"Venha, o amor tem sempre a porta aberta / E vem chegando a primavera / Nosso futuro recomeça / Venha, que o que vem é perfeição."
No último domingo (3), um verso da canção "Perfeição", da banda Legião Urbana, circulou por todo o Brasil. Ele estava na capa de algumas das mais de 5 milhões de provas de estudantes que compareceram ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019.
A letra é uma composição de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Augusto Bonfa. Outro dos cadernos de prova teve estampado na capa um verso da canção A Via Láctea, da banda (leia as letras das canções mais para baixo)
"Quando tudo está perdido / Sempre existe um caminho / Quando tudo está perdido / Sempre existe uma luz." A canção Há Tempos, da banda brasiliense foi capa da prova azul. Os versos destacados foram "Disciplina é liberdade / Compaixão é fortaleza."
No caderno amarelo, o verso "Teremos coisas bonitas para contar", da canção Metal Contra as Nuvens estampou o início da prova para os candidatos.
Todos os anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem, escolhe uma personalidade ou um tema para essas frases, que deverão ser transcritas por estudantes no cartão-resposta (o gabarito), que será enviado para a correção. Um etapa a mais para burlar fraudes.
O primeiro dia do Enem 2019 apresentou questões que abordavam temas ligados aos direitos das mulheres e minorias, além de questões raciais como refugiados e escravidão. Itens que tratavam de discursos de ódio também apareceram nas provas de linguagens e ciências humanas.
Perfeição
Vamos celebrar a estupidez humana / A estupidez de todas as nações / O meu país e sua corja de assassinos / Covardes, estupradores e ladrões / Vamos celebrar a estupidez do povo / Nossa polícia e televisão / Vamos celebrar nosso governo / E nosso Estado, que não é nação / Celebrar a juventude sem escola / As crianças mortas / Celebrar nossa desunião / Vamos celebrar Eros e Thanatos / Persephone e Hades / Vamos celebrar nossa tristeza / Vamos celebrar nossa vaidade / Vamos comemorar como idiotas / A cada fevereiro e feriado / Todos os mortos nas estradas / Os mortos por falta de hospitais / Vamos celebrar nossa justiça / A ganância e a difamação / Vamos celebrar os preconceitos / O voto dos analfabetos / Comemorar a água podre / E todos os impostos / Queimadas, mentiras e sequestros / Nosso castelo de cartas marcadas /O trabalho escravo / Nosso pequeno universo / Toda hipocrisia e toda afetação / Todo roubo e toda a indiferença / Vamos celebrar epidemias / É a festa da torcida campeã / Vamos celebrar a fome / Não ter a quem ouvir / Não se ter a quem amar / Vamos alimentar o que é maldade / Vamos machucar um coração / Vamos celebrar nossa bandeira / Nosso passado de absurdos gloriosos / Tudo o que é gratuito e feio / Tudo que é normal / Vamos cantar juntos o Hino Nacional / A lágrima é verdadeira / Vamos celebrar nossa saudade / E comemorar a nossa solidão / Vamos festejar a inveja / A intolerância e a incompreensão / Vamos festejar a violência / E esquecer a nossa gente / Que trabalhou honestamente a vida inteira / E agora não tem mais direito a nada / Vamos celebrar a aberração / De toda a nossa falta de bom senso / Nosso descaso por educação / Vamos celebrar o horror / De tudo isso com festa, velório e caixão / Está tudo morto e enterrado agora / Já que também podemos celebrar / A estupidez de quem cantou esta canção / Venha, meu coração está com pressa / Quando a esperança está dispersa / Só a verdade me liberta /Chega de maldade e ilusão / Venha, o amor tem sempre a porta aberta / E vem chegando a primavera / Nosso futuro recomeça / Venha, que o que vem é perfeição
A Via Láctea
