O taxista Darley Nunes, 59, pressente que, neste ano, vence a Mega da Virada e ganha pelo menos parte dos R$ 300 milhões que serão sorteados nesta terça-feira (31) – é a maior estimativa inicial já registrada para o prêmio, que pode superar o valor.
Nunes aposta na loteria desde o início da Mega-Sena, nos anos 90, e nunca levou prêmios milionários, mesmo com um gasto mensal de cerca de R$ 160 na loteria. Ainda assim, persevera: “A esperança de ganhar é muito alta. Você pode perder ou ganhar no jogo. Então, por que não arriscar?”. Para a psicologia, está aí um dos motivos da insistência em apostar em um jogo com uma chance em 50 milhões de vencer. “Existe uma fantasia. É um pensamento mágico infantil de que se poderia resolver tudo de uma vez só e, de que, a partir do momento em que tenho alguma chance de sorte grande, o dinheiro vai resolver tudo”, diz a psicóloga Sônia Eustáquia.
Segundo o psicólogo Mark Griffiths, diretor da Unidade Internacional de Pesquisa sobre Apostas, na Inglaterra, há mais fatores por trás dessa esperança. “As pessoas tendem a ser superotimistas sobre consequências positivas e subestimar as negativas”, exemplifica, em um estudo. Por isso, é mais provável alguém acreditar que vai ganhar na Mega da Virada do que vai ser atingido por um raio (chance 50 vezes superior, de acordo com números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Para o pesquisador, o otimismo também aparece quando os perdedores pensam na derrota como “quase uma vitória” – aquela sensação de que “foi por pouco”.
Matemática
Dadas as chances mínimas de se ganhar, o matemático Gilcione Costa, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que “a loteria é uma forma eficiente de jogar dinheiro fora”. “Uma pessoa que joga todos os dias em todos os anos da vida dela, dos 15 aos 65 anos, sempre com apostas simples, pode ganhar uma, duas, três vezes, mas a chance de ela nunca ganhar na Mega-Sena é de 99,99%. Mas é muito provável que ela acerte a quadra, o que a mantém jogando pelo resto da vida”, continua.
Quem escolhe sempre os mesmos números arrisca entrar no que Griffiths chama de “aprisionamento”. É a ideia de que, uma hora ou outra, o prêmio inevitavelmente vai sair para aqueles números, então seria melhor não deixar de jogar. É o caso do estudante Pedro Gomes, 18, que sempre joga os números que encontrou em um papel de biscoito da sorte chinês. Ele fez quatro apostas para a Mega da Virada e está confiante: “O ano de 2019 foi tão ruim que 2020 pode começar com uma notícia melhor ”. É mais um dos princípios psicológicos por trás das apostas, segundo Sônia Eustáquia: “O sofrimento e a recessão que nos acometeram nos últimos anos nos fazem pensar que temos de ser recompensados”.
Sorte grande?
Ganhar na Mega-Sena, porém, não é sinônimo de felicidade. É o que mostra um estudo norte-americano da década de 70, que avaliou a percepção de felicidade de 22 pessoas que ganharam na loteria, 22 pessoas quaisquer e outras 29 que haviam ficado paralíticas depois de acidentes. Passado o choque inicial, o nível de satisfação das pessoas com a vida cotidiana se estabilizou. Mas o simples ato de comprar um bilhete de loteria pode dar um ânimo temporário: “Você compra uma reafirmação da esperança, é um pequeno antidepressivo passageiro”, diz Sônia Eustáquia.
Grupo de bolões no WhatsApp tem software estatístico
Com a ceia de Natal e as viagens de Ano Novo, chegam também os bolões para a Mega da Virada. No caso do grupo organizado pelo servidor público José Roberto Basílio de Souza, 54, o valor investido deve atingir R$ 13 mil – até o fechamento desta edição, já eram 243 participantes apostando, juntos, R$ 10 mil.
A diferença de bolões tradicionais é que grande parte dos participantes do grupo de José Roberto não se conhecem fora dos grupos de WhatsApp em que se organizam.
“Para entrar no bolão, basta mandar o depósito e o nome completo. O mínimo é de R$ 15 e, na Mega da Virada, R$ 25. Tem gente que deposita R$ 500 e vai jogando aos pouquinhos”, diz.
Batizados de Milionários da Mega-Sena, já são três grupos de WhatsApp, com cerca de 500 integrantes, de acordo com ele.
Com formação técnica de programador, José Roberto desenvolveu um software de estatística que calcula a probabilidade de determinadas sequências serem sorteadas – outros programas do tipo abundam pela internet.
Foi assim, conta José Roberto, que o grupo já conquistou prêmios “um tanto altos”, como uma quina de R$ 38 mil no início da iniciativa. “Não me considero sortudo. Se fosse, já teria ganhado (um prêmio principal). Mas sou extremamente técnico”, define-se.
Que número jogar
Probabilidade
O matemático Gilcione Costa explica que todas as sequências têm a mesma chance de vencer na loteria – inclusive as mais improváveis, que parece como “1, 2, 3, 4, 5, 6”. “Não há nada que justifique apostar em um ou outro número”, resume.
Dica
Ele lembra, porém, que, estatisticamente, ao longo do tempo, os números que menos apareceram tendem a surgir. É um dos princípios para softwares que calculam probabilidades do jogo. Ainda assim, não há garantias.
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