Com quase 4 mil mortos em 24 horas no país, a dor das famílias que perderam seus entes queridos ultrapassam o medo de “quebrar” durante a pandemia. E foi isso que o prefeito da cidade de Mongagua, no litoral de São Paulo, mostrou durante um discurso emocionante em live feita na tarde desta terça (30). Márcio Melo Gomes (Republicanos-SP) comoveu os internautas ao dizer que queria poder ouvir de seu pai e irmão, ambos comerciantes, que “quebraram” por conta da crise econômica. Mas isso não é mais possível, já que os dois morreram em decorrência da Covid-19.
“Meu pai era comerciante e meu irmão também. E como eu queria hoje sair dessa live aqui e poder ouvir do meu pai e do meu irmão ‘eu quebrei, o meu comercio quebrou’. Sabe porque? Porque nós já quebramos. E com a vida nós conseguimos dar a volta por cima. E eu não vou ouvir isso deles mais, se quebrou ou não quebrou, porque infelizmente por essa doença eles perderam a vida”, disse Márcio aos prantos.
O apelo comovente do prefeito veio como uma forma de alertar a parcela da população que ainda pede abertura do comércio por conta do medo de uma possível “quebra” de comércios e outros empreendimentos. “Jamais nos preocupamos em dizer ‘vamos quebrar essa pessoa porque a gente quer’. Márcio apelou em lágrimas que as pessoas cuidem do que é “mais precioso”, a vida. Segundo reportagem do G1, o irmão do prefeito faleceu por complicações da doença na madrugada do último domingo (28). Já o pai morreu na segunda-feira (22), também por Covid-19.
Se tiverem um minuto vejam este vídeo de @SamPancher. Impossível não se emocionar. Prefeito de Mongaguá tem uma mensagem importante. Ele consegue, digamos, explicar o que vem primeiro no duelo vida x lockdown no auge da pandemia. pic.twitter.com/H2onnMlq3k
— Lilian Tahan (@lilian_tahan) March 31, 2021
Os altos números de mortos pela Covid-19 acendem um alerta para todos os cidadãos sobre a gravidade da doença. A pandemia voltou a produzir recordes no Brasil, nesta terça-feira (30). Além de 3.668 mortes, valor recorde para um intervalo de 24 horas, o país também registrou, pelo 5º dia consecutivo, a maior média móvel de óbitos da pandemia, 2.728.
Os elevadíssimos números de mortes são acompanhados por também altos números de casos, 86.704, nesta terça. Com isso, o país chega a 317.936 óbitos e a 12.664.058 pessoas infectadas desde o início da pandemia. Nas terças, os dados costumam contar com mortes derivadas do represamento de informações que ocorre aos finais de semana, por atrasos de notificação das secretarias de saúde. Isso não torna, porém, a situação menos dramática. O recorde anterior, de 3.600 mortes, ocorreu na última sexta (26), por exemplo.
A média móvel de mortes também demonstra bem a crítica situação do país. O dado, uma ferramenta estatística que ajuda a suavizar variações, como as que ocorrem em finais de semana e feriados, completa 14 dias acima de 2.000 mortes por dia e 69 dias acima de 1.000. A média mais baixa do ano foi de 698 mortes, em 3 de janeiro, momento que ainda era afetado pelos atrasos de notificação referentes ao Ano-Novo. No dia 8, porém, o dado já saltou para 872 e em seguida chegou a 1.000, com alguns dias de oscilação em que o dado caía para a casa de 900 mortes por dia.
Duas pessoas morreram à espera de leitos de CTI (Centro de Terapia Intensiva) para Covid-19 nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) de Belo Horizonte. Na rede pública de saúde da capital mineira, 200 pessoas estão na fila por um leito de CTI.
Os números foram divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Sindibel (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte), que alerta para o colapso do sistema de saúde de BH e reivindica atitudes dos governos municipal, estadual e federal. O sindicato ainda denuncia que outras duas pessoas morreram por falta de respiradores nas unidades de saúde, mas a PBH nega (veja aqui).
“Hoje, não adianta mais ficar construindo mais leitos ou hospitais, porque existe o problema do limite da força de trabalho: para cada leito, é preciso uma equipe de profissionais da saúde para cuidar do paciente, e chegamos em um momento em que faltam profissionais. Cobramos seriedade dos governos, com medidas duras de isolamento social e com apoio assistencial financeiro, para evitar mais mortes”, defende o presidente do Sindibel, Israel Arimar de Moura, ao BHAZ.
Ainda de acordo com o sindicato, faltam equipamentos necessários para os atendimentos. “Já tivemos casos em que os profissionais de saúde não tiveram pontos de oxigênio, balas de oxigênio, bombas de infusão, monitores, medicamentos ou respiradores mecânicos para pacientes”, diz trecho de manifesto (leia na íntegra abaixo) divulgado pelo Sindibel ao prefeito Alexandre Kalil (PSD), à CMBH (Câmara Municipal de Belo Horizonte), à população da cidade e ao MPMG (Ministério Público de Minas Gerais).
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