Quando tudo está perdido / Sempre existe um caminho / Quando tudo está perdido / Sempre existe uma luz / Mas não me diga isso / Hoje a tristeza não é passageira / Hoje fiquei com febre a tarde inteira / E quando chegar a noite / Cada estrela parecerá uma lágrima / Queria ser como os outros / E rir das desgraças da vida / Ou fingir estar sempre bem / Ver a leveza das coisas com humor / Mas não me diga isso / E só hoje e isso passa / Só me deixe aqui quieto / Isso passa / Amanha é um outro dia não é / Eu nem sei porque me sinto assim / Vem de repente um anjo triste perto de mim / E essa febre que não passa / E meu sorriso sem graça / Não me dê atenção / Mas obrigado por pensar em mim / Quando tudo está perdido / Sempre existe uma luz / Quando tudo está perdido / Sempre existe um caminho / Quando tudo está perdido / Eu me sinto tão sozinho / Quando tudo está perdido / Não quero mais ser quem eu sou / Mas não me diga isso / Não me dê atenção / E obrigado por pensar em mim / Não me diga isso / Não me de atenção / E obrigado por pensar em mim
Há Tempos
Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade / Muitos temores nascem do cansaço e da solidão / Descompasso, desperdício / Herdeiros são agora da virtude que perdemos / Há tempos tive um sonho / Não me lembro, não me lembro / Tua tristeza é tão exata / E hoje o dia é tão bonito / Já estamos acostumados / A não termos mais nem isso / Os sonhos vêm e os sonhos vão / E o resto é imperfeito / Disseste que se tua voz / Tivesse força igual / À imensa dor que sentes / Teu grito acordaria / Não só a tua casa / Mas a vizinhança inteira / E há tempos nem os santos / Têm ao certo a medida da maldade / E há tempos são os jovens que adoecem / E há tempos o encanto está ausente / E há ferrugem nos sorrisos / Só o acaso estende os braços / A quem procura abrigo e proteção / Meu amor! / Disciplina é liberdade / Compaixão é fortaleza / Ter bondade é ter coragem / Lá em casa tem um poço / Mas a água é muito limpa
Metal Contra As Nuvens
Não sou escravo de ninguém / Ninguém, senhor do meu domínio! / Sei o que devo defender / E por valor eu tenho / E temo o que agora se desfaz / Viajamos sete léguas / Por entre abismos e florestas / Por Deus nunca me vi tão só / É a própria fé o que destrói / Estes são dias desleais / Eu sou meta/ Raio, relâmpago e trovão / Eu sou metal / Eu sou o ouro em seu brasão / Eu sou metal / Quem sabe o sopro do dragão / Reconheço meu pesar / Quando tudo é traição / O que venho encontrar / É a virtude em outras mãos / Minha terra é a terra que é minha / E sempre será / Minha terra / Tem a lua, tem estrelas / E sempre terá / Quase acreditei na tua promessa / E o que vejo é fome e destruição / Perdi a minha sela e a minha espada / Perdi o meu castelo e minha princesa / Quase acreditei, quase acreditei / E, por honra, se existir verdade / Existem os tolos e existe o ladrão / E há quem se alimente do que é roubo / Mas vou guardar o meu tesouro / Caso você esteja mentindo / Olha o sopro do dragão / É a verdade o que assombra / O descaso que condena / A estupidez o que destrói / Eu vejo tudo que se foi / E o que não existe mais / Tenho os sentidos já dormentes / O corpo quer, a alma entende / Esta é a terra-de-ninguém / Sei que devo resistir / Eu quero a espada em minhas mãos / Eu sou metal: raio, relâmpago e trovão / Eu sou metal: eu sou o ouro em seu brasão / Eu sou metal: quem sabe o sopro do dragão / Não me entrego sem lutar / Tenho ainda coração / Não aprendi a me render / Que caia o inimigo então / Tudo passa / Tudo passará / E nossa história / Não estará / Pelo avesso assim / Sem final feliz / Teremos coisas bonitas pra contar / E até lá / Vamos viver / Temos muito ainda por fazer / Não olhe pra trás / Apenas começamos / O mundo começa agora, ah! / Apenas começamos.
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