Hoje, nossos avós vivem, em média, 30 anos a mais do que viviam os avós deles. A expectativa de vida média das mulheres de 65 anos, segundo o IBGE, é de 20 anos e um mês, e dos homens com essa mesma idade, de 16 anos e nove meses. Mas não apenas longevidade, os avanços tecnológicos e na área da medicina permitem que a considerada melhor idade seja vivida com qualidade. Não à toa, os avós de hoje estão cada vez mais ativos e fazendo a diferença na sociedade.
É por isso a imagem da vovó indefesa na cadeira de rodas, sempre a tricotar, tem se tornando cada vez mais distante da realidade. O que não significa que os trabalhos manuais desabonem a figura dos avós. Mas é que eles não são exclusivos a esta faixa etária e, tampouco, são as únicas tarefas desprendidas pelos avós de hoje.
Nesta sexta-feira (29), é comemorado o Dia dos Avós no Brasil e em Portugal. A data foi escolhida porque neste dia também são celebrados Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo.
Conheça abaixo, quatro avós mineiros que são inspirações para todas as idades:
1. Avô 4.0
O gestor da Faculdade Kennedy em Venda Nova e administrador de empresas Sérgio Ferreira, de 59 anos, é avô de primeira viagem e não esconde a emoção que surgiu com a chegada de Bernardo, que tem cinco meses. Na unidade onde trabalha, todos já conhecem o pequeno.
"Diferente daquele avô tradicional, aposentado e de pijama, eu, como um avô 4.0, me preocupo muito com a perspectiva de futuro e com a velocidade que as coisas acontecem hoje, neste mundo cibernético. E justamente por conviver com a juventude e estar neste mundo universitário, que quero estar preparado para encurtar caminhos para o meu neto. E ensiná-lo que vale a pena trabalhar sim, de manhã até a noite, mas vale a pena curtir a vida também e, principalmente, estudar", comenta.
A rotina agitada de trabalho não reduz a convivência com a família ou com os netos, e a o mundo moderno ajuda a encurtar a distância. Sérgio viu a carinha de Bernardo logo após ele nascer por meio de video-conferência. Ele também tem acesso à câmera de babá eletrônica que fica no quartinho do neto para acompanhar a rotina do bebê.
"Mas quando ele está no meu colo, eu não consigo explicar. Ser avô é uma coisa de louco. É melhor ainda do que ser pai. É como se fosse uma segunda oportunidade, porque agora, com a maturidade que tenho hoje, não vou repetir erros e vou ajudar no que eu puder. A criação é da minha filha e do meu genro, claro. Eu vou é curtir muito ele. Sabe aquele papo de que avô estraga os netos? Eu não vou estragar o meu neto não, eu vou ensinar ele a ser homem, a ser cidadão", conclui.
2. A vida começa aos 60
A empresária e cabeleireira Dade Viana, de 60 anos, tem um salão de beleza instalado no bairro Cidade Nova, em BH, há 40 anos, e não pensa em parar de trabalhar tão cedo. Mãe de duas mulheres e avó de uma garotinha de 1 ano, ela mora sozinha, mas é cercada de amigos.
"Eu adoro ser vó, e não sou vó só da minha neta. Eu viajo o mundo interagindo com as crianças", revela. Suas últimas viagens foram para a Espanha e Índia no ano passado, e no início deste ano, para o Amazonas.
Mas além de viajar pelo mundo e administrar o próprio negócio, Dade também integra um grupo de palhaços de rua e ainda criou a Confraria do Abraço, um grupo só para mulheres trocarem experiências, ideias, desabafos e abraços. "Eu gosto de lidar com gente", conclui.
A vovó Dade curtindo sua viagem à Índia
3. Exercícios físicos são terapia e remédio
Ex-professora de yoga, Maura Lúcia do Nascimento, de 71 anos, é avó de quatro netos entre 11 e 22 anos, e achou que teria que parar de fazer exercícios físicos após passar por uma cirurgia de hérnia de disco e desenvolver um quadro de osteoporose. Mas foi justamente a musculação que a ajudou a reverter o problema e ter uma vida melhor.
De segunda a sexta e, eventualmente, aos sábados também, ele vai na academia onde faz musculação, dança e natação. E se sente em plena forma.
"Exercício físico é opcional somente para os jovens, para os idosos é obrigatório, porque é remédio. Sem falar na troca que acontece com as pessoas mais jovens na academia, o que eu acho importantíssimo, porque ajuda a gente a entender o mundo. Você aprende a escutar música alta e não só as músicas da sua época, você ouve Anitta, conversa com pessoas mais jovens. Hoje mesmo eu fui à academia com a minha filha e a minha neta, e é uma troca maravilhosa", comenta.
Além dos exercícios, Maura Lúcia também continua se dedicando a atividades voluntárias, que exerce desde quando era jovem. "Já fiz trabalhos voluntários no presídio feminino, em hospital, hoje eu faço na creche. Realizamos bazares beneficentes e também oficinas de artesanato, por exemplo, de amigurumi. Além de ajudar outras pessoas, é uma terapia", revela.
Divulgação/ Agência Click / N/A
4. Crochê por um mundo melhor
As flores de crochê produzidas pela ex-funcionária pública e decoradora Odette Castro, de 62 anos, avó de Ana Catarina, de 1 ano e 6 meses, além de enfeitar as árvores do bairro Sion, onde mora, também contam histórias. O projeto criado por ela, "Uma flor cura uma dor", começou em março do ano passado, a partir da percepção de que o discurso de ódio na vizinhança estava aumentando.
"Eu faço crochê desde os cinco anos de idade mas não sou crocheteira. Na verdade, o meu crochê é terapêutico. Nele, eu vou tecendo alegrias, dúvidas, tristezas. E aí passei a fazer uma flor de crochê por dia e colocar em uma árvore, e com este trabalho fui percebendo como as pessoas são carentes de afeto urbano. O retorno que tenho disso é muito positivo, tem pessoas que me agradecem, gente que conta que estavam passando por um mau momento e quando viu a flor se encheu de esperança. E também recebo pedidos até de fora do país para costurar uma flor sobre alguma causa ou homenagem a alguém", relata.
Os motivos que movem a produção das flores são inúmeros. Odete já crochetou em protesto contra o alto número de feminicídios no país e também por causa do rompimento da barragem em Brumadinho, para citar alguns exemplos. "Sempre focada em inclusão e contra o preconceito, a favor do amor", conclui.
Odette encontrou no crochê uma forma de curar a sua dor e a de outras pessoas
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