Medidas de isolamento e distanciamento social mudaram também as dinâmicas de consumo no país, que viu crescer vertiginosamente o setor de vendas on-line. Números da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) mostram que, desde o início da pandemia, 107 mil lojas aderiram à venda on-line de seus produtos, o que fez o número desse tipo de negócio quase dobrar no período, passando de 135 mil lojas ativas para 242 mil. Antes da pandemia, a média de crescimento era de 10 mil novas lojas por mês.
Os setores que mais elevaram sua presença no comércio digital são os de Moda, Alimentos e Serviços. O e-commerce como um todo registrou mais de 50% de crescimento entre março e maio, após o início da pandemia. A projeção de ganhos para o Dia dos Namorados, por exemplo, era de R$ 2,9 bilhões entre 25 de maio e 12 de junho, que representa um aumento de 18% em relação ao mesmo período de 2019. Embora ainda não tenham fechado os números, a ABComm assegura que o aumento vai continuar na casa dos dois dígitos.
Outros setores que se destacaram na pandemia, segundo Maurício Salvador, presidente da ABComm, foram os de Esporte e Lazer e Brinquedos e Games, o que, de acordo com ele, aconteceu "pela necessidade de as pessoas em casa realizarem atividades físicas e adquirirem brinquedos para as crianças também em casa que estão sem aula", detalha.
O cenário da pandemia adiantou os planos de Rafaela Alcântara, de 39 anos, que pretendia montar a loja on-line só daqui dois anos. Dona de uma loja de moda íntima há 10 anos, a empresária se viu obrigada a buscar formas de não perder tanto faturamento enquanto o ponto físico não puder voltar, e acabou surpreendida com os resultados. "Intensificamos nosso trabalho nas redes sociais e contamos com clientes antigos que migraram suas compras para o on-line. Esse modelo acabou superando minhas expectativas e com certeza vou continuar com as duas lojas [física e virtual] quando tudo voltar ao normal", explica.
Sócia de uma loja de lingeries que já trabalhava on-line, Débora Matias Marzano, de 33 anos, viu as vendas serem alavancadas com o processo de isolamento social. Nos primeiros meses, ela conta que os clientes estavam mais tímidos e não compravam tanto, mas os meses de maio e junho foram altamente positivos para a comerciante. "No mês de junho, sempre temos uma coleção de Dia dos Namorados, e neste ano fizemos um pedido com base no que vendemos em 2019, mas percebemos na última semana um aumento de pedidos que acabou com nosso estoque, foi um crescimento de cerca de 50% em comparação ao ano passado", comemora.
Entre os consumidores, Salvador afirma que mais de 2 milhões de novos compradores de comércios on-line foram registrados no período. Uma pesquisa do Facebook também aponta esse novo hábito, mostrando que 30% dos entrevistados pela plataforma passaram a comprar mais on-line. "É claro que com a abertura, o número não será tão volumoso, mas os números devem continuar positivos mesmo após esse período", compreende Salvador.
O presidente da associação acredita que o legado do comércio digital mesmo após a pandemia vai ser positivo e o setor deve manter sua força. "Dessas novas, uma boa parte vai continuar no digital, mesmo passada a pandemia, e isso cria mais concorrência e gera a necessidade das empresas se qualificarem mais", opina.
Redes sociais aliadas do empreendedor
Débora Marzano acredita que o fato de as pessoas estarem mais em casa, mais conectadas às redes sociais, por onde ela divulga o trabalho da loja, está ajudando a potencializar as vendas. E esse tem sido um canal amplamente utilizado pelas empresas durante a pandemia. Uma pesquisa do Sebrae apontou que 29% dos pequenos empresários passaram a vender pelas redes sociais.
Com experiência de mais de uma década com lojas de roupas, a comerciante Tânia Leopoldino Gonçalves, de 54 anos, teve que se adaptar para não perder a renda após a determinação de fechamento da loja física, localizada na Feira Shop da rua São Paulo, no Centro de Belo Horizonte. Ela, assim como Débora, apostou nas redes sociais para manter o movimento. "O que era meu suporte, agora virou meu ganha pão", conta, se referindo às vendas por WhatsApp e Instagram.
Segundo dados do Facebook, que é o dono tanto do Instagram quanto do WhatsApp, a digitalização do consumo foi acelerada pela pandemia, com 46% dos consumidores substituindo a compra física pela on-line até para itens vendidos em locais que continuam funcionando, como supermercados. Sobre o uso das redes sociais, o levantamento mostrou que 42% buscam informações sobre produtos e serviços.
Esse cenário também se mostra positivo para pequenas empresas. A pesquisa do Facebook também apontou que 68% dos entrevistados disseram que vão dar preferência às empresas pequenas ou da vizinhança para as compras, e 59% vão dar preferência para empresas que tiveram uma atuação social durante a crise, enquanto 55% vão ficar mais atentos à atuação social das marcas. O levantamento foi realizado durante o mês de março com 1.500 brasileiros entrevistados, com idade média de 38 anos.
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