Dentro dos times, nas arquibancadas, no jornalismo esportivo, não é novidade que o futebol é um espaço majoritariamente ocupado por homens heterossexuais. A “Marias de Minas”, primeira torcida LGBT do Cruzeiro, foi criada para dar visibilidade a uma população que, além de ser marginalizada na sociedade, também sofre com isso no futebol.
A nova ala da torcida criou, no domingo (17), uma conta no Instagram e postou um manifesto na postagem inicial. “O amor pelo Cruzeiro nos uniu e a nossa luta por espaço, respeito e inclusão nos mantém conectados e fortes. A ideia de uma torcida LGBTQI+ não é segregar, mas sim trazer visibilidade a um meio que nos excluiu primeiro”, diz um trecho do texto. Yuri Souza, cruzeirense apaixonado, é o idealizador do projeto e fundador da torcida.
“Tive a iniciativa no começo do ano, mas não teve muita aderência, muito movimento. Depois de casos que deram mais visibilidade ao problema da homofobia no futebol, mais pessoas se engajaram e entraram em contato com o projeto. Hoje, somos aproximadamente 90 pessoas. Uma delas até se ofereceu para cuidar das nossas redes sociais”, contou Yuri ao BHAZ.
A ideia do nome “Marias de Minas” é ressignificar o apelido homofóbico e machista que a torcida do Cruzeiro recebeu do rival. Para Yuri, usar o termo é se apropriar de um nome feminino de poder e resistência, e mostrar que ser “Maria” não é motivo de vergonha.
O objetivo da torcida não é agir como uma organizada. Acima de tudo, eles querem ter um espaço livre para torcer, falar sobre futebol, discutir ações que podem ser feitas e compartilhar histórias. “Não pretendemos ir ao estádio como Marias de Minas. Cada um vai como torcedor, não vamos fazer camisa ou bandeira. O que queremos o é democratizar o espaço do LGBT no futebol”, explicou o torcedor.
O grupo inclui torcedores de Belo Horizonte, do interior de Minas Gerais e até de fora do Brasil. A torcida também está em contato com representantes de grupos LGBT de outros times brasileiros. Em um grupo, além de Yuri, um torcedor do Bahia e um do Palmeiras trocam informações e conversam sobre uma maior mobilização ao redor do país.
Por não se tratar de uma torcida organizada, a Maria de Minas não procura obter o reconhecimento do Cruzeiro para se oficializar e continuar se mobilizando. “Hoje, com tanta confusão e polêmica, o Cruzeiro vem se mostrado um clube que não se preocupa com a torcida. A única coisa que queremos é que o time saiba que, dentro da torcida, existe esse público, e que vamos continuar aqui”, contou Yuri.
Com a mobilização e a maior divulgação nas redes sociais, a torcida pretende visibilizar o espaço da população LGBT no futebol. “No grupo, temos muitas pessoas que não são assumidas e encontraram um lugar em que se sentem confortáveis. Queremos que todos tenham um espaço para torcer de maneira livre e que ninguém se sinta sozinho”, declarou o torcedor cruzeirense.
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