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Arroz e óleo mais caros: entenda por que a inflação dos alimentos disparou no país

Dólar alto tem incentivado as exportações, diminuindo a oferta interna, enquanto auxílio emergencial estimula consumo, afirmam especialistas. Expectativa é de que os preços permaneçam altos até o fim do ano.

09/09/2020 às 11h32 Atualizada em 09/09/2020 às 11h50
Por: Redação Fonte: G1
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O preço dos alimentos foi destaque para a alta de 0,24% inflação oficial do país em agosto, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (9).

O Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA) subiu 2,44% em 12 meses enquanto a inflação dos alimentos subiu 8,83% no período.

Esta alta não tem apenas um alimento responsável, pois a maioria deles está com preços recordes no campo. Porém, dois chamaram a atenção nos últimos dias: o arroz, com valorização de 19,2% no ano, e o óleo de soja, que subiu 18,6% no período (leia mais abaixo).

E para quem espera preços menores nos próximos meses, a expectativa dos especialistas não é otimista. Como estamos na entressafra, é difícil que os valores caiam tanto até o início de 2021, pelo menos (entenda no final do texto).

De acordo com economistas ouvidos pelo G1, dois fatores explicam a alta dos alimentos:

  • Dólar alto: que incentiva os produtores a aumentarem as exportações, reduzindo, assim, a oferta de produtos no mercado interno;
  • Auxílio emergencial: benefício do governo federal estimulou o aumento do consumo. Este recurso foi direcionado, em grande parte, para a população mais pobre do país, que tem uma cesta de compras formada, em sua maioria, por produtos básicos, como alimentos.

Com dólar muito valorizado em relação ao real, a venda ao exterior se torna uma forte concorrente da indústria brasileira pela compra de produtos do campo. Ao mesmo tempo, deixa o custo de produção da agropecuária mais alto, já que boa parte dos insumos são cotados na moeda americana.

Enquanto as exportações totais do Brasil caíram 6,8% nos últimos 12 meses até julho, o agronegócio vendeu 3,8% mais, segundo o Ministério da Agricultura. A participação do setor na balança comercial do período subiu de 42,3% para 47,1%. A China responde por mais de 30% das compras.

Com isso, na prática, para que as empresas brasileiras consigam manter os alimentos aqui, é necessário pagar mais, e este valor acaba sendo revertido ao consumidor.

Além disso, com uma boa quantidade de produtos sendo vendida a outros países, a oferta interna de mercadorias diminuiu, incentivando a elevação de preços.

Na outra ponta, a renda gerada pelo auxílio emergencial de R$ 600 nos últimos meses permitiu que o repasse dos preços nas gôndolas dos supermercados fosse feito.

 

“Se não houvesse recurso, não haveria demanda que sustentasse o aumento de preços. De onde vem essa renda? De uma política fiscal expansionista, ou seja, do auxílio emergencial”, explica o economista Felippe Serigati.

 

“Estima-se que houve mais de 60 milhões de beneficiários, em uma sociedade de 210 milhões de pessoas, é expressivo. Essa transferência de renda conseguiu garantir que os domicílios tivessem recursos para adquirir esses alimentos”, acrescenta.

Mesmo assim, a alta está chegando a um nível preocupante, tanto que a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) disse, na última semana, que procurou o governo federal para “buscar soluções” sobre os reajustes dos alimentos.

Supermercado em Natal, no Rio Grande do Norte — Foto: Pedro Vitorino  Supermercado em Natal, no Rio Grande do Norte — Foto: Pedro Vitorino

“O setor supermercadista tem sofrido forte pressão de aumento nos preços de forma generalizada repassados pelas indústrias e fornecedores. Itens como arroz, feijão, leite, carne e óleo de soja com aumentos significativos”, afirma a Abras.

Ciente do problema, o governo brasileiro monitora a situação e garante que não haverá desabastecimento no país.

O presidente Jair Bolsonaro pediu aos comerciantes para que as margens de lucro de produtos como o arroz fiquem "próximas de zero". O presidente acrescentou que não pretende tabelar preços.

“Tenho apelado para eles, ninguém vai usar a caneta Bic para tabelar nada, não existe tabelamento, mas pedindo para eles que o lucro desses produtos essenciais nos supermercados seja próximo de zero. Acredito que a nova safra começa a ser colhida em dezembro, janeiro, de arroz em especial, a tendência é normalizar o preço”, disse Bolsonaro.

