A crise ambiental provocada pelo aumento dos incêndios na Amazônia brasileira se refletiu com força no mercado financeiro. Nesta quarta-feira, um total de 230 fundos de investimento internacionais que juntos administram 16 trilhões de dólares (cerca de 65 trilhões de reais) –valor equivalente a cerca de nove vezes o PIB do país em 2018– publicaram um manifesto, colocando mais pressão para que o Governo brasileiro apresente medidas efetivas para proteger a floresta amazônica e deter o desmatamento. O manifesto foi divulgado no mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas (ONU) vetou o discurso do presidente Jair Bolsonaro ou de um representante brasileiro na cúpula do clima da próxima semana em Nova York. A justificativa é que o Brasil não apresentou um plano concreto e inspirador de aumento do compromisso de enfrentar a mudança climática.
Em um contexto de aumento da degradação e de debilidade na fiscalização ambiental no Brasil, empresas e fundos de investimento manifestaram preocupação com o impacto financeiro que o desmatamento na Amazônia pode ter nas empresas nas quais possuem participações, o que poderia aumentar os riscos de reputação, operacionais e regulatórios.
Os 230 fundos de investimento que colocaram mais pressão no Governo Bolsonaro nesta quarta-feira pedem às empresas que “redobrem seus esforços e demonstrem um claro compromisso de eliminar o desmatamento em suas operações e cadeias de abastecimento”. Trata-se de um grupo grande que investe um valor em torno de nove vezes o PIB brasileiro do ano passado. Nesse sentido, seu manifesto pode ter uma força importante para alertar as empresas que são coniventes com o desmatamento.
A responsabilidade ambiental, social e de governança (conhecida sob a sigla em inglês ESG) é um critério crescente nas carteiras de fundos de investimento em todo o mundo, como reflexo dos grupos de pressão na sociedade organizados em torno da luta contra a mudança climática. Na semana passada, grupos liderados pela ESG disseram que a onda de incêndios no Brasil entrou no radar.
O Brasil registrou entre janeiro e a terceira semana de agosto um total de 71.497 focos de incêndio, o maior número do mesmo período nos últimos sete anos, e pouco mais da metade ocorreu na maior floresta tropical do mundo. “Considerando o aumento das taxas de desmatamento e os recentes incêndios na Amazônia, estamos preocupados que as empresas expostas ao possível desmatamento em suas operações e cadeias de abastecimento brasileiras tenham cada vez mais dificuldades para ter acesso aos mercados internacionais”, diz a nota conjunta dos 230 fundos de investimento.
Eles se juntam a mais empresas e outros fundos de investimento que já tinham reagido nas últimas semanas contra a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro. O presidente minimizou a mudança climática e o desmatamento ilegal, assim como rejeitou as críticas de países como França e Alemanha. Sem um plano ambicioso para enfrentar a mudança climática, o presidente nem sequer poderá discursar na cúpula da ONU na próxima semana. A Organização havia solicitado aos países que apresentassem um plano com seus compromissos climáticos e selecionou os 63 que tinham os discursos mais inspiradores. O Brasil ficou fora dessa lista, assim como os Estados Unidos e outros países.
A crise ambiental brasileira se tornou um golpe na imagem internacional do país. Há pouco menos de duas semanas, a gigante da moda H&M anunciou a suspensão, com efeito imediato, da compra de couro brasileiro. Alegou “a conexão dos graves incêndios da Amazônia com a pecuária”. A decisão, segundo a empresa, ficará em vigor “até que existam sistemas de controle confiáveis de que o couro não contribui para os danos ambientais na Amazônia”.
O Brasil sofre uma campanha de boicote aos seus produtos, promovida por empresas internacionais que têm uma clientela cada vez mais preocupada com a mudança climática. Além da H&M, as empresas VFcorp, Vans e The North Face também anunciaram que deixariam de comprar couro brasileiro.
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