Um crucifixo de madeira é um dos elos da fé entre dezenas de fiéis de Belo Horizonte à história de caridade de Irmã Dulce, que será canonizada pelo papa Francisco. Chamado de relíquia, o objeto tem uma “partícula” da pele da beata. A lembrança foi enviada do santuário dedicado à santa, na Bahia, para a Paróquia Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, no Aglomerado da Serra, Centro-Sul da capital mineira.
Por lá, uma grande festa acontece neste domingo, às 10h – mesmo horário da cerimônia na Praça de São Pedro, no Vaticano. Devotos liderados pelo padre João Batista Silva estarão reunidos por nove horas para celebrar a honraria máxima da Igreja Católica, que será concedida à brasileira. Haverá momentos de louvor e oração.
“A partir do dia 13, ela será apresentada ao mundo como santa, modelo de virtude, caridade. Enquanto beatificada, era só em âmbito nacional. Agora, entra na lista dos santos da igreja”, diz o padre João Batista.
A festa da paróquia acontece das 10h às 19h, na Escola Municipal Senador Levindo Coelho (rua Caraça, n° 910 – Serra)
Fé
Prova viva da intercessão de Irmã Dulce, a moradora da Serra, Terezinha Barroso, de 80 anos, conta, com os olhos marejados, a graça alcançada após uma prece feita à beata. Segundo a aposentada, desde a infância médicos não conseguiam colher sangue em seus braços. “Eles colocavam a agulha e não saía uma gota”.
Em 2017, ela foi a uma missa, na comunidade, e fez uma oração. “Estava sentada, de olhos fechados, e disse: ‘Irmã Dulce dos pobres, quantos anos não sai sangue neste braço?’. No outro dia, fiz um exame e deu certo. Chorei muito. Minha filha perguntou se estava doendo, mas falei que era a bênção alcançada”, conta.
Também devoto de Irmã Dulce, Adilson Alves Pereira, de 46 anos, se inspira na caridade. “Gosto do trabalho, de ajudar. Se conseguir fazer um pouquinho do que ela fez, já me sinto feliz”. Ele, a esposa e os dois filhos participam de ações solidárias no aglomerado.
Padre João Batista mostra relíquia em homenagem à santa
Festa
A festa promovida pela Paróquia Bem-Aventurada Dulce dos Pobres acontece das 10h às 19h, na Escola Municipal Senador Levindo Coelho. A entrada é gratuita. Apresentações musicais também estão previstas, além de barraquinhas com comidas típicas.
De acordo com o padre João Batista, a capela foi erguida em 2012. “Se ela morasse em BH, certamente seria aqui, no aglomerado”.
Ações de caridade ocorrem durante todo o ano nas nove comunidades que integram a paróquia. Fraldas geriátricas e cestas básicas são os itens mais doados. Quem quiser ajudar pode entregar os produtos na secretaria paroquial, localizada na rua Serenata, n°67, no Serra.
História
Irmã Dulce nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador, e faleceu em 15 de março de 1992. Durante a trajetória de fé, teve como marca a caridade. “Ela fez uma opção preferencial pelos pobres, pelos menos favorecidos”, afirma o padre João Batista Silva.
Em 10 de dezembro de 2010, o então papa Bento XVI decretou a beatificação de Irmã Dulce, após o reconhecimento de um milagre. A graça ocorreu em Itabaiana, no Sergipe. Uma mulher, após dar à luz ao segundo filho, sofreu uma forte hemorragia por dezoito horas. O sangramento não cessou nem com cirurgias e um padre foi levado pela família até o local. A intercessão de Irmã Dulce foi pedida e, dias depois, a mulher estava curada.
A situação foi analisada por dez médicos brasileiros e seis italianos. Nenhum conseguiu explicar o motivo da melhora. A Irmã ainda teve mais um milagre reconhecido, em maio deste ano – a cura de uma cegueira causada por glaucoma, em 2014. Após a confirmação, o papa Francisco deu início ao processo de canonização.
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