Os 'vilões'

 

Não existe apenas um responsável pela alta expressiva dos alimentos neste ano. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea), diversos produtos registram preços recordes no campo.

O prato feito do brasileiro, com arroz, feijão e carnes, está mais caro desde o início do ano.

“O arroz acumula alta de 19,25% no ano e o feijão, dependendo do tipo e da região, já tem inflação acima dos 30%. O feijão preto, muito consumido no Rio de Janeiro, acumula alta de 28,92% no ano e o feijão carioca, de 12,12%”, destaca Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE.

Porém, dois alimentos da cesta básica estão chamando a atenção dos consumidores da cidade nas últimas semanas:

  • Arroz;
  • Óleo de soja.

 

A preocupação maior é em relação ao primeiro item. Nessa terça-feira (8), a ministra da Agricultura, Tereza Cristinaafirmou que não vai faltar arroz no mercado.

"O arroz não vai faltar. Agora ele está alto, mas nós vamos fazer ele baixar, se Deus quiser vamos ter uma supersafra no ano que vem", declarou Tereza.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) afirma que o produtor rural não é o responsável pelo aumento nos supermercados e que a alta se refere à recuperação de preços desses alimentos no mercado agropecuário.

"Esses aumentos têm sido acompanhados pela alta no custo de produção, o que demonstra que o produtor não está tirando vantagem sobre os outros elos da cadeia", diz o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi.

Arroz 'salgado'

 

A pandemia e as exportações fizeram com que o preço arroz subisse muito nos últimos tempos. O primeiro movimento de grande procura ocorreu no início do período de isolamento social, quando a busca nos supermercados por alimentos básicos para serem estocados disparou.

Com isso, a indústria viu a necessidade de ir às compras, e os agricultores seguraram a venda do produto, enxergando aí uma oportunidade de valorizar o alimento, que vinha perdendo valor nos últimos anos.

De acordo com o Cepea, o preço pago no campo pelo arroz subiu 63% em agosto deste ano na comparação com o ano passado, um recorde. O IBGE afirma que o preço do alimento ao consumidor já subiu 19,2% no ano.

Se os brasileiros queriam estocar alimentos, houve um movimento semelhante no exterior. E as exportações de arroz em agosto cresceram 98% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

"O Brasil foi o único grande produtor agropecuário que conseguiu abastecer o mundo sem problemas durante a pandemia. Diversos grandes players não conseguiram abastecer o mercado internacional, o Brasil sim", explica Serigati.

Com isso, o preço do arroz ao consumidor, medido pelo Índice de Preço ao Atacado (IPA) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), já subiu 22,8% nos 12 meses encerrados em agosto.

Somente no mês passado, o avanço do valor arroz foi de 11,54% no atacado, enquanto nas gôndolas dos supermercados, o aumento foi de 3,35%.

 

“Essa diferença significa que ainda existe espaço para que o preço do arroz suba mais nos próximos meses”, diz André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre).

 

Em São Paulo, um saco de 5 kg de arroz está custando mais de R$ 30, sendo que o preço costumava girar em torno dos R$ 15.

Esse aumento recente fez a associação que representa as indústrias do setor (Abiarroz) reclamar, no fim de agosto, da dificuldade de compra do alimento, alegando que ele está concentrado na mão de poucos produtores.

“Nos últimos 25 dias, observou-se uma alta de mais de 30% no custo da matéria-prima, além do reajuste já ocorrido em decorrência do aumento da demanda no início da pandemia. Os preços praticados ultrapassaram em 290% o valor do preço mínimo estabelecido pelo governo federal”, diz a Abiarroz, em nota.

Outro fator que ajuda neste movimento de alta é a recorrente diminuição da área plantada de arroz no país. Da safra 2011/2012 até a safra 2019/2020, houve uma queda de mais de 30%.

Depois de anos de retração, o bom cenário de preços deve fazer com que a área plantada cresça 12,1% na próxima safra, que deverá ser colhida no começo de 2021, alcançando uma produção 7,2% maior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A Conab estima que o Brasil deverá comprar 1,1 milhão de toneladas de arroz do exterior nesta safra, isso representa cerca de 10% do que o país consome (10,8 milhões de toneladas). As importações do alimento cresceram 28,4% em agosto deste ano na comparação com 2019.

No fim de agosto, o governo cogitou zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) de 12% sobre a importação de arroz de países fora do Mercosul. A ideia era tentar diminuir os preços praticados no país.

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