O Brasil amanheceu neste domingo (29) com um de seus passatempos preferidos: falar da sexualidade alheia. Desta vez, no entanto, o alvo das conversas que desejou publicizar algo tão íntimo. Massacrado há anos com fofocas, suposições e cobranças sobre sua sexualidade, Reynaldo Gianecchini concedeu entrevista riquíssima à jornalista Ruth de Aquino, do grupo Globo, publicada hoje no caderno Ela.
“Sempre me cobraram muito: ‘quando é que você vai sair do armário?’ Acho essa expressão cafona, ultrapassada e preconceituosa”, afirma o ator, que desempenha o papel de Regis na novela global Dona do Pedaço. “Minha sexualidade não cabe numa gaveta. Reconheço em mim o homem, a mulher, o hétero, o gay, o bi. Gênero e idade não definem o desejo”, diz em outro trecho.
Após se curar de um câncer agressivo, passando por transplante de medula e quimioterapia, Gianecchini resolveu dar importantes lições durante a longe entrevista, que durou cerca de 2h. “O que falta olhar com uma lupa é a repressão. Todo mundo perdeu tempo querendo agradar e ser validado, se encaixar no que foi estabelecido como correto. As mulheres foram massacradas, e os homens também, porque tinham que ser os fodões, os bons de esporte, pirocudos, provedores, os que não choram”, afirmou.
“E aí, como você faz com uma criança que nem eu, que nasce numa família totalmente feminina e sempre foi muito sensível? Eu tinha pânico de ser chamado de viadinho. Um documentário que indico a todos os meus amigos com filho menino se chama ‘The mask you live in’. O índice de suicídios de meninos é impressionante. Eu me identifiquei, chorei muito. Não conseguia nem jogar bola direito, travava. Era coisa de menino e eu gostava de jogar vôlei. O homofóbico é aquele que não quer olhar para a própria sexualidade. Para quem está bem com a sua, não importa a do outro”, complementou.
“Todo mundo fala da minha sexualidade, né? Me cobram muito, ‘quando é que você vai sair do armário?’. Primeiro, quero falar para essas pessoas: antes de você achar tão interessante a sexualidade dos outros, dá uma olhadinha na sua. Talvez ela tenha mais nuances do que você pensa. Eu reconheço todas as partes dentro de mim: o homem, a mulher, o gay, o hétero, o bissexual, a criança e o velho. Como dentro de todo mundo. A sexualidade é muito mais ampla e as pessoas são levianas”, comentou.
Ao ser questionado sobre já ter transado com outros homens, o ator global respondeu: “Já tive, sim, romances com homens e acho que é esse o momento de dizer isso. Mas nunca me senti obrigado a empunhar bandeira de homossexualidade. O desejo para mim não passa pelo gênero e nem pela idade. Demorei para falar porque isso esbarra sempre no tamanho do preconceito no Brasil. Mas agora é importante reafirmar a liberdade, por mim e por quem enfrenta repressão”.
A entrevista completa você pode ler aqui.
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