Em 2 de dezembro de 1720 acontecia a criação da Capitania de Minas do Ouro, hoje conhecida como nossa querida Minas Gerais.
Nos seus 300 anos de história, Minas Gerais teve importante papel em relação à economia, sociedade e política. Entre os marcos, a participação na constituição do Estado Nacional e na implantação da República.
A data marca a conquista da autonomia administrativa de Minas, que até então integrava a Capitania de São Paulo. Também enseja discussão sobre os três séculos da História de Minas, a evolução política, econômica, social e cultural, as dificuldades ao pleno desenvolvimento, a contribuição de Minas à formação da nacionalidade brasileira. Como também seria momento para estudo e reflexão sobre as dificuldades por que passa o Estado, embora com rica história e um cobiçado subsolo mineral que gerou a ocupação pioneira do território interior do Brasil-Colônia nos anos finais do século XVII e lhe deu o nome. Do Ciclo do Ouro, que assinala o início da civilização mineira e nos legou excepcional acervo artístico e cultural, ao Ciclo do Minério de Ferro, hoje em discussão, Minas Gerais tem uma longa trajetória histórica que merece estudo e reflexão. A data convida ainda uma discussão sobre o futuro desejável e as grandes dificuldades por que passa no momento.
Assumar encontrou forte resistência dos habitantes quanto à cobrança do imposto. Em 1720, rebelam-se os moradores de Ribeirão do Carmo (Mariana) e Vila Rica (Ouro Preto), que chegaram a ameaçar Assumar. Refugiado em Vila Rica, o governador armou sua reação, enfrentando severa resistência. Um dos líderes, Felipe dos Santos, português mas habitante de Minas, minerador e comerciante, foi preso em Cachoeira do Campo e foi executado por ordem de Assumar, transformando-se no primeiro mártir mineiro, morto na luta por autonomia. As condições do assassinato de Felipe dos Santos, se mesmo em Cachoeira ou Vila Rica, ainda geram controvérsias. Assumar teria também incendiado as encostas da Serra de Ouro Preto, onde trabalhavam e residiam centenas de mineradores, e que passou à história como “Morro da Queimada”, até hoje assim citado.
Os acontecimentos de 1720 levaram o rei de Portugal, dom João V, por solicitação e indicação do conde de Assumar, a criar a Capitania das Minas, separando-a de São Paulo, o que ocorre por Alvará datado de 2 de dezembro, data oficial da nova capitania. Por esta época a Capitania já tinha numerosa população e vários núcleos urbanos, quase todos com ocorrências de rebeliões e conflitos, dos quais o mais famoso, e mais aguerrido, com muitas mortes e combates, foi a Guerra dos Emboabas, entre 1708 e 1709, entre paulistas, pioneiros na ocupação do território das minas, e portugueses e outros emigrantes que acorreram à região em busca do ouro. A “Guerra dos Emboadas”, nome com que passou à história, levou em 1709 à criação da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, separadas da Capitania do Rio.
O conde de Assumar mudou-se para Vila Rica onde instalou-se no Palácio Velho, de que hoje só restam alguns paredões em ruinas, em região que tem esse nome, próximo ao Bairro de Antônio Dias. O Palácio dos Governadores, hoje pertencente à Escola de Minas da UFOP, só foi construído a partir de 1747, na atual Praça Tiradentes. Vila Rica tornou-se então a capital da Capitania e o Palácio da Praça Tiradentes sediou os governos mineiros por todo o regime colonial, até a Independência de 1822, no período imperial até a República proclamada em 1889, e até 1897, quando a capital transferiu-se para Belo Horizonte. Em 1823, com a Independência, dom Pedro I deu a Vila Rica o nome de Imperial Cidade de Ouro Preto.
Atribui-se ao Conde de Assumar, que permaneceu em Vila Rica por apenas mais um ano, a publicação de um depoimento dominado “Discurso histórico e político sobre a sublevação que nas Minas houve no ano de 1720” (Coleção Mineiriana, Fundação João Pinheiro, 1994, edição crítica de Laura de Mello e Souza). Assumar procura explicar sua conduta, considerada excessiva, dizendo que se viu obrigado a “proceder sumariamente ao castigo”, como a execução de Felipe dos Santos e a prisão de outros sediosos, alguns ricos mineradores e proprietários na região. Diz Assumar que nas Minas “o clima é tumba da paz; berço da rebelião; a natureza anda inquieta consigo e amotinada por dentro; é como no inferno”. É documento de elevado valor histórico para a compreensão dos primórdios de Minas Gerais e a gestão colonial portuguesa nos seus primeiros anos e o esforço da Coroa por implantar as casas de fundição para cobrar o quinto do ouro, enfrentado sucessivas sublevações em várias vilas.
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