A oito dias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, a aplicação das provas em meio à nova escalada da pandemia é alvo de polêmicas. Vários candidatos reivindicam o certame em maio, data escolhida por quase metade dos estudantes que participaram da enquete realizada pelo próprio Ministério da Educação (MEC) em junho do ano passado. Janeiro foi a preferência de 35% dos ouvidos.
Depois de o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) confirmar, na quinta-feira, os testes para o próximo fim de semana – a segunda etapa será no próximo dia 24 –, a Defensoria Pública da União (DPU) ingressou com ação nos tribunais na tentativa de barrar as provas. Em todo o país, exatas 5.687.271 pessoas se inscreveram nesta edição.
“Não há maneira segura para a realização de um exame com quase 6 milhões de estudantes neste momento, durante o novo pico de casos de Covid-19”, argumenta o órgão. A decisão pode ser anunciada a qualquer momento.
Se a aplicação for mantida, em Belo Horizonte o Enem vai ocorrer em meio à quarentena que começa a vigorar na próxima segunda-feira. “Deveria ser adiado em todo o Brasil, como deveriam ter sido adiadas as eleições. Determinadas coisas, temos que entender, têm a mesma lógica. Não faz sentido aceitar ter Enem ou eleições e não concordar com o funcionamento de um bar, por exemplo. Tudo que causa aglomeração deveria ser adiado”, afirma o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano.
A vereadora Duda Salabert, que encabeça um movimento virtual para o adiamento do exame, diz que, caso não haja uma mudança na data, também irá acionar a Justiça na semana que vem. Ela reforça que a capital está à beira de um colapso no sistema de saúde por conta do aumento dos casos de Covid-19. “Entendo que realizar (o exame) antes da vacina é uma atitude irresponsável do governo federal, um atentado à saúde pública por ocorrer aglomerações e desrespeito à voz estudantil, que escolheu na enquete do MEC a realização das provas em maio”.
Procurada, a PBH informou que a aplicação e a fiscalização das medidas sanitárias durante o Enem são responsabilidade do MEC. “À prefeitura caberá o fornecimento de transporte público para viabilizar o deslocamento dos estudantes”, frisou, em nota.
É justamente o trajeto uma preocupação para Markson Suarez, de 17 anos. O jovem mora com a avó, de 70, no Santa Inês, região Nordeste, e fará a prova no Calafate, na zona Oeste da capital. Para evitar contaminação em um dia que poderá aumentar a demanda no transporte coletivo, irá para a casa da mãe, que o levará ao local do teste.
“Deixar de fazer não posso, mas deveria ter sido adiado por respeito à ciência, à saúde e aos estudantes, que tinham escolhido fazer as provas em maio”, comentou.
Além disso
O Ministério da Educação (MEC) garante que irá manter as medidas de segurança para evitar o contágio pelo novo coronavírus durante a realização do Enem. Dentre as ações, número reduzido de estudantes por sala, para garantir o distanciamento entre os participantes, e a disponibilização de álcool em gel.
A máscara facial, de forma correta, será obrigatória em todo o tempo que o candidato permanecer nos locais de aplicação. Quem infringir a regra será desclassificado no certame.
Estudantes, porém, temem pela segurança. “Eles falam que haverá menos alunos por sala, mas como fizeram essa divisão? Aumentaram os locais de provas? Será que isso irá ocorrer mesmo?”, questiona Marco Aurélio da Silva, de 42 anos, que participará dos testes.
Outro ponto destacado por ele é o trajeto a ser percorrido até o local do exame. “Moro no Centro e farei o Enem no bairro Jaqueline (região Norte). Nas outras edições, eu fazia a 500 metros de casa. Não seria mais fácil, até mesmo para me expor menos, escolherem uma escola mais perto de onde moro? Vou de Uber para evitar contaminação”, contou.
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