando a demanda por eles. “Nós, da área da saúde, sempre soubemos das competências do fisioterapeuta, profissional com formação ampla e de primeiro contato, que atua em diferentes áreas. Mas a sociedade tomou conhecimento somente agora. A demanda por eles cresceu de forma absurda, mas, infelizmente, não percebemos a valorização acompanhar a procura”, diz.
O conselho tem 29 mil fisioterapeutas inscritos, mas não há dados sobre quantos desses são especializados em fisioterapia respiratória.
Piso salarial.
Um Projeto de Lei que prevê a criação de um salário base para fisioterapeutas em Minas Gerais foi apresentado na Assembleia Legislativa em 2019. De autoria do deuptado Professor Wendel Mesquita, o projeto não avançou desde então. O presidente do Crefito acredita que esse seria um passo crucial para a valorização desses profissionais.
"Entendemos que o momento pede compreensão, mas a classe tem que ser valorizada por seu trabalho brilhante e esforço sobre-humano em um dos períodos mais duros e tristes da história do país", disse o presidente do conselho, Dr. Anderson Coelho.
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