Uma prova de história aplicada aos alunos do nono ano do ensino fundamental da Escola Municipal Sócrates Mariani Bittencourt, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, incomodou pais de alunos por trazer charges e trechos de reportagens a respeito de posições polêmicas do presidente da República, Jair Bolsonaro.
A reclamação chegou ao deputado Estadual Bruno Engler (PSL), que encaminhou um ofício ao diretor da unidade pedindo que a conduta da professora que aplicou o teste seja apurada e que medidas cabíveis sejam tomadas.
A denúncia acontece dias após ser aprovado, em primeiro turno na Câmara Municipal de Belo Horizonte, o projeto Escola Sem Partido, que prevê a proibição de que professores emitam opinião sobre política e religião no ambiente escolar. Recentemente, uma prova foi anulada no Colégio Loyola, na capital, por trazer um artigo com críticas a Bolsonaro.
No caso denunciado pelo parlamentar, a docente Adriene Gomes apresenta aplicou uma prova em março com duas charges e uma matéria do jornal “O Globo”, publicada em 7 de julho do ano passado, quando Jair Bolsonaro era candidato à presidência da República. O texto traz falas dele sobre a ditadura militar, o Estatuto do Desarmamento e a privatização dos setores de energia e petróleo. A educadora propõe que os alunos produzam um texto dissertativo que relacione o conceito de “pós-verdade” com a negação do golpe de 1964.
De acordo com Adriene, um dos alunos escreveu uma receita de bolo de chocolate no espaço dedicado à resposta e os país dele foram chamados para conversar no colégio. “Trabalhei dois temas atuais, o conceito de fake news e pós-verdade. A prova não foi diferente de outras que trabalhei na escola”, afirmou Adriene, em um vídeo publicado nas redes sociais.
O deputado Bruno Engler disse que diversos país o procuraram para denunciar a conduta da professora. “Eles estavam consternados que a professora não estava usando a prova para ensinar, mas para doutrinar. Os conteúdos não atacavam somente o presidente, mas os eleitores dele como se fossem idiotas. Na condição de deputado, tenho que zelar pela educação isenta”, destaca Engler.
A docente diz que vai processar o parlamentar. “Estamos vivendo em uma ditadura em que os governantes não entendem o verdadeiro valor da educação pública. O deputado não sabe sua função no legislativo. Deveria estar preocupado com o bem-estar da população”, completou Adriene. (Lucas Henrique Gomes)
Secretaria e sindicato defendem a liberdade de pensamento
A Secretaria Municipal de Educação de Contagem informou, por meio de nota, que obedece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), entre outras bases curriculares já consolidadas. A pasta declarou ainda que se baseia na valorização dos diferentes povos, culturas, territórios e tradições, bem como na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento.
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) se solidarizou com a professora Adriene Gomes e destacou que a escola não pode abrir mão de seu caráter crítico, laico e democrático em razão do descontentamento pessoal de um ou outro indivíduo que não compreende o papel da ciência.
Manifesto em defesa dos educadores
Pais e estudantes dos colégios Santo Agostinho e Loyola, em Belo Horizonte, protestaram nesta terça-feira (22) em defesa da liberdade na educação e contra a censura nas salas de aula. As duas escolas se envolveram, em 2018 e 2019, respectivamente, em polêmicas sobre o ensino de conteúdos chamados de “ideológicos”por alguns pais. No ano passado, uma ação civil pública questionou o Colégio Santo Agostinho na Justiça por conta de um material relacionado à “ideologia de gênero”.
O manifesto começou no Colégio Santo Agostinho e terminou com um abraço simbólico no Colégio Loyola, ambos na região Centro-Sul da capital. Pais e alunos leram uma carta de apoio aos educadores. “Há um grupo de pais querendo censurar o ensino. Precisamos da pluralidade”, afirmou a advogada Susana Ribeiro, 51.
Entenda o Escola Sem Partido
Projeto
Na última semana, a Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou em primeiro turno o projeto de lei Escola sem Partido. Foram 25 votos favoráveis, sete contrários e uma abstenção. Trinta e três vereadores votaram.
Tramitação
Antes de chegar até as mãos do prefeito Alexandre Kalil (PSD), o texto ainda tem que ser aprovado em segundo turno. Agora, o projeto volta para as comissões da câmara para somente depois seguir para a votação em segundo turno. Por enquanto, não há previsão de quando o PL voltará a ser discutido entre os vereadores.
Projeto
Assinado por 21 vereadores da bancada cristã, o Escola Sem Partido defende que o ensino seja baseado em princípios como neutralidade política, ideológica e religiosa. O texto diz ainda que o poder público não deve se envolver na orientação sexual dos alunos.
Polêmica
O projeto foi discutido em plenário desde o início do mês. A oposição obstruiu a pauta durante 13 reuniões. A reunião foi fechada, sem presença da população nas galerias, e sem transmissão em telão. Reuniões ordinárias e extraordinárias foram marcadas por empurrões entre vereadores e confronto entre manifestantes.
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