O número de matrículas nas turmas do ensino médio nas escolas públicas de Minas Gerais caiu em 2019 e registrou o pior desempenho entre todas as etapas do ensino básico, na comparação com o ano passado. No momento em que se esperava um movimento contrário, segundo especialistas, as inscrições para ingresso no nível médio no Estado tiveram queda de 10,2%, taxa bem acima da média nacional, que registrou baixa de 4,3%, conforme dados do Censo da Educação Básica de 2019, divulgados nesta segunda-feira (30) pelo Ministério da Educação (MEC), por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O relatório, que reúne dados da educação básica nas escolas estaduais e municipais de todo o país, revela ainda que a queda nas matrículas em Minas se repete no ensino fundamental – etapa que vai do primeiro ao nono ano –, na pré-escola e na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Um dos fatores que puxaram os índices para baixo foi a redução das matrículas para aulas em tempo integral. Nos anos iniciais do fundamental, por exemplo, as inscrições nessa modalidade caíram de 146.288 para 92.657.
Para o professor e especialista em educação Eduardo Calbucci, o problema do ensino médio está na dificuldade de acesso e de permanência dos jovens na escola, na baixa qualidade da educação e na falta de identidade e objetivos claros para a escolarização. “O ensino tem que ser atrativo para o aluno, que muitas vezes precisa contribuir para o sustento da família. O ensino técnico é um dos caminhos que auxiliariam na qualificação do aluno, mas ficou muito tempo esquecido e deixado em segundo plano”, avalia Calbucci.
Sobre o EJA, que teve queda de 25,6% nas matrículas, o especialista comenta que a crise econômica pode ter contribuído para a redução. “Com tudo o que aconteceu no país, a crise, essa pessoa que, possivelmente, está desempregada não vê o estudo como uma qualificação que vai trazer benefício”, diz.
Jovem deixou sala de aula para trabalhar
Num contexto em que 60% dos alunos precisam trabalhar para sobreviver e no qual faltam quadras para a educação física, a reportagem de O TEMPO visitou, em setembro deste ano, a escola Professor João Alves Figueiras Campos, em Pedra do Indaiá, no Centro-Oeste do Estado. A unidade estava em um seleto grupo de apenas 2% das instituições de ensino brasileiras com resultados satisfatórios.
Aluno daquela escola, no último ano do ensino médio, Vitor Soares, 18, era o único entre os cinco irmãos prestes a concluir os estudos. Mas, poucos meses após ter conversado com a reportagem, faltando dois meses para a formatura, ele abandonou a escola. “Queria fazer faculdade. É triste abandonar, porque era o sonho dos meus pais, mas precisei ganhar mais dinheiro, não deu”, conta o jovem.
Outro lado
Esforços. A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) informou que, desde o início da atual gestão, foram criados mecanismos para evitar a evasão e o abandono escolar no Estado. Segundo a pasta, cerca de 15 mil estudantes que estavam quase deixando de frequentar a escola voltaram às salas de aula em 2019.
Iniciativas. A pasta afirmou que, no próximo ano, vai priorizar os programas que visem à inserção e ao controle de frequência dos alunos da rede estadual.
Fundeb. O total de matrículas é importante para a distribuição de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e para a execução de programas da educação.
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