Nos estádios, o vazio das arquibancadas. Mas nem mesmo o silêncio das multidões é capaz de evitar que absurdos aconteçam. A última barreira foi transposta, justamente por um profissional que deveria ser uma das representações máximas da lisura e igualdade. O instrumento apaziguador e mediador que dessa vez supostamente não o foi. Tudo aconteceu a partir dos 13 minutos do primeiro tempo de PSG e Instanbul Ba?ak?ehir, pela última rodada da fase de grupos da Champions League.
O lateral brasileiro Rafael, do time turco, foi advertido com o amarelo. No banco, membros da comissão técnica do Instanbul reclamaram da advertência aplicada, dentre eles o ex-jogador camaronês Pierre Webó. Em meio a confusão, o quarto árbitro do duelo, o romeno Sebastian Coltescu, chamou o juiz principal Ovidiu Hategan e pediu a expulsão de Webó. No contato com o companheiro de apito, Coltescu teria proferido a seguinte ofensa racista captada pela transmissão: "Aquele preto ali. Vá lá e verifique quem é. Aquele preto ali. Não dá para agir assim".
Na mesma hora, Webó se indignou com a declaração, cobrou explicações e acabou expulso de campo. Os jogadores do Ba?ak?ehir foram até o juiz principal e atentaram para a ofensa racista, seguidos também por Neymar e Mbappé, estrelas do PSG. Era bastante comum que em casos assim, o jogo fosse retomado sem maiores desdobramentos. Não dessa vez. Os jogadores deixaram o campo de jogo em uma decisão histórica para o futebol. A partida só será retomada, exatamente aos 13 minutos, hoje, às 14h55, no Parque dos Príncipes, em Paris.
O caso será investigado pela Uefa. Mas pode ser o marco que faltava para a luta antirracista no futebol. O sentimento de impunidade sempre era corroborado com a justificativa da sequência do jogo. Nunca existiu uma unidade no sentido de abandonar o campo. E as penalizações, sempre brandas, silenciavam a luta dos jogadores negros. O recado dado em Paris é de que atos assim não serão mais tolerados. O racismo é uma ferida escancarada na sociedade, em qualquer âmbito, das relações pessoais ao esporte.
Precisa ser combatido com a firmeza necessária. E mesmo que as instituições abrandem penas, os jogadores têm o dever de darem a resposta, como protagonistas do jogo que lhe cercam. Só assim, o espetáculo será respeitado e a igualdade será preservada. Não existe espaço para o racismo nas quatro linhas. E como o futebol sempre reflete a vida, acima de tudo, não existe espaço para o racismo em nenhum lugar.
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