Minas Gerais bateu a triste marca de 1.106 profissionais de saúde mortos vítimas da Covid-19. Tratam-se de médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e outros trabalhadores da área que enfrentavam a pandemia para salvar vidas, mas foram combatidos pelo vírus.
Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) revelam, ainda, que janeiro foi classificado o mês mais sombrio desde que a doença chegou ao território mineiro, quando 185 trabalhadores da saúde perderam a batalha para o novo coronavírus. Até então, julho ostentava o trágico recorde, com 169 óbitos registrados. Já os primeiros 15 dias de fevereiro somam 36 falecimentos em funcionários da categoria.
O boletim epidemiológico também mostra que 21.372 trabalhadores da saúde foram infectados pelo vírus, sendo quase 10% desse montante (2.086) em janeiro. No entanto, na primeira quinzena de fevereiro, após o início da vacinação entre os funcionários da saúde, a quantidade de contaminados caiu drasticamente: 338 no total.
O pediatra Marcos Evangelista de Abreu é um dos 1.106 profissionais que compõem essa triste estatística. Dedicou-se à medicina por mais de duas décadas e, no período, tendo atuado em diversos hospitais de Belo Horizonte e da região metropolitana. A trajetória de Marcão, como carinhosamente era conhecido pelos amigos, foi encerrada em 22 de janeiro.
Rodolfo Neiva de Souza, clínico-geral que trabalhava com o pediatra em duas unidades de saúde, lembrou com emoção o momento em que ficou sabendo da perda do amigo. "Soube do adoecimento do Marcão e mandei mensagem falando da admiração que tinha por ele. Mesmo sabendo que estava na UTI, e que não iria ler o texto, quis expressar meu sentimento. Pensei que fosse ver a mensagem quando se recuperasse, mas isso não ocorreu. Foi chocante quando fiquei sabendo do falecimento dele. Era querido por todos e um cara unânime", recordou.
Maior exposição
Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano explica que os altos números de mortes e casos estão relacionados à maior exposição dos trabalhadores ao vírus. "A letalidade é a mesma da população, mas os profissionais que estão na linha de frente têm mais chances de se contaminar, fazendo com que, proporcionalmente, sejam mais afetados", disse.
Além de integrante do Comitê de Combate à Covid-19 em Belo Horizonte, o médico atua nos hospitais Biocor, Vila da Serra, Júlia Kubitschek e Madre Teresa. Nos 11 meses da pandemia, viu colegas de profissão morrerem pela enfermidade. "É muito lamentável. Perdi vários amigos devido à doença. Cada dia é uma notícia triste. Mas é aquela atuação das pessoas em prol da vida, doando a própria vida para salvar outras", lembrou.
Para se evitar as perdas, o médico ressaltou, mais uma vez, a importância da imunização. "A vacinação começou pelos profissionais de saúde justamente porque são os mais afetados. Primeiro, tem de focar neste grupo. Mas é importante cada um se proteger quando chegar o momento", enfatizou.
Até então, conforme último levantamento da SES, 402.891 profissionais de saúde receberam a primeira dose da vacina e 131.164 foram imunizados com a segunda. Procurada pela reportagem, a pasta ainda não comentou sobre a quantidade de profissionais de saúde mortos no Estado.
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